“Para mim, chegar lá e estar indo para lá não está mudando muita coisa” (Gilberto Gil). Certo, ou errado?
A frase, dita por Gilberto Gil em entrevista quando eleito para a Academia Brasileira de Letras, foi criticada por um desavisado. Mas errado estava ele, não o Cantor.
O pronome mim só pode ser utilizado como complemento verbal ou nominal, nunca como sujeito, é a regra. Como sujeito, usa-se “eu“.
Ex: Dê isso para mim.
Deixe isso para eu fazer.
Na primeira frase, o pronome é o complemento verbal denominado objeto indireto.
Não segunda, o pronome é o agente, denominado sujeito.
Muito simples; não é?
Mas o crítico se enganou, porque Gilberto Gil utilizou, e muito bem, a ordem inversa. Em ordem direta, ele teria dito: “Chegar lá e estar indo para lá não está mudando muita coisa para mim“. Aí o pronome mim não está como sujeito, mas como objeto indireto de “mudando muita coisa”. É de se observar que, na ordem inversa, é obrigatório o uso da vírgula separando as partes invertidas da frase.
Em regra, como eu disse, usa-se como sujeito o pronome “eu“; mas há uma exceção:
Quando o complemento verbal é uma oração inteira, em vez de usarmos “eu”, usamos o oblíquo “me”.
Em vez de “Ela viu eu chegando”, o correto é “Ela viu-me chegando”, ou “Ela me viu chegando”. O “me” funciona como sujeito da oração objetiva.
Assim sendo, posso dizer que, para mim, entender isso não é difícil, como não será difícil para você, se ler com atenção.