G1 montou uma linha do tempo com os fatos que compõem a investigação.
Por G1 ES
10/05/2018 11h35
Um incêndio matou carbonizados dois irmãos, de três e seis anos, dentro de casa, em Linhares, no Norte do Espírito Santo, no dia 21 de abril deste ano. As chamas atingiram apenas o quarto das crianças. Quando os bombeiros chegaram ao local, Joaquim e Kauã já estavam sem vida.
O G1 preparou uma cronologia sobre o que aconteceu durante as investigações desse caso.
21 de abril – Quarto das crianças pega fogo
O quarto onde Joaquim e Kauã dormiam pega fogo por volta das 2h da madrugada;
Quando os bombeiros chegam ao local, as duas crianças já estão sem vida;
O pastor George Alves, pai de Joaquim e padastro de Kauã, estava em outro quarto da casa;
A mãe das crianças, Juliana Salles, estava em um congresso em Minas Gerais com o filho mais novo do casal;
Por falta de legistas no Serviço Médico Legal de Linhares, os corpos são levados para Vitória;
Coronel Ferrari, do Corpo de Bombeiros, diz que uma das hipóteses era falha em equipamento elétrico.
22 de abril – Pastor celebra culto após mortes
George Alves comandou um culto da Igreja Batista Vida e Paz, da qual participa;
O casal de pastores recebe abraços de conforto dos fiéis.
23 de abril – Pais vão ao DML de Vitória
George e Juliana vão ao Departamento Médico Legal de Vitória para coletar material para exame de DNA;
George, que estava na casa na hora do incêndio, concede entrevista à imprensa e diz que tentou entrar no quarto para salvar as crianças;
Também esteve no DML de Vitória, para fazer coleta de material, o pai biológico de Kauã, Rainy Butkovsky.
24 de abril – Pastor é interrogado
O pastor George Alves é interrogado na Delegacia Regional de Linhares;
O depoimento dura mais de três horas;
Uma segunda perícia é realizada pela Polícia Civil e pelo Corpo de Bombeiros na casa onde ocorreu o incêndio;
Peritos colhem informações e imagens de câmeras na vizinhança.
Pastor é interrogado sobre incêndio que matou filho e enteado, em Linhares, ES — Foto: Raphael Verly/ TV Gazeta
Pastor é interrogado sobre incêndio que matou filho e enteado, em Linhares, ES — Foto: Raphael Verly/ TV Gazeta
25 de abril – Pastor é interrogado pela 2ª vez
George e Juliana são interrogados;
Polícia Civil não fala sobre o conteúdo dos depoimentos.
26 de abril – Testemunhas são ouvidas
São ouvidas pela polícia duas mulheres que viviam na casa com Juliana, George, Joaquim, Kauã e o outro irmão deles;
As mulheres ouvidas não estavam na casa no momento do incêndio;
Outras cinco testemunhas prestariam depoimento, mas pediram adiamento;
Com a casa isolada, Geoge e Juliana ficam em um hotel da cidade com o outro filho.
27 de abril – Casa passa pela 3ª perícia
Uma nova perícia é feita na casa onde ocorreu o incêndio;
Peritos, policiais civis e promotores participaram;
A perícia dura mais de quatro horas com uso de luminol, usado para identificar sangue;
Homem presta depoimento e diz que foi o primeiro a chegar na casa após o incêndio.
28 de abril – Pastor é preso
Mandado de prisão temporária, de 30 dias, é expedido pelo juiz Gécio Grégio contra o pastor;
George Alves é preso em hotel em Linhares;
Autoridades informam que o pastor atrapalhava as investigações;
Pastor passa por exames no Serviço Médico Legal de Linhares;
George é levado para a Penitenciária Regional de Linhares;
Juliana afirma que já esperava pela prisão do marido por conta da linha de investigação da polícia;
George é transferido para o Centro de Detenção Provisória de Viana II, na Grande Vitória.
Pastor é preso em investigação sobre incêndio que matou irmãos em Linhares — Foto: Reprodução / TV Gazeta
Pastor é preso em investigação sobre incêndio que matou irmãos em Linhares — Foto: Reprodução / TV Gazeta
30 de abril – Carro é apreendido
O carro emprestado que era usado pelo pastor George Alves é apreendido pela polícia;
Veículo era de um membro da Igreja Vida e Paz;
Peritos estiveram na casa mais uma vez e saíram com sacolas, baldes e pás.
