A LEI DE DEUS OU LEI DE MOISÉS - DUAS LEIS OU
UMA LEI?
20/10/2002
"...a palavra do nosso Deus permanece eternamente" (Isaías, 40: 8). "Porque
eu, o Senhor não mudo" (Malaquias, 3: 6). "...a minha palavra não tornar
atrás" (Isaías, 45: 23). "Quanto às tuas prescrições, há muito sei que as
estabeleceste para sempre", disse o salmista (Salmos, 119: 152). São essas
as palavras usadas para confirmar que a lei é imutável. São textos que dão muita
força aos que pregam a imutabilidade dos mandamentos divinos. Não obstante as
declarações de imutabilidade, vindas de personagens bíblicos e as que dizem ser
do próprio Deus pelos profeta (Malaquias, 3: 6; Isaías, 40: 8; 45: 23), o Novo
Testamento fala de mudanças. Essas mudanças são criações cristãs, mais
propriamente paulinas, incompatíveis com tudo que se escreveu no velho
testamento.
"Pois quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei"
(Hebreus, 7: 12). O capítulo inteiro fala da mudança do "sacerdócio levítico"
para o de Cristo.
A lei na antiga aliança continha princípio que figuravam a nova aliança,
prescrições "impostas até ao tempo oportuno de reforma", disse Paulo
(Hebreus, 9: 10). Embora queiram algumas religiões negar mudanças, é a própria
Bíblia (novo testamento) que fala de "reforma". Para tentar harmonizar os
textos que falam de imutabilidade e mudança, tenta-se provar a existência de
duas leis distintas, falando-se de "lei moral" ou "lei de Deus" e
"lei cerimonial" ou "lei de Moisés", sendo a primeira contida em
duas tábuas de pedra e a segunda em um livro; divisão esta que, conforme análise
dos textos, não existe. No "livro da lei de Deus" (Neemias, 8: 18),
não consta que haja nada temporário, mas tudo estabelecido por "concerto
perpétuo".
Embora tenha dito, segundo o evangelista, que nada se omitiria da lei, Jesus
teria estabelecido algumas correções:
"Ouvistes o que foi dito aos antigos... eu, porém, vos digo" teria sido a
expressão de Jesus para fazer suas correções em alguns princípios morais da
Velha Aliança. (Mateus, 5: 27 e 28, 38 e 39, 43 a 46). Paulo considerou "desonroso
para o homem usar cabelo comprido" (I Coríntios, 11: 14), enquanto na Velha
Aliança, o "nazireu", pessoa consagrada a Deus, não cortava cabelo
(Números, 6: 5; Juízes, 13: 5).
Para saber se um princípio da lei seria moral ou figurativo, seria necessário estudar
sua natureza, não sendo suficiente alegar que seja "concerto perpétuo",
como fazem os sabatistas; pois as prescrições chamadas de figurativas eram
também por "concerto perpétuo" (Levíticos, 23: 14, 21, 31, 41: 24: 3, 8).
Se uns textos e outros se contradizem, o que é bem comum na Bíblia, os que
pretendem harmonizá-los criam maiores contradições.
Vejam a seguir as considerações a respeito da divisão da lei em duas, uma de
Moisés e outra de Deus. São apenas artifícios criados para defender a eternidade
do sábado.
QUE É A LEI DE DEUS?
Eis a explicação dos sabatistas:
"Há quem afirme, erroneamente, que em Cristo a Lei de Deus perdeu sua
existência. Alto e bom som alertamos, todavia, que a única lei que foi
cancelada, e, por conseguinte, estamos desobrigados dela, é a lei de Moisés, ou
lei cerimonial, escrita num livro (não em pedra) e que constava de ordenanças,
ofertas e holocaustos, cujo objetivo era tirar, de forma provisória, o pecado do
povo - isto, até a chegada do Messias Prometido. (Leia Col. 2: 14)." (O
Único Sinal, folheto da Igreja Batista do Sétimo Dia).
No folheto "AS DUAS LEIS", da Igreja Adventista do Sétimo Dia Movimento
de Reforma, o assunto de duas leis está mais detalhadamente abordado,
estabelecendo distinções entre supostas duas leis.
Mas, na realidade, as expressões "lei moral" e "lei cerimonial"
não existem na Bíblia. Tampouco encontramos a expressão "lei dos dez
mandamentos" ou "tábuas da lei", como dizem os sabatistas; mas
encontramos "tábuas do testemunho" (Êxodo, 31: 18) e "tábuas da
aliança" (Hebreus, 9: 4).
