“Não cobiçarás a mulher do teu próximo; não desejarás a casa do teu próximo; nem
o seu campo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento,
nem coisa alguma do teu próximo” (Deuteronômio, 5: 21).
Aqui se tenta novamente verificar a ordem do mandamento. É o décimo, ou são dois
mandamentos?
A Igreja Católica diz que o nono mandamento é “Não desejar a mulher
do próximo” e o décimo é “Não cobiçar as coisas alheias”.
Mas, para os hebreus,
não havia distinção: tudo eram coisas do próximo: a mulher, a casa, o campo, o
servo, a serva, o boi, o jumento, ou qualquer outra coisa. Tanto a mulher era
uma propriedade, que o pai podia até vender a filha (Êxodo, 21: 7).
Aqui, sinto terem razão os adventistas. Mas, se é um único mandamento, os
mandamentos não são dez, são apenas nove. Como a Bíblia fala em “dez
mandamentos”, fica a dúvida. Vamos partir o primeiro como fazem os adventistas,
ou vamos partir o último, como fazem os católicos? Quem está certo? Vou deixar
este caso para os leitores decidirem.
Deixando de lado a ordem do mandamento, vamos a um fato que envolveu a
transgressão de três deles, e o transgressor não pagou com a vida conforme
previsto na lei.
Davi, um dos mais importantes homens de Javé conforme a Bíblia, um rei, quando
se viu em transgressão desse mandamento, não hesitou em transgredir também o
sétimo (ou oitavo?). Não satisfeito, deu um jeitinho para burlar a lei em
relação a outro preceito (quinto ou sexto). Aí vemos que não é só aqui que se faz isso:
Ao conhecer Bate-Seba, belíssima mulher de seu súdito Urias, o rei caiu no
pecado: cobiçou aquela coisa maravilhosa do próximo. Como podia fazer o que
quisesse, mandou buscá-la e teve relação sexual com ela, transgredido o sétimo
(ou sexto) mandamento. Depois, para ficar mais tranqüilo, mandou que pusessem
Urias em uma frente de batalha e o deixasse sem apoio para que ele fosse ferido
e morresse. E assim foi. E dessa cobiça que resultou no adultério
e assassinato indireto, nasceu um filho que, nos termos do primeiro
mandamento, pagou com a vida pelo pecado do pai, e posteriormente Bate-Seba deu
à luz Salomão, o mais sábio dos homens de Deus (II Samuel, 11 e 12).
Quem cometesse adultério deveria morrer: “O homem que adulterar com a mulher de
outro, sim, aquele que adulterar com a mulher do seu próximo, certamente será
morto, tanto o adúltero, como a adúltera” (Levítico, 20:10). E a lei determinava
também: “Não farás injustiça no juízo; não farás acepção da pessoa do pobre, nem
honrarás o poderoso; mas com justiça julgarás o teu próximo” (Levítico, 19: 15) Mas o rei, considerado homem de Deus, cobiçou, adulterou e
matou, sem ser punido com a morte. Vê-se aí que não é só aqui que os
poderosos ficam impunes ou são punidos de forma mais amena.
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