Carro emprestado usado por pastor George Alves passa por perícia e é devolvido ao dono — Foto: Raphael Verly / TV Gazeta
Carro emprestado usado por pastor George Alves passa por perícia e é devolvido ao dono — Foto: Raphael Verly / TV Gazeta
2 de maio – Carro passa por perícia com luminol
Bombeiros vão mais uma vez até a casa e saem com objetos, entre eles a parte do aparelho de ar-condicionado do quarto;
À noite, peritos usaram luminol no carro emprestado ao pastor;
Polícia não informa se algo foi encontrado.
3 de maio – Pastora presta depoimento
Juliana Salles presta depoimento e sai chorando da delegacia;
Pastora vai à delegacia acompanhada pela advogada;
Dono do carro apreendido vai a delegacia de Linhares durante a manhã;
No fim da tarde, o veículo é devolvido;
Bombeiros também são ouvidos.
Saída de Juliana da delegacia de Linhares, após depoimento — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Saída de Juliana da delegacia de Linhares, após depoimento — Foto: Reprodução/TV Gazeta
4 de maio – Autoridades fazem reunião
Autoridades envolvidas na investigação do caso se reúnem na delegacia de Linhares;
Imagens gravadas por câmeras são analisadas pela polícia.
7 de maio – Exame de DNA concluído
O chefe da Polícia Civil, Guilherme Daré, e o secretário de estado de Segurança, Nylton Rodrigues, se reúnem com delegados em Linhares;
O laudo do exame de DNA para identificar os corpos dos irmãos Joaquim e Kauã é concluído;
Corpos são colocados à disposição da família para serem liberados no DML de Vitória.
8 de maio – Pastor não vai a enterro de filho e enteado
Uma das advogadas do pastor George Alves informa que a defesa não vai pedir autorização da Justiça para que ele saia da prisão para o enterro do filho e do enteado, por questão de segurança;
A advogada também fala que a pastora Juliana Salles, mãe das crianças, tem intenção de pedir escolta policial para acompanhar o enterro;
Além disso, ela informa que não há previsão de velório, somente de enterro.
9 de maio – Corpos são levados para Linhares
A pastora Juliana Salles consegue autorização da Polícia Militar para ter escolta policial durante o enterro dos filhos;
Os corpos dos meninos são buscados pelo veículo de uma funerária na noite de quarta-feira (9), no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, e levados para Linhares.
Corpos de irmãos saem do DML de Vitória — Foto: Manoel Neto/ TV Gazeta
Corpos de irmãos saem do DML de Vitória — Foto: Manoel Neto/ TV Gazeta
10 de maio – Corpos são enterrados
Os corpos dos irmãos Joaquim e Kauã são enterrados às 9h de quinta-feira (10), no Cemitério São José, em Linhares.
17 de maio – Pastor é investigado por homicídio
A polícia pede a prorrogação da prisão temporária, de 30 dias, do pastor George Alves;
Pela primeira vez, os delegados que atuam na investigação falam sobre o caso;
O delegado André Costa disse que a Polícia Civil trabalha com a linha de investigação de homicídio;
A delegada Suzana Garcia afirmou que a polícia pretende entregar em breve o resultado da investigação.
23 de maio – Polícia diz que pastou estuprou, agrediu e queimou crianças
A polícia apresentou o resultado do inquérito. Segundo o delegado André Jaretta, de Linhares, um conjunto de indícios demonstrou que, naquela madrugada, o pastor Georgeval Alves molestou as duas crianças;
A perícia comprovou o ato sexual e a agressão às crianças;
Ainda segundo Jaretta, o pastor ateou fogo nos meninos ainda vivos, porém desacordados;
De acordo com o inquérito, Juliana Salles não teve participação do crime e não era investigada.
O avô materno das crianças disse que a mãe das vítimas, Juliana Salles, não tinha condições de falar sobre o caso.
25 de maio – Pastor depõe em CPI
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Maus-Tratos em Crianças e Adolescentes do Senado Federal, Georgeval disse que “chora todos os dias pela morte dos filhos”;
O pastor deu resposta positiva quando questionado sobre ter sofrido abusos na infância, mas disse que não tem trauma.
29 de maio – Denúncia chega ao Ministério Público
A Polícia Civil encaminhou a denúncia contra o pastor Georgeval Alves ao Ministério Público do Espírito Santo.
5 de junho – MP cobra novas investigações
O Ministério Público do Espírito Santo pediu à Polícia Civil que fizesse investigações complementares sobre a morte dos irmãos;
A polícia teve dez dias de prazo para fazer as novas diligências.
6 de junho – Mulheres depõem
Duas mulheres que têm ligação com o pastor George foram ouvidas na Delegacia de Linhares. Uma delas já trabalhou com o acusado;
Os depoimentos fizeram parte da nova etapa de investigações.
