22 de outubro

– Hummm.. * Hummm… *
-Eca!
-Eca? Quem falou Eca?
– Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim istranho?
– Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas…
– Puta que o pariu! E o sinhor cherô isso tudo aí no copo, sô?
– Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
– Cebesta, eu não! Sou isso não sinhor!!! Mas que isso aqui tá me cherano iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!
– Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
– O sinhor me discurpe, mas eu vi o sinhor sacudino o copo e enfiano o narigão lá dentro. O sinhor tá gripado, é?
– Não, meu amigo. São técnicas internacionais de degustação, entende?
– Entendo. Lá no bar do Tiramãodaí a gente tamém tem umas mania isquisita.
– Ah, é? Os senhores também praticam degustação?
– Não, sinhor, só engolição. A gente olha bem a marvada, assim, contra o sol, que é pra ver se num tem barata dentro. Depois joga um tiquim pro santo e manda vê! A danada desce que só veno! Sai carrascano tudo, bate lá no bucho e sobe qui nem rojão na festa da Trindade. Com meia dúzia, o pessoar já sai avançando nas saia das cumadre que é um disassussego! Às veiz sai inté tapa!
– Disgusting!
– Nossa Senhora! Nem me fale! Um disgosto danado! Já teve casamento dismanchado e tudo…
– Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho então,…
– E antão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!!!
– O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no…
– Mais num vai introduzir mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!
– Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens…
– Hã-hã… Eu sabia que tinha franceis nessa história lazarenta…
– O senhor poderia começar com um Beaujolais!
– Num beijo lé, nem beijo lá! Eu sô é homem, safardana!
– Então, que tal um mais encorpado?
– Óia lá, ocê tá brincando com fogo…
– Ou, então, um suave fresco!
– Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçano de vontade de lhe metê-lhe a mão na sua cara desavergonhada!!!
– Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
– Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, mermo!!! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de barbuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com barbuleta…
– Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
– E que tal a mão no pé dovido, hein, seu fióte de Belzebu?
– Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
– Eu vou acertar é um tapão nas suas venta, cão sarnento!!! Engolidor de rolha!!!
– Mole e redondo, com bouquet forte?
– Agora, ocê pulou o corguinho!!! E é um… e é dois… e é treis!!!
Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui, que eu te arrebento, seu bicha fedorenta.