E, analisando os textos que dizem se referirem à "lei de Deus, os dez
mandamentos", notamos que ali não se fala simplesmente de dez mandamentos,
mas de uma lei escrita em um livro.
Vejam-se os exemplos seguintes:
A LEI
"Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim para revogar, vim
para cumprir" (Mateus, 5: 17). Dizem que aqui se fala dos dez mandamentos. É
inegável que se refere a eles; pois nas várias vezes que Cristo disse: "ouvistes
o que foi dito aos antigos", ele citou mandamentos, como, "não matarás"
(vers. 21), "não adulterarás" (vers. 27); todavia mencionou mandamentos
que não estão nas duas tábuas, e sim no livro: "Também foi dito: Aquele que
repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio" (vers. 31; Deuteronômio, 24:
1-4); "olho por olho, dente por dente" (vers. 38; Êxodo, 21: 24). Assim
não podemos dizer que a lei aqui referida se constitua de apenas os dez
mandamentos, mas do livro da lei.
Dizem ser à lei "dos dez mandamentos" que Tiago se refere quando diz: "qualquer
que guarda toda lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos"
(Tiago, 2: 10). Está claro que esses mandamentos fazem parte da suposta lei
referida, como vemos no versículo 11: "Não adulterarás ...Não matarás".
No entanto, a lei não se limita a apenas aqueles dez mandamentos nas duas tábuas
de pedra, porque ele citou "amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Vers.
8; Levíticos, 19: 18). É a lei referida o LIVRO e não as duas tábuas.
A julgar por estes texto, na falta de qualquer referência à chamada "lei dos
dez mandamentos", fica bem claro que a lei é o que está escrito num livro,
sendo os dez mandamentos das duas tábuas apenas uma parte dela. Mas se isto não
é suficiente, cheguei a essa conclusão ao ler Neemias capítulo 8.
"...disseram a Esdras o escriba, que trouxesse o livro da lei de Moisés, que
o Senhor tinha prescrito a Israel" (vers. 1).
"Esdras, o sacerdote, trouxe a lei perante a congregação". (vers. 2).
"E leu no livro... e todo o povo tinha os ouvidos atentos ao livro da lei"
(vers. 3).
"Leram no livro, na lei de Deus" (vers. 8).
"Dia após dia leu Esdras no livro da lei de Deus" (vers. 18).
Não podemos, ao ler esse texto, negar que o "livro da lei de Moisés" (vers.
l) é o "livro da lei de Deus" (vers. 18); muito menos, que a "lei de
Deus" é um "LIVRO", e não duas tábuas de pedra, como afirmam os
sabatistas.
Tendo toda a certeza de que a "lei de Deus" foi escrita em um livro, e
que ela é a mesma chamada "lei de Moisés", resta ao cristão apenas tentar
harmonizar aqueles textos citados sem procurar provar que tratam de duas leis
distintas.
Não existe a lei dos dez mandamentos; pois essa expressão não existe na Bíblia.
Quando Paulo disse que a lei foi dada "por causa das transgressões"
(Gálatas, 3: 19) ele falava da mesma lei pela qual "vem o conhecimento do
pecado" (Romanos, 3:20), citada como lei moral (As Duas Leis, página 7).
Quando disse "agora, porém libertados da lei, estamos mortos para aquilo a
que estávamos sujeito" (Romanos, 7: 6), falava da mesma lei que contém o
mandamento "não cobiçarás" (versículo 7). Não podemos afirmar que num
versículo se diga sobre uma lei e no seguinte se refira a outra, quando se fala,
não em uma e outra, mas "a lei", uma única.
O que se entende pelas palavras de Paulo é que A LEI, única lei, trouxe
mandamentos como os das tábuas de pedra e os de oferecer holocaustos e ofertas
de manjares. Quem é justificado pela fé está livre da lei, no seu dizer, mas
seria absurdo afirmar que quis ele dizer que pudesse sair matando e furtando,
etc., o que justificaria que não estaria liberando o crente da prática dos
sacrifícios também.
Substituir
daqui
As expressão "as leis" se refere a todos preceitos que foram reunidos no
livro chamado "a lei".
