O Cristianismo, a maior religião do mundo, teve suas raízes na incorporação da
crença na ressurreição dos mortos pelos judeus durante o cativeiro babilônico e
na profecia de Miquéias sobre um libertador de Israel do jugo assírio. Após as
frustradas tentativas de vários heróis, culminando quase sempre na execução
desses, alguém teve a ideia de levar ao mundo a crença de que um deles ressuscitou e ainda retornará
para estabelecer um reino divino perfeito e eterno no nosso planeta. Mas essa
ressurreição se formou no imaginário cristão muito tempo depois da época em que
se diz que seu messias esteve na terra.
A própria Bíblia nos mostra que os hebreus nada sabiam sobre ressurreição dos
mortos antes do cativeiro babilônico. Entretanto, no final do livro de Daniel
está escrito que um anjo lhe havia prometido a ressurreição e recompensa (Ver
A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS). A pergunta que os cristãos normalmente não se
fazem é: se Deus ressuscita os mortos, por que ele não prometeu ressurreição a
Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Davi, etc.? Yavé teria inventado a
ressurreição só depois disso? Não percebem que essa crença pertencia a religiões
de outros povos e foi incorporada pelos hebreus quando viveram sob os domínios
babilônio e persa.
Embora ninguém dos historiadores dos dias de Jesus nada tenha dito sobre ele,
é possível que tenha existido um mártir inspirador do mito e não tenha sido totalmente
inventado. Todavia, deve ter sido um indivíduo com outro nome que não Yeshua, e
os que o transformaram no mito tenham mudado também o nome. Temos informação de que houve mais de um herói que quis libertar
Israel do jugo romano. O próprio livro de Atos dos Apóstolos fala de outros
dois, Judas e Teudas (Atos, 5: 36, 37). O inspirador do mito poderá ter sido um
desses. Todos eles, ao se verem na iminência da morte, devem ter afirmado
que iriam ressuscitar e voltar para derrotar os romanos e estabelecer o reino
eterno dos judeus.
Como, nos dias do domínio assírio, o profeta Miquéias prometera que um ungido de
Judá destronaria aquele império e libertaria Israel, o que muito parece se
referir a Josias, rei de Judá que pretendeu unificar os dois povos (Israel e
Judá) (Miqueias, 5: 2-15), os hebreus continuaram esperando que um dia surgisse esse ungido que os
libertasse e estabelecesse aquele reino imbatível, uma vez que Josias não o fez.
Em vez de perceber que a previsão de Miquéias havia falhado, os judeus passaram
a pensar que um dia surgiria aquele salvador prometido. Não entenderam que, se a profecia
de Miquéias fosse verdade, um rei judeu teria derrotado a Assíria e dominado o
mundo quando os assírios entraram em Judá.
Há dois mil anos, quando a maioria
das populações do mundo inteiro era composta de analfabetos, era muito fácil
inventar fatos e eles se tornarem história. Assim, se, no final do
primeiro século, o povo ouvisse dizer que alguém havia ressuscitado uns setenta
anos antes, não havia ninguém vivo que pudesse desmentir.
Como historiadores da primeira metade
do século jamais disseram uma palavra sobre Jesus, o herói executado que deu
origem ao cristianismo não deve ter-se chamado Yeshua (salvador) e seus
admiradores podem ter inventado esse apelido. Ele pode ter sido um dos que pretenderam combater o império romano, mas não
conseguiram juntar guerreiros suficiente para fazer frente aos romanos e foram executados. É mais provável
que seu nome tenha sido outro, e os seus seguidores o tenham mudado para dar o
significado que tem: "aquele que salva". Se seu nome fosse Yeshua
mesmo, alguém de fora do cristianismo teria dito alguma coisa sobre ele como
disseram sobre outros.
É provável que esse rebelde, após se ver sem saída e na iminência de ser morto pelos
romanos, porém crendo na doutrina da ressurreição dos mortos, tenha dito aos
seus companheiros que retornaria quando ressuscitado por Yavé para derrotar os
romanos e estabelecer o tão sonhado reino eterno.
