Ele foi rejeitado por seu próprio povo, os judeus, e brutalmente crucificado
pelos romanos. Mas isto não deteve Jesus. A Bíblia nos diz que, ao ser
crucificado, céus e terra confirmaram sua divindade, causando
um eclipse do
sol de 3 horas em toda a terra, um terremoto que fez com que a
cortina do templo em Jerusalém se rasgasse ao meio e que túmulos se abrissem
e homens santos ressuscitassem e aparecessem às pessoas em Jerusalém. Três
dias depois, o Filho de Deus derrotou o Diabo, o príncipe das trevas,
ressuscitou dos mortos, apareceu a seus discípulos e então subiu aos céus. Como
é possível alguém não gostar desta história nem desejar acreditar nela?
O problema que pesquisadores sinceros e com mentes objetivas têm com esta
história espantosa é: por que os registros
históricos de escritores gregos, romanos e judeus não cristãos praticamente não
dizem nada sobre Jesus de Nazaré? Certamente que notícias sobre
acontecimentos como esses, se fossem verdadeiras, teriam se espalhado por todo o
mundo mediterrâneo. E, no entanto, os escritos que sobreviveram, de uns 35 a
40 observadores independentes durante os primeiros 100 anos que se seguiram à
suposta crucificação e ressurreição de Jesus, praticamente não confirmam nada.
Estes autores eram respeitados, viajados, sabiam se expressar, observavam e
analisavam os fatos, eram os filósofos, poetas, moralistas e historiadores
daquela época. Entre as mais destacadas personalidades que não mencionam Jesus,
temos:
Sêneca (4 a.C. – 65
d.C.) — Um dos mais famosos autores romanos sobre ética, filosofia e moral e
um cientista que registrou eclipses e terremotos. As cartas que teria
trocado com Paulo se revelaram uma fraude, mais tarde.
Plínio, o velho (23
d.C. – 79 d.C.) — História natural. Escreveu 37 livros sobre eventos como
terremotos, eclipses e tratamentos médicos.
Quintiliano (39 d.C.
– 96 d.C.) — Escreveu Instituio Oratio, 12 livros sobre moral e virtude.
Epitectus (55 d.C. –
135 d.C.) — Ex-escravo que se tornou renomado moralista e filósofo e escreveu
sobre a “irmandade dos homens” e a importância de se ajudarem os pobres e
oprimidos.
Marcial (38 d.C. –
103 d.C.) — Escreveu poemas épicos sobre as loucuras humanas e as várias
personalidades do império romano.
Juvenal (55 d.C. –
127 d.C.) — Um dos maiores poetas satíricos de Roma. Escreveu sobre injustiça e
tragédia no governo romano.
Plutarco (46 d.C. –
119 d.C.) — Escritor grego que viajou de Roma a Alexandria. Escreveu “Moralia”,
sobre moral e ética.
Três romanos cujos escritos contêm referências mínimas a Cristo, Cresto ou
cristãos:
Plínio, o jovem (61
d.C. – 113 d.C.) — Foi proconsul da Bitínia (atual Turquia). Numa carta ao
imperador Trajano, em 112 d.C., pergunta o que fazer quanto aos cristãos que se
reúnem regularmente antes da aurora, em dias determinados, para cantar louvores
a Cristo como se ele fosse um deus. Uns oitenta anos depois da morte de Jesus,
alguém estava adorando a um Cristo (messias, em hebraico)! Entretanto, nada se
diz sobre se este Cristo era Jesus, o mestre milagreiro que foi crucificado e
ressuscitou na Judéia ou se um Cristo mitológico das religiões pagãs de
mistério. O próprio Jesus teria dito que haveria muitos falsos Cristos, portanto
a afirmação de Plínio não contribui em muito para demonstrar que o Jesus de
Nazaré existiu.
Suetônio (69 d.C. –
122 d.C.) — Em A vida dos imperadores, com a história de 11 imperadores, ele
conta, em 120 d.C., sobre o imperador Cláudio (41 d.C. – 54 d.C.), que ele
expulsou de Roma os judeus que, sob a influência de Cresto, viviam causando
tumultos. Quem é Cresto? Não há menção a Jesus. Seria este Cresto um agitador
judeu, um dos muitos falsos messias, ou um Cristo mítico? Este trecho não prova
nada sobre a historicidade de um Jesus de Nazaré.
