PRESIDENTE E PRESIDENTA
PASQUALE CIPRO
NETO - A presidente, a presidenta
Em alguns casos, o uso fixa como alternativas formas exclusivamente femininas,
em que o "e" dá lugar a um "a"
UFA! ACABOU! Não vou dizer que tivemos a pior campanha da história porque sou
velho o bastante para ter vivido outras maravilhas (a de 1989 e as do tempo da
mais do que hilariante Lei Falcão, por exemplo). Discurso sobre o nada, chavões,
frases feitas e cacoetes linguísticos nunca faltaram na nossa história
eleitoral.
Pois bem. A eleição se foi, mas a conversa sobre a terminação da palavra que
designa o cargo que Dilma Rousseff ocupará a partir de 1º de janeiro de 2011,
não. Perdi a conta das entrevistas que dei a respeito do assunto. Mesmo antes do
segundo turno, tive de responder qual seria a forma "correta" para designar a
função que Dilma ocupará: ela seria (será) presidente ou presidenta?
O leitor habitual deste espaço sabe bem que me nego terminantemente a reduzir a
conversa a algo como "esta sim, aquela não", "está certo, está errado" etc.
Posto isso, vamos ao começo da história. Que têm em comum palavras como
"pedinte", "agente", "fluente", "gerente", "caminhante", "dirigente" etc.? Não é
difícil, é? O ponto em comum é a terminação "-nte", de origem latina. Essa
terminação ocorre no particípio presente de verbos portugueses, italianos,
espanhóis...
Termos como "presidente", "dirigente", "gerente", entre inúmeros outros, são
iguaizinhos nas três línguas, que, é sempre bom lembrar, nasceram do mesmo
ventre. E que noção indica a terminação "-nte"? A de "agente": gerente é quem
gere, presidente é quem preside, dirigente é quem dirige e assim por diante.
Normalmente essas palavras têm forma fixa, isto é, são iguais para o masculino e
para o feminino; o que muda é o artigo (o/a gerente, o/a dirigente, o/a pagante,
o/a pedinte). Em alguns (raros) casos, o uso fixa como alternativas as formas
exclusivamente femininas, em que o "e" final dá lugar a um "a". Um desses casos
é o de "parenta", forma exclusivamente feminina e não obrigatória (pode-se dizer
"minha parente" ou "minha parenta", por exemplo). Outro desses casos é
justamente o de "presidenta": pode-se dizer "a presidente" ou "a presidenta".
A esta altura alguém talvez já esteja dizendo que, por ser a primeira
presidente/a do Brasil, Dilma Rousseff tem o direito de escolher. Sem dúvida
nenhuma, ela tem esse e outros direitos (e que não vá além dos direitos que de
fato tem, por amor de Deus). Se ela disser que quer ser chamada de "presidenta",
que seja feita a sua vontade -por que não?
"Resolvido" esse impasse, peço licença ao caro leitor para aproveitar o mote e
trocar dois dedos de prosa sobre casos análogos. Vamos a um deles: o que
significa "infante", palavra da mesma família de "infância"? Vamos lá: "infante"
é simplesmente "aquele que não fala" (porque ainda não aprendeu a falar). Essa
palavra, por sinal, é outra que é igualzinha nos três idiomas neolatinos que já
mencionei (italiano, espanhol e português).
Outro caso interessante: o da palavra "fluente". Por que se diz que fulano tem
inglês "fluente"? Porque "fluente" (em que também existe a terminação "-nte") é
simplesmente "o que flui", ou seja, o que corre como um líquido. Assim como os
líquidos fluem, a língua flui da boca de quem se expressa com facilidade.
Mais um? Vamos lá: já vimos que gerente é aquele que gere, certo? E de que verbo
é a forma "gere"? Trata-se da terceira pessoa do singular do presente do
indicativo de "gerir", sinônimo de "administrar", "gerenciar". Como é mesmo que
se conjuga o presente do indicativo de "gerir"? Ei-lo: "eu giro, tu geres, ele/a
gere..."; o presente do subjuntivo é "que eu gira, que tu giras, que ele/a
gira...". E que ela gira. É isso. (Pasquale Cipro Neto)
O professor Pasquale só não explicou o
porquê de esse "nta" ser aceito em algumas poucas
palavras.
Tudo isso decorre de alguém falar errado,
outros repetirem e chegar ao ponto de a maioria da
população adotar a forma errada, ocasião em que a
gramática oficial aceita a palavra.
Não podemos mais dizer que presidenta
seja uma palavra errada. Mas continuo dizendo
presidente. Soa bem mais bonito. Mas você
está livre para dizer que ela é a presidenta. Ela é a governanta desta casa
chamada Brasil.
Ver mais AJUDA GRAMATICAL