
Por que a contradição?

Quando foi escrito o livro de Jó, os judeus ainda não haviam assimilado a crença em ressurreição. Lendo a história dos patriarcas no Gênesis e todo o conteúdo do Êxodo, não encontramos nenhuma promessa de ressurreição a quaisquer dos homens escolhidos de Yavé. E as promessas de Yavé eram longa vida e ir-se bem na terra prometida, como se vê no terceiro mandamento contido nas duas tábuas do testemunho.
Lendo o profeta Isaías, vemos que podemos descartar aquela informação: “Visão de Isaías, filho de Amós, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias, reis de Judá.” (Isaías 1:1). Observando seu conteúdo, percebemos que uma parte pode ter sido escrita ainda no período de domínio assírio, mas o restante foi escrito dentro do cativeiro babilônico. E o livro chega a falar de ressurreição, mas não uma ressurreição de bons e maus, “uns para vida eterna e outros para morte e desprezo eterno” como aparece no final do livro de Daniel.
As duas referências são:
“Os falecidos não tornarão a viver; os mortos não ressuscitarão; por isso os visitaste e destruíste, e fizeste perecer toda a sua memória” (Isaias, 26: 14). “Os teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó; porque o teu orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra das sombras fá-lo-ás cair” (Isaias, 26: 19). Ao se referir a Israel, fala que “teus mortos ressuscitarão” e, ao se referir aos inimigos, diz “os mortos não ressuscitarão”. Se o autor dessas palavras já cria que os hebreus fossem ressuscitar, ainda não cria em ressurreição dos maus, achava que os outros povos não teriam ressurreição.
No último capítulo, o 65, o livro fala da queda de Babilônia e prevê o domínio judaico com a nova Jerusalém, após o que nunca mais os judeus seria molestados por gentios; mas nada de ressurreição, apenas longas vidas. Essa parte pode ter sido escrito logo após a queda daquele império, quando os judeus estavam pensando que iriam restabelecer o reino e dominar o mundo. Aquela ressurreição de “uns para vida eterna e outros para morte e desprezo eterno” (Daniel, 12: 2) deve ter sido incorporada já no domínio medo-persa. Pois o livro de Daniel, se não todo, tem pelo pelos a parte final escrita após a vitória dos macabeus, quando já fazia a previsão “E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão, e lhe obedecerão.” (Daniel, 7: 27), previsão essa que falhou da mesma forma que todas as outras.
Observando esse pedaço da história dos judeus, não nos resta dúvida de que a contradição entre Jesus e Jó decorre do fato de o livro de Jó ter sido escrito em uma época em que os judeus ainda não tinham a crença da ressurreição, que não vem de Yavé como se crê, mas do pensamento do povo persa. Se existisse ressurreição e o deus que a teria prometido, esse deus o teria feito desde os primeiros contatos com seus primeiros homens escolhidos, não teria deixado para falar dela só depois que os judeus conviveram com os persas.
Ver mais CONTRADIÇÕES BÍBLICAS