TENTANDO PROVAR QUE DEUS EXISTA

- 15/07/2001 -

 

 

Se do nada não por surgir nada, como poderia surgir o ser perfeito criador de tudo?

 

O teólogo do século XIII, São Tomás de Aquino, propôs cinco provas para a existência de Deus que ainda são aceitas de forma oficial pela Igreja Católica:
a realidade da mudança requer um agente de mudança;
a cadeia do acaso precisa basear-se numa causa primeira que não é causada;
os fatos contingentes do mundo (fatos que podem não ter sido como são) pressupõem um ser necessário;
Observa-se uma gradação nas coisas desde o ponto mais alto até o mais baixo e isto aponta para uma realidade perfeita, no ponto mais alto da hierarquia;
a ordem e o desenho da natureza solicitam, como fonte, um ser que possua a mais alta sabedoria
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("Deus", Enciclopédia Microsoft Encarta 99. © 1993-1998 Microsoft Corporation).

À cadeia de causas proposta por Tomás de Aquino não podemos deixar de acrescentar a pergunta:


De onde não pode surgir o pouco pode surgir o muito?

Em outras palavras, se as coisas que conhecemos não podem ter surgido no nada, pode do nada ter surgido o criador delas?


Se a cadeia do acaso precisa basear-se numa causa primeira que não é causada, por que essa causa primeira pode existir por si mesma?

 

Esse “ser que possua a mais alta sabedoria” deveria ter uma origem como as outras causas, e assim não se poderia chegar nunca à causa originária.  É mais simples uma combinação casual de alguns elementos evoluir por meio das reações química do que surgir espontaneamente um ser perfeito e onisciente, ser esse cuja onisciência já comprovamos que não ultrapassava o conhecimento equivocado do homem do tempo em que foi escrito o livro sagrado.


É comum ouvirmos dizer: O só fato de estarmos vivos é um milagre suficiente para crermos que temos um criador.

 
Em realidade, o nosso organismo tem a capacidade de reagir contra os agentes patogênicos invasores, que não são captados pela nossa consciência, capacidade esta sem a qual não sobreviveríamos mesmo. Mas seria lógico imaginar que isso não poderia evoluir do acaso e ao mesmo tempo crer que o criador dessa perfeição não tenha precisado de outro criador? Nessa linha de pensamento de tudo depender de uma inteligência criadora, necessário haveria de ter o criador do criador, que teria sido criado por outro, numa linhagem infindável.


A evolução dos seres vivos, hoje aceita até pelo Papa, é algo inegável, que se pode perceber na modificação dos vírus e bactérias e no desenvolvimento de resistência que ocorre nos insetos. Se os fósseis encontrados pelos arqueólogos mostram organismos tão mais simples quanto mais distante retrocedemos no tempo, não há como continuarmos apegados à idéia de que tudo foi criado há seis milênios, cada um segundo a sua espécie imutável.


Como se vê, o princípio de Tomás de Aquino não prova nada. A dúvida permanece. Temos que continuar, como disse José Saramago, a procurar “um sinal de Deus”.


E como os textos bíblicos, conforme apresentado em “Ateu Graças a Deus”, capítulo “ONDE ESTÁ A PERFEIÇÃO E A ONISCIÊNCIA?”, não mostram perfeição, justiça, nem conhecimento perfeito do universo, só resta dar razão a Luis Buñuel, cineasta espanhol, (1900-1983), quando disse: “Eu continuo ateu, graças a Deus” (SUPERINTERESSANTE, julho/98, pág. 90). Pois, se a chamada palavra de Deus contém tantos enganos dos quais não temos mais dúvida, como poderíamos acreditar que elas provenha de inteligência sobre-humana onisciente?

O não termos explicação para um fato não é justificativa para inventarmos um autor para ele. O homem criou Deus como resposta ao irrespondível, explicação do inexplicável; mas nós não podemos acreditar na existência algo de que não haja qualquer indício, só porque não temos explicação para algumas coisas. Se não temos informação do que era antes do que conhecemos, não cabe a nós inventar uma explicação mais improvável.  Se do dana não vem nada, não podemos do nada tirar um ser perfeito criador de tudo, além do que já está provado o quanto esse ser é falso.
 

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