Morto o herói, seus seguidores, crendo que ele seria ressuscitado, devem ter
passado a pregar às outras pessoas que ele teria sido ressuscitado pelo deus Yavé e breve retornaria para ressuscitar a todos que cressem nele para formar o
reino eterno. Talvez, inicialmente, até tenha pregado que sua ressurreição ainda
iria ocorrer, e, posteriormente, tenham passado a pregar que ela já tivesse
ocorrido. Em epístolas de Paulo, vemos que ele esperava que Jesus retornasse
antes mesmo de sua morte (I Coríntios, 15: 51, 52; I Tessalonicenses, 4: 17).
Há até registro de que existiu um
indivíduo chamado "Crestus", que incitava judeus a atacarem os romanos e tinha
seu grupo de arruaceiros, e esse Crestos foi executado por aquela época próxima
do ano que dizem que Jesus foi crucificado. E os "crestianos", o grupo de
Crestos foi perseguido sofrendo bastante nas mãos dos romanos. E, séculos
depois, copistas chegaram a rasurar
e mudar o nome de "crestianos" para "cristianos". Provavelmente
Crestos pensasse que um dia fosse ressuscitar e massacrar os romanos também. Mas
a fama de Crestos não era nada parecida com a do personagem Jesus.
Como levantarem-se pessoas contra os romanos e serem executadas era coisa bem
banal naqueles dias, os historiadores da época não devem nem ter dado atenção a
mais essa execução, ou, o mais provável, Jesus (Yeshua) pode ter sido um nome inventado para algum
dos executados. Todavia, a doutrina da ressurreição de Jesus e de seus
seguidores, que não tem qualquer menção de escritores de seus dias, deve ter ido crescendo e aumentando os adeptos; e, à medida que o
fato ficava mais distante, os contos a respeito de Jesus iam ficando mais
elaborados, e foram surgindo os milagres de curas, ressurreições, etc. É claro
que, se houvesse alguém capaz de fazer um aleijado se tornar normal e um cego
enxergar, isso não iria passar sem que ninguém percebesse como nos mostra a
falta de registros fora dos evangelhos. Muito menos poderiam ocorrer
ressurreições sem haver um grande tumulto que chegasse ao conhecimento de muita
gente. Se Filon de Alexandria viveu nos dias de Jesus e nunca escreveu uma
linha falando sobre Jesus e seus feitos, bem como outros historiadores da época
nada disseram, isso só nos leva à certeza de que esse feitos são lendas.
Outrossim, como poderia ter ocorrido três horas de escuridão (Mateus, 27: 45; Lucas, 23:44) e ninguém além
dos cristãos ter tomado conhecimento? Se qualquer eclipse solar, que é um
fenômeno comum, era registrado, três horas de escuridão, algo incomum, iria
ficar fora da história?
“Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) — Um dos mais famosos autores romanos sobre
ética, filosofia e moral e um cientista que registrou eclipses e terremotos.
... Plínio, o velho (23 d.C. – 79 d.C.) — História natural. Escreveu 37
livros sobre eventos como terremotos, eclipses e tratamentos médicos” (Lee
Salisbury, Jesus: o incômodo silêncio da História), poderia ocorrer tal evento tão excepcional e nenhum desses dois autores tomar
conhecimento? Além disso, três horas de escuridão seria um fenômeno
visto em mais da metade do mundo. E o mundo nada viu disso. Só o
grupo cristão disse ter visto.
Algumas décadas após a época em que dizem que viveu Jesus, algumas pessoas escreveram dezenas
dos chamados evangelhos. Eles eram extremamente contraditórios, vindos das
várias correntes doutrinárias cristãs. Entre os poucos textos selecionados
posteriormente pela igreja romana para comporem o novo testamento, sendo os mais
harmônicos, ainda há muitas divergências. Exemplo de divergência cristã pode ser
visto na justificação pela fé ou pelas obras comentadas divergentemente por
Paulo e Tiago. Só os cristãos não percebem que o que têm como "a verdade" é o
conjunto dos pontos de vista do grupo dominante.