Tão claro é isto, que o folheto reformista As Duas Leis, após dizer: "Não
acha o prezado leitor que "as leis" é mais de uma lei?" (página, 5), diz: "A
lei moral acha-se gravada no coração do crente: "... Porei as minhas leis no seu
interior, e as escreverei no seu coração..." (Jr. 31: 33; Hb. 8: 10)"
(página 6). Fala sobre "a lei moral", citando o texto que diz "minhas
leis". Não dizem ser a moral e a cerimonial. Que incoerência!
até aqui
No folheto "Qual o Dia da Semana Guarda e Por Que?", dizem os
reformistas: "O sábado, por ser um sinal da criação, nada tem a ver com os
judeus em particular" (pág. 2). Mas a Bíblia diz que sim: Está escrito
que a guarda do sábado
foi instituída pela primeira vez no deserto do Êxodo (Êxodo, 16: 5 e 22 a 30).
A guarda do sábado, segundo tal texto, instituída como figura do livramento de Israel do cativeiro egípcio e do
repouso na terra prometida, onde não puderam entrar aqueles que foram
desobedientes; pois está escrito: "Assim jurei na minha ira que não entrarão
no meu descanso" (Salmos, 95: 11), isto é "não entrareis na terra, pela
qual jurei que vos faria habitar nela" (Números, 14: 30) que não era o dia
de descanso, mas a terra em que deviam repousar das agruras vividas antes, assim
como do repouso prometido aos cristãos (Hebreus, 4: 1 e 2. Como Josué não pode
dar ao povo um verdadeiro repouso, a promessa foi feita novamente, aos cristãos:
"Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso, não falaria posteriormente a
respeito de outro dia" (Hebreus 4: 8), o que não poderia também ser outro
dia de repouso em lugar do sábado como pensam os guardadores do domingo também,
mas outra promessa de descanso. Os filhos de Israel, "por causa da
desobediência não entraram" (Hebreus, 4: 6) foi na terra prometida. "Não
puderam entrar por causa da incredulidade" (Hebreus, 3: 19). Seria muito
tolo afirmar que Yavé jurasse que eles não guardariam o sábado; pois não era uma
promessa e sim um mandamento. Por isto o mandamento trouxe esta informação: "porque
te lembrarás que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou
dali com mão poderosa, e braço estendido: pelo que o Senhor teu Deus te ordenou
que guardasse o dia de sábado". (Deuteronômio, 5: 15). Se tal acontecimento
foi o motivo pelo qual se ordenou que guardassem o sábado, então se entende por
que nunca se mencionou o sábado em relação à vida de Noé, Abraão, Isaque, Jacó,
etc. A conseqüência não poderia existir antes da causa.
Como os cristãos consideravam que as figuras vigoraram apenas no antigo pacto,
Paulo disse: "ninguém mais vos julgue por causa" de "sábados" (Colossenses,
2:16). Dizem que os sábados aqui mencionados são os dias comemorativos em que
também havia sábados (repousos) conforme Levíticos 23, o que não fazem ao citar
Isaías 65: 23. Mas aqueles dias já estão mencionados no texto como "dias de
festa" ("dias de festa, lua nova ou sábados" - três coisas
distintas).
Também afirmam: "O dia de repouso de Deus, o sábado, é chamado o "dia do
Senhor". Comparar Apocalipse l: 10 com Isaías 58: 13 e Marcos 2: 28. (Página
2). Mas o que é "dia do Senhor" em Apocalipse?
O termo grego "kiriake emera"=kiriake emera (Novum
Testamentum Graece), em Apocalipse, 1: 10, em latim é traduzido para "dies
dominicum", que em português é "dia do Senhor".
A versão católica do Padre Antônio Pereira de Figueiredo traduz a palavra para "dia
de domingo". E, literalmente, este nome, dado ao primeiro dia da semana, é
uma evolução de dies dominicum.
As igrejas guardadoras do domingo, assim como os sabatistas o aplicam ao sábado,
baseado nesse sentido da palavra, falam do termo usado por João como sendo o
primeiro dia da semana. Quem está certo? O que era "dia do senhor" para
os apóstolos?
Ao se referirem ao sábado, os apóstolos o chamavam pelo seu nome costumeiro:
sabbaton, forma grega do hebraico shabath, que foi latinizada para
sabatum e evoluiu para o português como sábado
Ao falar do primeiro dia da semana, tratavam-no como tal, não lhe dando nenhum
título (Mateus, 28: 1; Marcos, 16: 1: Lucas: 24: 1; João 20: 1).
