PERDA DE SONO, UM PROBLEMA SÉRIO
Uma só noite maldormida causa desequilíbrio e pode provocar quedas
Apenas uma noite de privação do sono é suficiente para comprometer o controle da
postura e deixar a pessoa mais vulnerável a quedas. Constatação feita por
cientistas britânicos serve de alerta aos idosos, que costumam enfrentar maior
dificuldade para descansar
por Vilhena Soares
20/01/2019 13:07
Apenas uma noite de sono ruim pode atrapalhar a sua postura e o seu equilíbrio,
segundo cientistas ingleses. Com a ajuda de monitores tecnológicos, eles
avaliaram um grupo de voluntários e observaram ambas as complicações naqueles
que apresentavam dificuldade para dormir. Os pesquisadores acreditam que os
resultados servem como alerta principalmente para as pessoas mais velhas, um dos
grupos que mais sofrem com noites maldormidas. Ao realmente descansarem, os
idosos podem reduzir o risco de quedas, que também são recorrentes nessa etapa
da vida. As descobertas foram publicadas na revista especializada Scientific
Reports.
O fato de os distúrbios de sono a longo prazo, como a privação, afetarem o
equilíbrio é bem conhecido na área médica. Mas os pesquisadores ingleses
resolveram se concentrar em mudanças mais esporádicas, inspirados na experiência
pessoal do principal autor do estudo. “De onde essa ideia veio? Pela observação
direta de que, quando meu sono é perturbado por qualquer motivo, minha
capacidade de controlar meu equilíbrio no dia seguinte é reduzida”, conta ao
Correio Leandro Pecchia, pesquisador da Escola de Engenharia da Universidade de
Warwick.
Pecchia e sua equipe analisaram um grupo de 20 jovens adultos saudáveis (12
mulheres e oito homens), que foram submetidos à avaliação de equilíbrio e de
sono durante dois dias consecutivos. Sensores vestíveis de última geração foram
usados para o monitoramento do sono dos voluntários em casa. Depois, eles foram
avaliados, em laboratório, por meio de testes de equilíbrio.
Para a surpresa dos cientistas, apenas uma única noite ruim diminuiu o
controle de postura dos participantes. O equilíbrio foi avaliado em testes
em que voluntários tinham que desempenhar atividades como ficar em pé só com o
suporte de um dos membros inferiores. Os indivíduos com deterioração de curto
prazo na quantidade e na qualidade do sono exibiram alterações significativas no
equilíbrio.
Por outro lado, aqueles sem mudanças significativas não apresentaram grandes
alterações. “Esses resultados confirmaram nossa hipótese de que mudanças na
qualidade do sono e no padrão ao longo de dias consecutivos pode afetar o
equilíbrio”, frisa Pechhia. “Os resultados obtidos em voluntários que são sadios
são surpreendentes, dada a capacidade que os jovens adultos têm de compensar
tais interrupções agudas e de curta duração. Esperaríamos efeitos mais
dramáticos se esses experimentos tivessem sido feitos em pessoas mais velhas,
cuja vulnerabilidade à interrupção do sono, a hipotensão postural e o risco de
quedas são muito maiores”, complementa Francesco Cappuccio, chefe do programa
Sleep, Health & Society da Universidade de Warwick, e um dos envolvidos na
pesquisa.
Risco cotidiano
Rafael Vinhal, médico do sono e psiquiatra, acredita que a pesquisa mostra dados
interessantes, que acompanham um tema que tem sido bastante explorado. “Muitos
estudos têm mostrado os riscos e os prejuízos das noites maldormidas, problemas
como o jet lag, por exemplo, e das privações mais longas de sono. Mas essa
pesquisa se diferencia por mostrar como apenas um tempo curto de dano ao sono,
algo do cotidiano, também pode ter um prejuízo considerável à saúde”, explica.
O especialista alerta que o sono é negligenciado pela maioria das pessoas,
independentemente da faixa etária. “Elas se queixam de problemas como memória e
desequilíbrio e não enxergam que isso pode estar ligado ao sono. Passamos um
terço do dia dormindo, o sono é essencial para a atenção. Isso é importante,
principalmente para pessoas que trabalham com veículos e maquinários, por
exemplo”, detalha.
Segundo o cientista, o trabalho atual é o primeiro a focar nas “consequências do
amanhã geradas pelo sono pobre de hoje”. Se essa relação for confirmada em um
estudo com a população idosa, o trabalho poderá realmente levar a uma
intervenção inovadora com o objetivo de prever quedas iminentes, acredita
Pecchia. A próxima etapa do estudo poderá considerar voluntários com outro
perfil. “Vamos medir a extensão desse fenômeno em idosos ou pacientes que sofrem
de várias doenças. Claramente, esse é o próximo passo. Tendo observado uma
variação tão grande em adultos jovens, que são mais capazes de se adaptar,
podemos esperar um efeito ainda pior em indivíduos mais velhos ou em sujeitos
mais frágeis. Por exemplo, os enfermos”, diz.
Palavra de especialista
Carlos Magno, fisioterapeuta e osteopata da clínica Ibphysical, em Brasília
Desajuste total
"Como osteopata, trabalho muito com essa questão de alterações sensoriais e da
postura, e muitos estudos têm relacionado esses fatores ao sono. Pessoas com
psicossomáticos, como quem passa por ansiedade frequente, não conseguem ter um
sono reparador, e, automaticamente, esses problemas são desencadeados. Elas não
conseguem recuperar a musculatura, pois uma das funções do sono é justamente
essa. Há também prejuízo da noção sensorial — como você consegue identificar o
espaço, o próprio equilíbrio. Resumindo, problemas para dormir provocam uma
espécie de bagunça nos sistemas. No momento, temos trabalhado técnicas
osteopáticas que ajudam os pacientes a relaxarem, e sempre vemos que, com a
melhora da qualidade do sono, as dores começam a desaparecer. Assim como
mostrado no estudo, esses resultados mostram como a qualidade do sono é
fundamental para a saúde."
<https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2019/01/20/noticias-saude,240452/uma-so-noite-maldormida-causa-desequilibrio-e-pode-provocar-quedas.shtml>
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