Os evangelhos dizem: "Assim a sua fama correu por toda a Síria; e
trouxeram-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias doenças e tormentos,
os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos; e ele os curou" (Mateus,
4: 24). "E logo correu a sua fama por toda a região da Galiléia" (Lucas,
1: 28). "A sua fama, porém, se divulgava cada vez mais, e grandes multidões
se ajuntavam para ouvi-lo e serem curadas das suas enfermidades" (Lucas, 5:
15). Todavia, ninguém dos historiadores dos seus dias nada registrou sobre ele.
Não poderia uma pessoa ficar tão famosa e ao mesmo tempo desconhecida dos
historiadores da época.
Os primeiros historiadores judeus e romanos a falarem do cristianismo nasceram
depois da época dada como da execução de Jesus e escreveram o que ouviram de
outros. "A fé cristã se fortaleceu no decorrer dos últimos vinte séculos não
por se constituir em um impecável museu de relíquias capazes de narrar de forma
coerente e incontestável a história de Jesus. A fé cristã se enriqueceu da
adversidade e construiu uma vigorosa verdade teológica apesar das falhas
gritantes dos registros históricos sobre o homem que mandou o apóstolo Pedro
construir a sua Igreja. Sua passagem terrestre, no entanto, deitou sobre o tempo
histórico marcas muito tênues. Fora os Evangelhos, textos sagrados do
cristianismo, a figura de Jesus aparece citada apenas de forma cifrada ou
pouco clara em obras escritas dezenas de anos depois de sua morte. Por essa
razão, as raras descobertas arqueológicas que iluminam o período histórico de
Jesus na Palestina são recebidas com grande curiosidade pelos estudiosos"
(Veja, 15 de dezembro/2004, pág. 104.
Entre as inúmeros contradições do cristianismo que encontramos nos seus textos
sagrados, além da primeira crença, a de Paulo, de que Jesus retornaria naqueles
dias, mais três ideias diferente sobre o fim do mundo de pecados aparecem no
Novo Testamento: Os evangelhos de Mateus e Lucas falam da destruição de
Jerusalém pelos romanos como sendo o início da grande tribulação predita pelo
profeta Daniel (Ver
OS TEMPOS DOS GENTIOS) e afirmam que, passado aquele período difícil,
Jesus estaria retornando para buscar seus escolhidos e estabelecer o reino
divino. O apocalipse já fala do império romano como a besta de sete cabeças
e dez chifres, mas apresenta ainda um outro poder seguinte representado por uma
besta semelhante a touro com chifres de cordeiro antes do estabelecimento do
reino de Jesus. São Pedro já disse que um dia iria haver um grande estrondo,
e o mundo seria destruído pelo fogo, assim como, segundo eles criam, já havia
sido destruído por água.
Para ver como os cristãos usaram o velho testamento para tornar Jesus o messias,
leia
O MESSIAS DE BELÉM NUNCA EXISTIU NEM PODERÁ EXISTIR
e
O MAIOR
ENGANO A QUE O MUNDO SE SUBMETEU.
Como alguns séculos depois o imperador romano se converteu ao cristianismo, este
foi unificado segundo a doutrina prevalente em Roma, e todos as correntes
divergentes foram extintas; isso é o que os estudiosos constatam dos registros
encontrados, apesar de a igreja ter tentado destruir todos os escritos e
qualquer outra coisa que fosse contrária à linha cristã de Roma.
Os cristãos clandestinos, aqueles que divergiam do cristianismo romano, devem
ter firmado muito sua fé nas afirmações de que Roma era a prostituta montada na
besta e o cristianismo romano deve ter passado a ser visto como a besta pelos
dissidentes. E é isso mesmo que diz o Apocalipse: a mulher é a "cidade que reina
sobre os reis da Terra", cidade edificada sobre "sete montes". Não há como
negar. Talvez a besta semelhante a touro com chifres de cordeiro no apocalipse
tenha derivado da visão de alguém que já procurava combater o cristianismo
romano. E esse livro chegou a ser rejeitado pela igreja, vindo posteriormente a
ser aceito para fazer parte da Bíblia. A existência dos vários chamados
apócrifos, que nada mais são do que posições de partes do cristianismo daqueles
dias, nos dá um claro testemunho de que a chamada "verdade" é o pensamento da
ala cristã que se sobrepôs às outras.
