Acreditar que haja um ser todo poderoso e justo que vá nos recompensar por tudo
de bom que fizermos e dar-nos uma vida eterna, sem qualquer
sofrimento é muito melhor do que aceitar que estamos em um campo de batalha
competindo com milhões de adversários e que, por muito que vençamos, um dia
seremos irremediavelmente derrotados pela morte. Todavia, embora eu o
desejasse, isso me tornou impossível diante do encontrei na dita palavra divina.
Eu não seria ateu
Pelo simples fato de haver tantas pessoas muito religiosas, mas de
comportamentos reprováveis, como apropriar-se de coisas alheias;
Nem ainda por ser a religião o maior subterfúgio dos grandes fraudadores da
boa-fé da população;
Nem por haver milhares de igrejas, cada uma com uma doutrina,
pregando a vontade de Deus de formas diversas;
Nem por serem as religiões a maior causa de guerras em todas as fases da
história;
Nem mesmo em razão de os períodos mais brutais terem os ocorridos sob domínios
político-religiosos;
MAS
É assaz debilitante da fé a chamada palavra de Deus afirmar que um deus
onipotente, onisciente, perfeito, justo e bom vingue “a iniqüidade dos pais nos
filhos até a terceira e a quarta geração” (Deuteronômio, 5: 9).
Já o grande número de contradições e afirmações anticientíficas e outras
absurdas, que nos revela ser a dita palavra divina
produto das concepções humanas da época em que foi escrita é mais do que
suficiente para ruir todo o resto de fé. Um deus com as qualidades atribuídas
pela Bíblia não se poderia deixar anunciar por afirmações
equivocadas, contraditórias, injustas ou absurdas.
Se o que se chama palavra de Deus está impregnada dessas características de
atraso social, não consigo achar razão para crer em qualquer divindade. Se essa
palavra está vazia de prova da existência de divindade, e não encontrei qualquer
outro fator que possa considerar manifestação divina, repetindo Luis Buñuel,
“continuo ateu graças a Deus.”
Acreditar que haja um ser todo poderoso e justo que vá nos recompensar por tudo
de bom que fizermos e dar-nos uma vida eterna, sem qualquer
sofrimento é muito melhor do que aceitar que estamos em um campo de batalha
competindo com milhões de adversários e que, por muito que vençamos, um dia
seremos irremediavelmente derrotados pela morte.
Todavia, sem um suporte lógico em que firmar a nossa crença na existência desse
ser maravilhoso, não consigo enganar a mim mesmo para ser feliz.
Por outro lado, nem sempre vejo tanta felicidade em quem acredita que terá um
dia essa vitória final (se muitos dos suicidas crêem em Deus, isso mostra que
poucas vezes a fé traz felicidade). Aceito a vida com seus momentos felizes e os
infelizes, tentando fazer que os primeiros superem os últimos.
Apesar da existência de todos os males praticados em nome de Deus, eu não seria
ateu, se a chamada “palavra de Deus” não me informasse que não existe um deus.
Seria muito agradável me sentir protegido. Entretanto, além de os fatos me
mostrarem que nenhum crente é protegido, a palavra divina cheia de equívocos nos dá certeza de que
esse ser protetor é produto do pensamento primitivo, o que me impede de
acreditar. Em suma, independente de ser ele bom ou ruim, eu não seria
ateu, se encontrasse indício da existência de um deus.