7 de junho – Pastora é convocada pela CPI dos Maus-Tratos
A pastora Juliana Salles foi convocada para depor na CPI dos Maus-Tratos;
Na ocasião, o senador Magno Malta, que preside a CPI, afirmou que a Comissão não estava levantando dúvidas sobre a mãe, mas que Juliana precisava ser ouvida.
8 de junho – MP recebe inquérito novamente
Após pedir investigações complementares, o MPES recebeu pela segunda vez o inquérito sobre a morte dos irmãos
20 de junho – Mãe das crianças é presa
A pastora Juliana Pereira Sales Alves, mãe de Kauã e Joaquim, foi presa na madrugada desta quarta-feira (20), em Teófilo Otoni, Minas Gerais;
O mandado de prisão preventiva contra Juliana foi expedido pela Justiça de Linhares na segunda-feira, dia 18 de junho.
A promotora que atua no caso, Raquel Tannenbaum, disse que Juliana foi acusada por duplo homicídio, duplo estupro e fraude processual porque sabia do risco que o marido representava para as crianças e foi omissa. Segundo a promotora, a omissão de uma mãe é equivalente ao crime praticado.
Filho de Juliana e George, de um ano, fica com amiga da família após ser encaminhado para o Conselho Tutelar.
Pastora Juliana Sales Alves presa em Minas Gerais por omissão no caso da morte de filhos em incêndio no Espírito Santo — Foto: Umberto Lemos / InterTV
Pastora Juliana Sales Alves presa em Minas Gerais por omissão no caso da morte de filhos em incêndio no Espírito Santo — Foto: Umberto Lemos / InterTV
21 de junho – Casal queria usar mortes para promover igreja, diz juiz
A decisão judicial que determinou a prisão da pastora Juliana Sales, diz que ela sabia dos “supostos abusos sexuais” sofridos pelos filhos, Kauã e Joaquim, e que ela e o marido tinham planos de usar as mortes como forma de ganhar notoriedade e ascensão religiosa;
De acordo com a decisão, Juliana sabia dos desvios de caráter do marido e que as mortes estavam nos planos do casal;
Juliana também estava ciente sobre as diferenças de tratamento que George dava para os filhos e o enteado. A decisão diz que George deixava faltar alimento, medicamento e atendimento médico para as crianças;
Para o juiz, Juliana também tinha ciência do comportamento sexual incompatível com a pregação do marido. Em uma troca de mensagens pelo celular, a pastora dizia ter ‘nojo’ e o pastor dizia se sentir ‘imundo’ e um ‘lixo’ por seus comportamentos;
De acordo com a decisão, os irmãos Kauã e Joaquim já haviam relatado, na escola, os abusos sexuais que sofreram;
A Prefeitura de Linhares disse que vai abrir um procedimento administrativo para investigar a conduta de funcionários que sabiam dos relatos;
O filho mais novo dos pastores chegou a Linhares no fim da manhã desta quinta-feira (21) e já está na casa do avô materno.
26 de junho – Advogada de pastores contesta decisão de juiz
A advogada Milena Freire conversou pela primeira vez com o G1 e disse que George e Juliana são inocentes;
A defesa também negou que o casal tenha planejado a morte dos filhos para ganhar fiéis e dinheiro;
A advogada ainda disse que houve uma distorção das informações que constam nos processos. “Na verdade, ela viu mensagens em que George diz a um apóstolo, um mentor espiritual, que ele havia tido sonhos com uma mulher. Ele se sentiu culpado, por isso respondeu que se sentia imundo”, justificou Milena;
Houve também contestação da defesa sobre o uso, por parte da acusação, de uma mensagem em que Juliana diz a George: “Eu não estou preparada para dar errado”. Segundo Milena, a troca de mensagens aconteceu quando o pastor estava na delegacia, prestando depoimento. O intuito da mensagem da pastora, segundo a defesa, era demonstrar que não poderia suportar mais uma notícia ruim, já que já havia perdido os filhos.
<https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/irmaos-mortos-em-incendio-no-es-veja-o-que-ja-sabe-sobre-o-caso.ghtml>
Já sabemos há muito tempo que religião não torna bons os maus, e que muitas coisas bárbaras que uma pessoa não religiosa dificilmente faria podem até ser praticadas por religiosos, quando acham ser vontade de um deus. Mas, ante tantos casos semelhantes a este, até parece que a lavagem cerebral da fé realça o lado mau das pessoas, tornando-as menos sensíveis às dores dos outros.
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