Tácito (56 d.C. – 120
d.C.) — Famoso historiador romano. Seu Annuals, referente ao período 14-68 d.C.,
Livro 15, capítulo 44, escrito por volta de 115 d.C., contém a primeira
referência a Cristo como um homem executado na Judéia por Pôncio Pilatos. Tácito
declara que Cristo, o fundador, sofreu a pena de morte no reino de Tibério, por
ordem do procurador Pôncio Pilatos. Os estudiosos apontam várias razões para se
suspeitar de que este trecho não seja de Tácito nem de registros romanos, e sim
uma inserção posterior na obra de Tácito:
A referência a Pilatos como procurador seria apropriada na época de Tácito, mas,
na época de Pilatos, o título correto era prefeito.
Se Tácito escreveu este trecho no início do segundo século, por que os Pais da
Igreja, como Tertuliano, Clemente, Orígenes e até Eusébio, que tanto procuraram
por provas da historicidade de Jesus, não o citam?
Tácito só passa a ser citado por escritores cristãos a partir do século 15.
O que é claro e indiscutível é que um período de 80 a 100 anos sem nenhum
registro histórico confiável, depois de fatos de tal magnitude, é longo o
bastante para levantar suspeitas. Além do mais, é insuficiente citar três
relatos tão curtos e tão pouco informativos para provar que existiu um messias
judeu milagreiro chamado Jesus que seria Deus em forma humana, foi crucificado e
ressuscitou.
Há três autores judeus importantes do primeiro século:
Philo-Judaeus (15
a.C. – 50 d.C.) — de Alexandria, era um teólogo-filósofo judeu que falava grego.
Ele conhecia bem Jerusalém porque sua família morava lá. Escreveu muita coisa
sobre história e religião judaica do ponto de vista grego e ensinou alguns
conceitos que também aparecem no evangelho de João e nas epístolas de Paulo. Por
exemplo: Deus e sua Palavra são um só; a Palavra é o filho primogênito de Deus;
Deus criou o mundo através de sua palavra; Deus unifica todas as coisas através
de sua Palavra; a Palavra é fonte de vida eterna; a Palavra habita em nós e
entre nós; todo julgamento cabe à Palavra; a Palavra é imutável.
Philo também ensinou sobre Deus ser um espírito, sobre a Trindade, sobre virgens
que dão à luz, judeus que pecam e irão para o inferno, pagãos que aceitam a Deus
e irão para o céu e um Deus que é amor e perdoa. Entretanto, Philo, um judeu
que viveu na vizinha Alexandria e que teria sido contemporâneo a Jesus, nunca
menciona alguém com este nome nem nenhum milagreiro que teria sido crucificado e
depois ressuscitou em Jerusalém, sem falar em eclipses, terremotos e santos
judeus saindo dos túmulos e andando pela cidade. Por que? O completo
silêncio de Philo é ensurdecedor!
Flavius Josephus (37
d.C. – 103 d.C.) — era um fariseu que nasceu em Jerusalém, vivia em Roma e
escreveu História dos judeus (79 d.C.) e Antiguidades dos judeus (93 d.C.).
Apologistas cristãos (defensores da fé) consideram o testemunho de Josephus
sobre Jesus a única evidência garantida da historicidade de Jesus. O testemunho
citado se encontra em Antiguidades dos judeus. Ao contrário dos apologistas,
entretanto, muitos estudiosos, inclusive os autores da Encyclopedia Britannica,
consideram o trecho uma inserção posterior feita por copistas cristãos. Ele diz
que:
"Naquele tempo, nasceu Jesus, homem sábio, se é que se pode chamar homem,
realizando coisas admiráveis e ensinando a todos os que quisessem inspirar-se na
verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus, como por alguns gregos, Era o
Cristo. Sendo acusado por nossos chefes, do nosso país ante Pilatos, este o fez
sacrificar. Seus seguidores não o abandonaram nem mesmo após sua morte. Vivo e
ressuscitado, reapareceu ao terceiro dia após sua morte, como o haviam predito
os santos profetas, quando realiza outras mil coisas milagrosas. A sociedade
cristã que ainda hoje subsiste, tomou dele o nome que usa."
Por que este trecho é considerado uma inserção posterior?
Josephus era um fariseu. Só um cristão diria que Jesus era o Cristo. Josephus
teria tido que renunciar às suas crenças para dizer isto, e Josephus morreu
ainda um fariseu.
Josephus costumava escrever capítulos e mais capítulos sobre gente
insignificante e eventos obscuros. Como é possível que ele tenha despachado
Jesus, uma pessoa tão importante, com apenas algumas frases?