O título dies dominicum, segundo informações históricas, foi dado por
decreto imperial ao primeiro dia da semana, anteriormente dies solis =
dia do sol, quando o imperador romano se converteu ao cristianismo e a igreja
criou um sincretismo de princípios judeus e romanos.
Os apóstolos jamais chamaram qualquer dia da semana de dia do Senhor; mas essa
palavra lhes era muito familiar com outro sentido:
"Ah! que dia! porque o dia do Senhor está perto, e vem como assolação do
Todo-Poderoso" (Joel, 1: 15). "...grande é o dia do Senhor, e mui
terrível" (Joel, 2: 11). "Ai de vós que desejais o dia do Senhor... dia
de trevas e não de luz" (Amós, 5: 18). "Porque o dia do Senhor está
prestes a vir sobre todas as nações" (Obadias, 15).
"Pois eis que vem o
dia, e arde como fornalha" (Malaquias, 4: 1) "O sol se converter em
trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor"
(Atos 2: 20). "... o dia do Senhor vem como ladrão de noite" (I
Tessalonicenses, 5: 2). Virá, entretanto, como ladrão, o dia do Senhor, no
qual os céus passarão com estrepitoso estrondo e os elementos se desfarão
abrasados" (II S. Pedro, 3: 10).
É bem mais lógico deduzir que João estava se referindo ao que sempre chamavam de
"dia do Senhor" - o dia do julgamento divino deste mundo.
"Em espírito", isto é, em visão, João teria presenciado o julgamento divino
deste mundo, conforme vemos em todo o Apocalipse. Por isto, ele disse: "Achei-me,
em espírito, no dia do Senhor" (Apocalipse, 1: 10). Significa: em minha
visão eu me encontrei naquele dia, quando Deus irá julgar e condenar os maus e
dar recompensa aos justos. Pois é o dia do juízo divino que eles chamaram sempre
de "dia do Senhor", conforme as passagens acima.
O SÁBADO NA NOVA TERRA
"Na nova terra, o sábado será guardado por todos os habitantes como o grande
dia comemorativo do Altíssimo, pois assim diz o Senhor: "...de sábado em sábado
toda carne vir prostrar-se diante de Mim..." Isaías 66:22-23" (Qual Dia
Guarda e Por Que?, pág. 8).
O texto citado diz: "de uma lua nova à outra, e de um sábado a outro"
(Isaías, 66: 23). Curioso é que aqui lua nova e sábado são princípios morais,
para serem guardados a nova terra, mas, em Colossenses, 2: 16, são princípios
cerimoniais, sem mais validade. Aqui aceitam que é o sétimo dia. Lá, dizem ser
outros dias. Se o texto de Isaías justifica a guarda do sábado, também aprova a
da lua nova, o que os sabatistas não guardam.
Não entendem que na Jerusalém de Isaías, haveria MORTE, PECADO e MALDIÇÃO
(Isaías, 65: 20), o que não deveria haver na nova terra do Apocalipse.
As profecias de Isaías foram feitas durante o cativeiro de Babilônia. Eram
promessas de restauração de Jerusalém após a queda de Babilônia, não a mesma do Apocalipse, que contém
o pensamento cristão. Se as palavras de Isaías se tivessem cumprido, os
judeus teriam estabelecido seu esperado reino eterno logo após a derrocada do
império babilônico. Mas, como vimos, foram apenas fantasias judaicas, como
a Nova Jerusalém do Apocalipse é fantasia cristã.
Como ficou suficientemente claro na análise do capítulo 8 de Neemias, não há como
afirmar a existência das chamadas "duas leis", uma mutável e outra
imutável. E, se formos enquadrar a guarda do sábado em uma dessas duas partes da
lei, não há como não ser na parte transitória, o que teria ficado esclarecido pelas
palavras de Paulo aos Colossenses (Col. 2:16).
As contradições só ficam ainda maiores quando se tenta dividir a lei em duas.
O que se pode concluir de tudo isso é que tudo que estava no livro da lei
mosaica era mesmo para ser eternamente observado pelos hebreus; mas essa
abolição da lei foi criação de Paulo, e agora os cristãos vivem enfrentando essa
dificuldade para não admitir que o cristianismo não tem qualquer apoio no
chamado velho
testamento.