O CIGARRO, O PIOR INIMIGO DA PELE
(02/09/2009)
Cigarro
causa mais danos à pele que o sol
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CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo
O cigarro, até agora visto como fator secundário de envelhecimento da pele, já é
considerado o principal causador de rugas profundas no rosto, especialmente nas
mulheres. Pesquisas recentes mostram que a nicotina produz uma enzima que
destrói as fibras que formam o colágeno, substância protéica das fibras da pele.
Em uma delas, um grupo de pesquisadores da Universidade de Nagoya (Japão)
verificou uma queda de 40% na produção do colágeno quando adicionada fumaça de
cigarro a fibroblastos (células da pele que produzem o colágeno). Sem ele, a
pele perde a elasticidade, acelerando o processo de envelhecimento precoce.
A nicotina também bloqueia as ligações cruzadas da elastina (proteína fibrosa e
elástica presente na pele), reduz a lubrificação cutânea e os níveis de vitamina
A (antioxidante que combate os radicais livres). E o que é pior: diminui o
calibre dos vasos sangüíneos que irrigam o tecido cutâneo, prejudicando a
oxigenação das células.
"Ao fumar um único cigarro, a redução do oxigênio na pele diminui por cerca de
uma hora. Um fumante de um maço diário permanece em hipoxia [baixo nível de
oxigênio] cutânea na maioria das horas do dia. O sol agride muito a pele, mas
fumar é ainda pior", afirma o médico Marcus Maia, da clínica dermatológica da
Santa Casa de São Paulo, um estudioso sobre a ação do cigarro no envelhecimento
da pele.
Segundo Maia, as substâncias tóxicas presentes no cigarro estimulam a produção
de leucócitos, que liberam íons superóxidos (radicais livres) e inativam as
enzimas que, normalmente, protegeriam a pele. Ao mesmo tempo, o fumo diminui a
concentração de tocoferol, betacaroteno e retinol na pele, substâncias
importantes para inativar os radicais livres.
Presentes na corrente sangüínea, esses radicais tóxicos da nicotina atingem as
fibras de colágeno e elastina em toda a derme (camada mais profunda da pele) e
causam rugas mais intensas. Já o sol, explica Maia, atua através na camada
superficial da pele e provoca rugas mais finas.
No jargão dermatológico, a "face-do-fumante" se caracteriza por rugas profundas,
pele flácida e levemente pigmentada (acinzentada, amarelada ou avermelhada) e
proeminência dos contornos ósseos do rosto. "A gente olha para a pessoa e é
fácil acertar se ela é ou não fumante. A pele perde o rosado, fica meio
amarelada, meio cinza. É um aspecto de pergaminho", afirma a dermatologista
Denise Steiner, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia (regional São
Paulo).
Steiner diz que é objetivo da sociedade enfatizar os efeitos negativos do
cigarro nas próximas campanhas de prevenção ao envelhecimento precoce da pele.
Em relação ao câncer de pele, a ação da radiação ultravioleta dos raios solares
é a principal causa, embora, entre os fumantes, a evolução da doença seja mais
rápida.
Alguns estudos também sugerem que as mulheres apresentam um risco de
envelhecimento precoce, pelo cigarro, maior do que os homens porque a nicotina
interfere no fluxo de estrógeno (hormônio atuante na síntese do colágeno e da
elastina) para a pele.
Segundo a dermatologista Ana Lúcia Recio, o hábito de fumar também pode destruir
as fibras que sustentam a pele do rosto, provocando sulcos na região da boca e
dos olhos. Ela lembra, porém, que há fatores genéticos que determinam maior ou
menor prejuízo causado pelo cigarro à pele. "Há fumante com a pele bonita. Não é
maioria, mas existe."
Exemplo disso é a psicóloga Luciene Jimenez, 42, que fuma há 26 anos e tem uma
pele boa, na avaliação da dermatologista que a acompanha. "É de família. Minha
mãe tem 67 anos, é fumante e não aparenta a idade que tem", diz.
Mas Jimenez não deixa a aparência só a cargo da genética. Os cuidados com a pele
incluem protetor solar diário e produtos diferentes no verão e no inverno.
Ela conta que começou a fumar aos 16 anos, em uma época em que o hábito era
considerado charmoso e, ao mesmo tempo, um meio de romper modelos. "Não tínhamos
consciência do prejuízo à saúde. Quando tomei conhecimento disso, já estava
viciada", afirma a psicóloga, cujo pai, também fumante, morreu de câncer na
garganta.
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Fumo prejudica cicatrização após cirurgias
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da Folha de S.Paulo
O cigarro prejudica também a cicatrização da pele após atos cirúrgicos. Pessoas
que fumam até um maço de cigarro por dia têm três vezes mais chances de
apresentar necrose da pele. Há ainda risco aumentado de gangrena porque as
substâncias tóxicas do cigarro provocam vasoconstrição (diminuição do calibre
dos vasos sangüíneos).
Durante uma cirurgia que envolve o descolamento do tecido cutâneo, há uma
natural diminuição da vascularização. Ou seja, a associação desses dois fatores
(cigarro e cirurgia) potencializa os efeitos negativos sobre a pele.
Por essa razão, cirurgiões plásticos americanos estão deixando de operar
pacientes que fumem mais de um maço de cigarros por dia. Além do risco de
necrose e gangrena, há possibilidade de abertura da sutura e de a pele voltar a
enrugar em razão da menor sustentação dos tecidos.
No Brasil, os candidatos a uma cirurgia plástica assinam um termo de compromisso
em que admitem estar cientes do risco de complicações pós-cirúrgicas em razão do
cigarro. Os cirurgiões brasileiros recomendam a interrupção do cigarro pelo
menos três semanas antes e após qualquer ato cirúrgico, mas muitos admitem que
os pacientes não cumprem a recomendação.
"É utopia acreditar que um fumante contumaz vá parar de fumar antes da
cirurgia", diz o cirurgião plástico Gustavo Duarte, do hospital Sírio Libanês.
Por isso, ele diz que, ao operar fumantes, costuma deslocar menor quantidade de
pele para interferir menos na vascularização do tecido.
"A qualidade [da cirurgia] cai um pouco, pois quanto menos se descola de tecido,
pior é o resultado", explica. No termo de consentimento, o paciente também é
informado de que o fumo interfere no resultado.
Duarte afirma que há três semanas se negou a fazer um lifting (plástica na face)
de uma mulher que fumava três maços de cigarro por dia, situação em que o risco
de necrose do tecido é seis vezes maior.
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