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UM ATEU GRAÇAS A DEUS - O QUE É A VERDADE?
- 19/07/2001 -
Lida propriamente, a Bíblia é a força mais potente para o ateísmo jamais
concebida. (Isaac Asimov - prêmio Nobel)
Quando
me tornei ateu pela leitura da Bíblia, não conhecia essa frase.
Mas pensei exatamente o que pensou Isac Asimov. Pois nada me deu mais
prova da inexistência do deus judaico-cristão do que o livro que dizem
ser palavra dele.
"Conhecereis a verdade
e a verdade vos libertará" (S. João, 8: 32).
É este o lema de todas as religiões. Cada uma é dona da verdade. No
entanto, todas se contradizem. Destarte, permanece no ar a dúvida e a
pergunta: "Que é a verdade?" (S. João, 18: 38).
O que me fez sentir-me mais distante da verdade não foram as opiniões
contrárias das religiões, mas as existentes na própria Bíblia, que,
segundo todas as religiões, contém palavras divinamente inspiradas.
"É a Bíblia um livro coerente, sem qualquer contradição". É a afirmação
que sempre se ouve dos pregadores religiosos. Recebi a idéia e assim
pensei, porém, ao estudar atentamente, não consegui manter a mesma linha
de pensamento. Contradições saltavam aos meus olhos, e, quando pedia
explicações aos mestres religiosos, suas explanações me soavam
distonantes, não me convencendo da pretensa harmonia. Inicialmente, não
conseguia entender como seria bom (Salmos, 34:8), perfeito (Mateus, 5:
48) e justo (Salmos, 145: 17) um deus que “visita a iniqüidade dos pais
nos filhos até a terceira e a quarta geração” (Deuteronômio, 5: 9). O
homem imperfeito de hoje, pelo menos em teoria, repudia essa idéia,
prescrevendo que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado”
(Constituição Brasileira/88, art. 5º, XLV). Outro questionamento não se
afastava do meu íntimo: Deus falava pessoalmente com Abraão, Isaque,
Jacó e outros, e Cristo se manifestou para converter Saulo no caminho de
Damasco. Por que Deus não fala hoje com ninguém, e como Cristo não vem
mostrar a verdade para tantas pessoas sinceras pertencentes a doutrinas
errôneas? Entre tantos credos divergentes, seria insensatez crer que
todos estão com a verdade, enquanto cada religião considera anticristãs as
opiniões contrárias das outras, sendo uma classificada por outra até como
a Besta do Apocalipse. Tanto orava para que Cristo me mostrasse, pelo
menos em sonho, quem estava com a verdade, contudo nenhuma revelação
recebia.
A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA OS PRIMEIROS ENSINAMENTOS RECEBIDOS
Nascido de família católica, conhecedor do catecismo, até 1975, cria ser
o PAPA o representante de Cristo.
Aprendi que o pecado original foi a relação sexual, e que José nunca
possuiu Maria como esposa; Maria é a mediadora da salvação; que o
batismo é imprescindível, tendo João batizado Jesus e Jesus batizado
João.
O pouco que cheguei a ler a Bíblia foi suficiente para constatar que
tudo isso não era verdade: Se Deus disse "sede fecundos, multiplicai e
enchei a terra", antes de existir o pecado (Gênesis, 1: 27 e 28),
não
podia eu imaginar que ele quisesse que o homem se multiplicasse por
cissiparidade, como as bactérias. Quanto a Maria, se "José ... recebeu
sua mulher, contudo não a conheceu até que deu à luz um filho a quem pôs
o nome de Jesus" (Mateus, 1: 24 e 25), não resta dúvida de que sua
abstinência de relações sexuais teria tido um limite: ele a tomou como
esposa e absteve de relações sexuais apenas "até que deu à luz um
filho", ao contrário do ensinamento recebido. Nenhuma menção de Jesus
batizando João existe na Bíblia, e não pode ser correto o batismo de
crianças, por elas não estarem aptas a "crer" (Marcos, 16: 16) e passar
pela "indagação de uma boa consciência para com Deus" (I S. Pedro, 3:
21).
RECEBENDO NOVA DOUTRINA
Através de minha irmã que conheceu a Igreja Adventista do Sétimo Dia,
chegou-me a informação de que o chamado Vicarius Filii Dei, era a
"besta" do capítulo 13 do Apocalipse; que o "sinal da besta" era a
guarda do domingo, sendo a guarda do sábado o “selo de Deus” (Apocalipse
7: 3 e 4). Conheci a interpretação da profecia de Daniel, capítulo 7, no
livro Pelos Meandros do Mal. “Um tempo, dois tempos e metade de um
tempo" teria sido de 538 a 1798 A.D., período em que o papa perseguia os
que se opunham a seus dogmas e mudou "os tempos e a lei", alterando o
limite do dia do por do sol para meia noite e trocando o sábado pelo
domingo; que seu título - VICARIUS FILII DEI - continha o número da
besta, que o identifica. Confiante de ter encontrado VERDADE, passei a
apresentá-la para todos com quem falava. Estudava constantemente a
Bíblia.
Certo dia, escrevi uma carta a um bom amigo, bom católico, que ficou
escandalizado com o que eu disse, afirmando-me que os papas eram os
sucessores de São Pedro, e que sua igreja era aquela fundada por Cristo.