Os parágrafos antes e depois deste trecho descrevem como os romanos reprimiram
violentamente as sucessivas rebeliões judaicas. O parágrafo anterior começa com
“por aquela época, mais uma triste calamidade desorientou os judeus”. Será que
“triste calamidade” se refere à vinda do “realizador de mil coisas milagrosas”
ou aos romanos matando judeus? Esta suposta referência a Jesus não tem nada a
ver com o parágrafo anterior. Parece mais uma inclusão posterior, fora de
contexto.
Finalmente, e o que é ainda mais convincente, se Josephus realmente tivesse
feito esta referência a Jesus, os Pais da Igreja pelos 200 anos seguintes
certamente o teriam usado para se defender das acusações de que Jesus seria
apenas mais um mito. Contudo, Justino, Irineu, Tertuliano, Clemente de
Alexandria e Orígenes nunca citam este trecho. Sabemos que Orígenes leu Josephus
porque ele deixou textos criticando Josephus por este atribuir a destruição de
Jerusalém à morte de Tiago. Aliás, Orígenes declara expressamente que Josephus,
que falava de João Batista, nunca reconheceu Jesus como o Messias (”Contra Celsum”, I, 47).
Não somente a referência de Josephus a Jesus parece fraudulenta como outras
menções a fatos históricos em seus livros contradizem e omitem histórias do Novo
Testamento:
A Bíblia diz que João Batista foi morto por volta de 30 d.C., no início da vida
pública de Jesus. Josephus, contudo, diz que Herodes matou João durante sua
guerra contra o rei Aertus da Arábia, em 34 – 37 d.C.
Josephus não menciona a celebração de Pentecostes em Jerusalém, quando,
supostamente: judeus devotos de todas as nações se reuniram e receberam o
Espírito Santo, sendo capazes de entender os apóstolos cada qual em sua própria
língua; Pedro, um pescador judeu, se torna o líder da nova igreja; um colega
fariseu de Josephus, Saulo de Tarso, se torna o apóstolo Paulo; a nova igreja
passa por um crescimento explosivo na Palestina, Alexandria, Grécia e Roma, onde
morava Josephus. O suposto martírio de Pedro e Paulo em Roma, por volta de 60
d.C., não é mencionado por Josephus. Os apologistas cristãos, que depositam
tanta confiança na veracidade do testemunho de Josephus sobre Jesus, parecem não
se importar com suas omissões posteriores.
A Encyclopedia Britannica afirma que os cristãos distorceram os fatos ao
enxertar o trecho sobre Jesus. Isto é verdade? Eusébio (265-339 d.C.),
reconhecido como o Pai da história da Igreja e nomeado supervisor da doutrina
pelo imperador Constantino, escreve em seu Preparação do evangelho, ainda hoje
publicado por editoras cristãs como a Baker House, que às vezes é necessário
mentir para beneficiar àqueles que requerem tal tratamento. Eusébio, um dos
cristãos que mais influenciou a história da Igreja, aprovou a fraude como meio
de promover o cristianismo! A probabilidade de o cristianismo de Constantino ser
uma fraude está diretamente relacionada à desesperada necessidade de encontrar
evidências a favor da historicidade de Jesus. Sem o suposto testemunho de Josephus, não resta nenhuma evidência confiável de origem não cristã.
Justus de Tiberíades
é o terceiro escritor judeu do primeiro século. Seus escritos foram perdidos,
mas Photius, patriarca de Constantinopla (878-886 d.C.), escreveu Bibleotheca,
onde ele comenta a obra de Justus. Photius diz que do advento de Cristo, das
coisas que lhe aconteceram ou dos milagres que ele realizou, não há
absolutamente nenhuma menção (em Justus). Justus vivia em Tiberíades, na
Galiléia (João 6:23). Seus escritos são anteriores às Antiguidades de Josephus,
de 93 d.C., portanto é provável que ele tenha vivido durante ou imediatamente
após a suposta época de Jesus, mas é notável que nada tenha mencionado sobre
ele.
A literatura rabínica seria logicamente o outro lugar para se pesquisar a
historicidade de Jesus de Nazaré. O Novo Testamento alega que Jesus é o
cumprimento da profecia judaica sobre o messias, crucificado no dia da Páscoa.
Naquele dia, supostamente houve um terremoto em Jerusalém, a cortina de seu
templo se rasgou de alto a baixo, houve um eclipse do sol, santos judeus
ressuscitaram e andaram pela cidade. Três dias depois, Jesus ressuscitou e
depois subiu aos céus diante de todos. Algum tempo depois, no dia de
Pentecostes, os judeus de várias nações se reuniram e viram o Espírito Santo
descer na forma de línguas de fogo; a igreja cristã se expandiu de forma
explosiva entre judeus e pagãos, com sinais e milagres acontecendo por toda a
parte. Em 70 d.C., Jerusalém foi cercada pelos romanos, que destruíram Israel
como nação e dispersaram os judeus.
