(30/08/2009)
“A felicidade, em si, não vive fora do indivíduo
nem se pode comprar na feira.
Na estúpida corrida para bater recordes de acumulação de riquezas, o verdadeiro
sentido da vida tende a ficar para trás. Continua gozando de maior respeito um
homem rico em vez de um sábio. O primeiro é mais visível, possui acessórios
caros, impõe-se pela capacidade de comprar soluções; o segundo, pro evitar
comprá-las, pois não gera problemas. Um mede seu êxito no tamanho da inveja que
suscita, o outro, na arte de insuflar satisfação, pois ele compreendeu que
não é
feliz quem mais tem, mas quem mais se satisfaz com o que tem.
A felicidade, em si, não é algo exterior, não vive fora do indivíduo nem se pode
comprar na feira. Ela se gera bem no tabernáculo humano, num recinto pessoal e
intocável, como um sentimento de plena harmonia e, não, de superioridade.
Engana=se, portanto, quem desfila entre seus semelhantes recolhendo olhares
invejosos ou medindo sua importância pela riqueza. Será um Sísifo empurrando
eternamente a pedra e recomeçando sempre do princípio.
O novo milênio, saudado pelos arautos da Era de Aquário como o início de uma
fase de grandes transformações, deverá promover o resgate da sabedoria entre os
seres humanos, portanto, a capacidade de viver de forma harmoniosa tanto em
relação aos semelhantes quanto à natureza. Sinais dessa mudança se notam com a
preocupação ainda tímida, mas já evidente, da ‘responsabilidade social’, algo
humano e ambientalmente correto que começa a ser compreendido como fator
fundamental e indissociável das atividades econômicas.
Embora o lucro continue como condição básica, pois sem ele nenhuma empresas
consegue ficar em atividade, surge com vigor nas grandes corporações, e até nas
pequenas empresas, a necessidade da ação correta, aquela que distribui não
apenas dividendos, mas ajudas ao desenvolvimento humano.
O desempenho de uma empresa passou a ser avaliado com intensidade crescente nos
meios mais atentos por um conjunto de valores não apenas econômicos e não
necessariamente materiais. Hoje, e ainda mais no futuro, a importância e as
perspectivas de longevidade da empresa se atrelam ao respeito de interesses
difusos e à superação de sofrimentos humanos.
Mais vale uma empresa com um lucro modesto, mas com papel definido de utilidade
social, do que uma empresa com um monumental lucro sem méritos sociais. A
primeira terá vida mais fácil que a outra, gozando de simpatia, de apoio, de
gratidão – valores imateriais que conspiram hoje, e conspirarão ainda mais no
futuro, para o sucesso.
Quem compreender isso é um afortunado que distribuirá meios para uma vida
melhor.”
(Vitório Medioli, Jornal Pampulha, 29 de agosto a 4 de setembro de 2009).