Flavius Josephus
(37 d.C. – 103 d.C.) — era um fariseu que nasceu em Jerusalém, vivia em Roma e
escreveu História dos judeus (79 d.C.) e Antiguidades dos judeus (93 d.C.).
Apologistas cristãos (defensores da fé) consideram o testemunho de Josephus
sobre Jesus a única evidência garantida da historicidade de Jesus. O testemunho
citado se encontra em Antiguidades dos judeus. Ao contrário dos apologistas,
entretanto, muitos estudiosos, inclusive os autores da Encyclopedia Britannica,
consideram o trecho uma inserção posterior feita por copistas cristãos. Ele diz
que:
"Naquele tempo, nasceu Jesus, homem sábio, se é
que se pode chamar homem, realizando coisas admiráveis e ensinando a todos os
que quisessem inspirar-se na verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus,
como por alguns gregos, Era o Cristo. Sendo acusado por nossos chefes, do nosso
país ante Pilatos, este o fez sacrificar. Seus seguidores não o abandonaram nem
mesmo após sua morte. Vivo e ressuscitado, reapareceu ao terceiro dia após sua
morte, como o haviam predito os santos profetas, quando realiza outras mil
coisas milagrosas. A sociedade cristã que ainda hoje subsiste, tomou dele o nome
que usa."
Por que este trecho é considerado uma inserção
posterior?
Josephus era um fariseu. Só um cristão diria que
Jesus era o Cristo. Josephus teria tido que renunciar às suas crenças para dizer
isto, e Josephus morreu ainda um fariseu.
Josephus costumava escrever capítulos e mais
capítulos sobre gente insignificante e eventos obscuros. Como é possível que ele
tenha despachado Jesus, uma pessoa tão importante, com apenas algumas frases?
Os parágrafos antes e depois deste trecho descrevem
como os romanos reprimiram violentamente as sucessivas rebeliões judaicas. O
parágrafo anterior começa com “por aquela época, mais uma triste calamidade
desorientou os judeus”. Será que “triste calamidade” se refere à vinda do
“realizador de mil coisas milagrosas” ou aos romanos matando judeus? Esta
suposta referência a Jesus não tem nada a ver com o parágrafo anterior. Parece
mais uma inclusão posterior, fora de contexto.
Finalmente, e o que é ainda mais convincente, se Josephus realmente tivesse feito esta referência a Jesus, os Pais da Igreja
pelos 200 anos seguintes certamente o teriam usado para se defender das
acusações de que Jesus seria apenas mais um mito. Contudo, Justino, Irineu,
Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes nunca citam este trecho. Sabemos
que Orígenes leu Josephus porque ele deixou textos criticando Josephus por este
atribuir a destruição de Jerusalém à
morte de Tiago. Aliás,
Orígenes declara
expressamente que Josephus, que falava de João Batista, nunca reconheceu Jesus
como o Messias (”Contra Celsum”, I, 47).
Não somente a referência de Josephus a Jesus parece
fraudulenta como outras menções a fatos históricos em seus livros contradizem e
omitem histórias do Novo Testamento:
A Bíblia diz que João Batista foi morto por volta
de 30 d.C., no início da vida pública de Jesus. Josephus, contudo, diz que
Herodes matou João durante sua guerra contra o rei Aertus da Arábia, em 34 – 37
d.C.
Josephus não menciona a celebração de Pentecostes
em Jerusalém, quando, supostamente: judeus devotos de todas as nações se
reuniram e receberam o Espírito Santo, sendo capazes de entender os apóstolos
cada qual em sua própria língua; Pedro, um pescador judeu, se torna o líder da
nova igreja; um colega fariseu de Josephus, Saulo de Tarso, se torna o apóstolo
Paulo; a nova igreja passa por um crescimento explosivo na Palestina,
Alexandria, Grécia e Roma, onde morava Josephus. O suposto martírio de Pedro e
Paulo em Roma, por volta de 60 d.C., não é mencionado por Josephus. Os
apologistas cristãos, que depositam tanta confiança na veracidade do testemunho
de Josephus sobre Jesus, parecem não se importar com suas omissões posteriores."
(Lee Salisbury, History's Troubling Silence About Jesus).