Ainda que os rabinos não aceitassem Jesus como o Messias, o impacto dos
acontecimentos à volta de Jesus logicamente teria sido registrado nos
comentários ao Talmud (os midrash). A história e a tradição oral dos judeus
registradas nos midrash foram atualizadas e receberam sua forma final pelo
rabino Jehudah ha-Qadosh por volta de 220 d.C. Em seu livro O Jesus que os
judeus nunca conheceram, Frank Zindler diz que não há uma única fonte rabínica
da época que fale da vida de um falso messias do primeiro século, dos
acontecimentos envolvendo a crucificação e ressurreição de Jesus ou de qualquer
pessoa que lembre o Jesus do cristianismo.
Não há locais históricos na Terra Santa que confirmem a historicidade de Jesus
de Nazaré. Monges, padres e guias turísticos que levam peregrinos cristãos
(aceitam-se doações) aos locais dos acontecimentos descritos na Bíblia
dificilmente podem ser considerados pessoas isentas. Ainda citando Zindler, Não
há confirmação não tendenciosa desses locais. Nazaré não é mencionada nem uma
vez no Antigo Testamento. O Talmud cita 63 cidades da Galiléia, mas não Nazaré.
Josephus menciona 45 cidades ou vilarejos da Galiléia, mas nem uma vez cita
Nazaré. Josephus menciona Japha, que é um subúrbio da Nazaré de hoje. Lucas
4:28-30 diz que Nazaré tinha uma sinagoga e que a borda da colina sobre a qual
ela tinha sido construída era alta o suficiente para que Jesus morresse se o
tivessem realmente jogado lá de cima. Contudo, a Nazeré de nossos dias ocupa o
fundo de um vale e a parte de baixo de uma colina. Não há “topo de colina”. Além
disso, não há nenhum vestígio de sinagogas do primeiro século. Orígenes (182-254
d.C.), que viveu em Cesaréia, a umas 30 milhas da atual Nazaré, também não fala
em Nazaré. A primeira referência à cidade surge em Eusébio, no século 4. O
melhor que podemos imaginar é que Nazaré só surgiu depois do século 2. Esta
falta de evidência histórica parece ser a explicação para o fato de não haver
nenhuma menção a Nazaré em nenhum registro, de nenhuma origem não cristã. Ou
seja, Nazaré não existia no primeiro século.
Não há tempo nem espaço para se falar de outras cidades significativas citadas
no Novo Testamento, mas as evidências históricas e arqueológicas quanto a
Cafarnaum (mencionada 16 vezes no N.T.) e Betânia, ou o Calvário, são, assim
como no caso de Nazaré, igualmente fracas e até mesmo desmentem as Escrituras.
Mentes críticas e objetivas se destacam por procurar confirmação imparcial dos
supostos fatos. Quando a única evidência disponível de um acontecimento ou de
seus resultados é, não apenas questionável e suspeita, mas também aquilo que os
divulgadores do acontecimento ou resultado querem que você acredite, convém
desconfiar. O fato é que os escritores judeus não-cristãos, gregos e romanos das
décadas que se seguiram à suposta crucificação e ressurreição de Jesus nada
dizem sobre ninguém chamado Jesus de Nazaré. Uma pessoa justa sempre estará
disposta a analisar novas evidências, mas, 2 mil anos depois, o cristianismo
continua tendo tantas evidências imparciais sobre Jesus quanto sobre o Mágico de
Oz, Zeus ou qualquer um dos muitos deuses-redentores daquela época.
Lee Salisbury,
nascido em Stillwater, Minesotta, foi um pastor pentecostal de 1972 a 1986. Ele
fundou e dirige o Clube do pensamento crítico em Minesotta, escreve colunas para
www.axisoflogic.com, onde este artigo
foi publicado pela primeira vez, e participa de debates públicos.
Referências
The Jesus the Jews Never Knew, por Frank R. Zindler
Encyclopedia Britannica
Deconstructing Jesus, por Robert Price, Ph.D.
Obras completas de Josephus, tradução de William Whiston, Ph.D.
The Jesus Puzzle, por Earl Doherty
The Jesus Mysteries, por Timothy Freke e Peter Gandy
Autor:
Lee Salisbury
Tradução: Fernando
Silva
Fonte:
History's Troubling Silence About Jesus