Brasil alcançou 400 mil mortes por Covid-19: existe
previsão para o fim da pandemia?
Lucas Soares
29/04/2021 20h57, atualizada em 29/04/2021 23h21
O Brasil chegou a triste marca de 400 mil mortos por Covid-19 nesta quinta-feira
(29). Apesar da flexibilização das restrições em alguns estados, os casos
continuam em alta. Nesse cenário de incerteza, com as vacinas ainda escassas, é
possível imaginar um fim próximo para a pandemia? O Olhar Digital conversou com
especialistas para entender o quadro da crise de saúde no Brasil e os cenários
para o futuro.
“A pandemia atacou o mundo inteiro, mas alguns países tiveram uma maneira de
conduzir diferente do Brasil. O que ocorreu por aqui realmente foi uma tragédia.
A gente não teve uma direção do Ministério do Saúde. Nesse cenário, pela forma
como foram feitas as coisas, os 400 mil mortos se justificam”, disse Marcelo
Simões, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Atualmente, o Brasil conta com duas vacinas contra Covid-19 disponíveis. A
CoronaVac, feita pelo Instituto Butantan, e a Oxford/AstraZeneca, envasada pela
Fiocruz, no Rio de Janeiro. No entanto, o governo já comprou doses dos
imunizantes da Pfizer e da Janssen. A situação da Sputnik V, adquirida por
estados do nordeste, segue indefinida após a Anvisa negar a liberação para o
produto.
“A gente chega hoje nessa triste marca de 400 mil mortos por Covid-19 no Brasil
por conta da falta de ação do governo federal, o principal fator é não ter tido
uma resposta adequada (…) nesse time falta um técnico, antes esse técnico era o
Ministério da Saúde, mas isso não foi feito, muito pelo contrário”, completa
Adriano Massuda, médico sanitarista e professor da FGV.
Chegada de mais vacinas
Também nesta quinta-feira (29), o primeiro lote com 1 milhão de doses da Pfizer
chegou ao Brasil. No total, o país comprou 100 milhões de unidades do imunizante
com previsão de entrega até dezembro. O acordo com a Janssen prevê 38 milhões
até o mês de setembro. Ainda em 2020, o governo federal recusou três ofertas
formais para compra da vacina da Pfizer.
“O grande erro foi que a Pfizer veio ao Brasil e ofereceu 70 milhões de doses em
agosto e o governo recusou. Nós teríamos começado a vacinar em dezembro, e não
no final de janeiro, teríamos evitado muito das mortes durante a pandemia e
poderíamos ter um cenário diferente. Aí estamos tendo que sair desesperados
atrás de vacina agora”, explicou Simões.
“É muito difícil imaginar um cronograma concreto no país – o oposto do que
acontece nos Estados Unidos. Lá, eles já podem falar com segurança que estão
caminhando para o fim da pandemia”, comentou Massuda. Os Estados Unidos já
vacinaram, até agora, mais de 235 milhões de pessoas e esperam ter todos os
cidadãos acima de 16 anos imunizados até o fim de maio.
“O mais importante é que o Brasil poderia estar na mesma situação, no caminho do
fim da pandemia, se tivesse contratado no tempo certo as vacinas contra Covid-19
que foram oferecidas, se o governo federal tivesse feito uma melhor gestão do
Brasil com a China, com a Índia e com a Rússia, para garantir o IFA (princípio
ativo usado para fabricação das vacinas)”, completou.
Luz no fim do túnel?
Em contato com o Olhar Digital, o Ministério da Saúde informou que trabalha com
um cronograma em cima da disponibilidade e produção dos laboratórios e que não
existe, no momento, um prazo concreto para completar a vacinação, pois, depende
da entrega das unidades.
“É muito difícil traçar uma perspectiva do fim da pandemia, ainda que tenha hoje
a vacina, que seria o passaporte para isso. A gente não tem um cronograma
crível. O que foi apresentado pelo Ministério da Saúde tem se demonstrado não
exequível”, finaliza Massuda.
“Hoje, a única maneira de frear a pandemia é com a vacina contra a Covid-19. A
gente espera que no segundo semestre a coisa melhore. Tem a vacina da Pfizer que
está para chegar e tem que ver a situação também da Sputnik V como vai ficar,
mas as coisas devem começar a mudar de fato no segundo semestre”, encerra
Simões.