Quanto às profecias de Daniel, é bom ler o artigo
O FIM: ANTÍOCO EPÍFANES, IMPÉRIO ROMANO, OUTRO PODER FUTURO.
No final da Idade Média, surgiram os protestantes, que conseguiram enfraquecer o
Catolicismo, porém fortaleceram a crença em Jesus e na ressurreição dos mortos.
A essa altura, os prodígios de Jesus já eram cristalizados como fatos
incontestáveis pelos fiéis.
No século XIX, alguns protestantes fizeram uma interpretação das profecias de
Daniel, calculando que 1843 seria a data do retorno de Jesus. Como isso não
ocorreu, recalcularam e pensaram que houvesse cometido um pequeno erro, devendo
o evento ocorrer em 1844. Como naturalmente nada se cumpriu, refizeram a
interpretação, passando a crer que, em vez da volta de Jesus, seria a passagem
de Jesus do lugar santo para o lugar santíssimo do santuário que criam existir
no céu. Assim, ainda deveriam passar mais alguns anos até que ele retornasse.
Como, diferentemente do livro de Daniel, o Apocalipse apresentam um outro poder
perseguidor após o poder romano, passaram a pregar que os Estados Unidos,
mediante o protestantismo unido como o catolicismo, dariam cumprimento à figura
da besta semelhante o touro, que fariam uma grande perseguição antes do retorno
de Jesus; mas tudo isso deveria ocorrer brevemente, porque quase todos os sinais
do fim já haviam ocorrido (Veja, por exemplo,
AS ESTRELAS NÃO CAÍRAM PELA TERRA).
Na década de mil novecentos e oitenta, conheci em Rondônia um livro intitulado "ELLEN G. WHITE E A IGREJA
ADVENTISTA". Segundo esse livro, Ellen G. White havia dito, na última
conferência de que participou, já bem próximo a sua morte, em 1915, que a
maioria daqueles que estavam ouvindo-a não passariam pela morte, mas estariam
vivos por ocasião da volta de Jesus. Acredito que, se ainda existirem alguns das
crianças daquele dia, não devem ser muitos.
Há poucos anos, procurei com os adventistas em Belo Horizonte o livro "ELLEN G. WHITE E A IGREJA
ADVENTISTA" e o chamado "Crede nos seus profetas", mas me disseram
desconhecê-los.
Atualmente há milhares de ramos cristãos e todos eles têm suas maneiras de
explicar a doutrina e justificar por que Jesus ainda não veio, cada um como o
dono da verdade e negando a verdade dos outros. Há até aqueles que dizem que a
volta de Jesus é apenas figurada; mas seus argumentos não têm convencido muita
gente. Eles são uns poucos milhares no mundo.
Talvez a gritante distância entre as crenças cristãs do novo testamento e as
explicações de todos os ramos cristãos atuais seja a razão de o Islamismo,
religião não cristã, ser a religião que mais cresce no mundo atual.
Acho que atualmente corremos mais risco de um dia o mundo ser torturado pelo
poder muçulmano do que qualquer outro dominador que possa surgir. O radicalismo
religioso me assusta mais do que qualquer socialismo ou ditadura militar leiga.
Mas espero que o conhecimento prevaleça sobre as crendices.
Como todas as mitologias, a origem do Cristianismo, como acima deduzido, pode
ter sido desenvolvida aos poucos a partir de um grupo de adeptos da crença na
ressurreição dos mortos cujo líder tenha mesmo sido executado pelos romanos. O
caráter mitológico desse líder deve ter sido formado bem posteriormente à sua
morte. Só isso pode explicar a falta de registro sobre esse homem, chamado filho
de Deus, ou mesmo Deus, que se tornou tão importante no decorrer dos séculos.
Ou pode até mesmo ser
uma pura criação romana
conforme concluiu Joseph Atwill.
Ver também
A CRIAÇÃO DO MITO DE
JESUS
Ver mais RELIGIÃO