Mudando para Rondônia, conheci um grupo de adventistas, os quais me
afirmaram que a Igreja Adventista do Sétimo Dia já não era mais a igreja
de Deus, sendo esta os remanescentes chamados Adventistas do Sétimo Dia
Movimento de Reforma. Passei a conhecer várias interpretações e
histórias eclesiástica.
Durante um bom tempo, tinha plena convicção de que estava seguindo a
VERDADE e devia levá-la a todas as pessoas. Discutia muito com aqueles
que não acreditavam na doutrina que eu havia tomado como a verdadeira,
e, muitas vezes, até convencia as pessoas de que estava certo.
A DECEPCÃO
Fiz o chamado "ano bíblico", lendo toda a Bíblia.
Ao chegar ao Novo Testamento, comecei a ter problemas como minha fé:
Ao ler Romanos 14, procurei informações sobre o assunto ali contido,
tive algumas explicações, que não me tiraram todas as dúvidas.
Para Atos 10, encontrei explicações até bem plausíveis.
Ao deparar com as palavras de São Paulo em Aos Colossenses, 2: 16 e 17),
foi outro susto:
“Ninguém, pois, vos julgue por causa da comida e bebida, ou dias de
festas, lua nova ou sábados, pois tudo isso tem sido sombras do que
haviam de vir, porém o corpo é de Cristo".
Alguém me disse que os "sábados" ali mencionados não eram o sétimo dia
da semana, mas aqueles dias sagrados que também eram chamados de sábados
- páscoa, dia da expiação, pentecostes, etc. (Levíticos, 23). Quando à
comida e a bebida, disseram ser as ofertas de manjares e bebidas que se
oferecia pelos pecados.
Fiquei mais desconfiado daquilo em que antes acreditara tanto, porque o
que me disseram ser os sábados era aqueles dias que ali estavam
mencionados como "dias de festas".
Lembrei-me de que o Velho Testamento associava a lua nova ao sábado e às
convocações das congregações (Isaías, 1: 13: 14), outras vezes somente
lua nova e sábado (Isaías, 66: 23). Esse último versículo é até usado
para afirmar que o sábado será guardado a Nova Jerusalém apocalíptica,
assunto que veremos depois.
Não podia me convencer com suas explanações.
O grande pesadelo foi outra predição de São Paulo escrevendo a Tomóteo:
"...nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, por obedecerem a
espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que
falam mentiras, e que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem
o casamento, exigem abstinência de alimentos, que Deus criou para serem
recebidos, com ações de graça, pelos fiéis e por quantos conhecem
plenamente a verdade; pois tudo que Deus criou é bom e, recebido com
ações de graça, nada é recusável, porque pela palavra de Deus e pela
oração, é santificado" (I Timóteo, 4: 1 a 5).
Recebi a explicação de que o texto se referia ao celibato dos padres e
aos jejuns determinados pela Igreja Católica. Não consegui aceitar que
"TUDO que Deus criou é bom e NADA é recusável" significasse "SEMPRE o
que Deus criou é bom e NUNCA é recusável". O jejum ordenado pela igreja
não poderia enquadrar-se no texto. Eu, doravante, me achava preocupado,
receoso de estar seguindo os "homens que têm cauterizada a própria
consciência", ou a "hipocrisia dos que falam mentiras" e "ensinos de
demônios", EM VEZ DA VERDADE.
Permaneci em silêncio, estudando as Escrituras, e orando para que Deus
me mostrasse a verdade. Passei bom tempo com este problema.
Através de um curso bíblico das Cruzadas Mundiais de Literaturas, recebi
dois livrinhos, um intitulado "O Adventista do Sétimo Dia" e outro, "O
que as Testemunhas de Jeová Precisam Saber". Nada encontrei neles que
elidisse minhas dúvidas, embora pretendessem combater as doutrinas
mencionadas nos seus títulos. Não tive nenhum sonho que me informasse
sobre o assunto, embora dormisse sempre pensando nisso.
VENDO PELA ÓTICA CRISTÃ NEOTESTAMENTÁRIA
Certo dia, me despertei de manhã com o problema na cabeça. Comecei a
ligar as passagens bíblicas e ver outro panorama. Imaginei ser o
espírito divino que estivesse me fazendo entender a verdade. Tudo
parecia muito claro, encontrando explicações nunca vista nas igrejas que
negavam as doutrinas adventistas. Parecia-me difícil tudo aquilo ser
criação momentânea de minha própria mente.
Mas hoje tenho explicação para o que ocorreu comigo, como diz a revista
Superinteressante:
“’Enquanto dormimos, nosso cérebro conecta dados que acabou de guardar
com outros acumulados no decorrer dos anos’, afirmou à SUPER o
neurologista Roberto Stickgold, da Universidade Harvard, nos Estados
Unidos. ‘Com essa rede de informações somos capazes de achar desfecho
para situações que, quando estamos acordados, parecem problemas
insolúveis.’ O sono expande os caminhos para a comunicação entre as
regiões do cérebro.” (SUPERINTERESSANTE, nov/99, pág. 32).
Foram estas algumas das respostas que encontrei, vendo pela ótica
neotestamentária:
No folheto "Qual o Dia da Semana a Guarda e Por Que?", dizem os
adventistas reformistas: "O sábado, por ser um sinal da criação, nada tem a ver com
os judeus em particular" (pág. 2). Mas nesse dia compreendi que sim. A
Bíblia informa que a guarda do sábado foi instituída pela primeira vez
no deserto quando da retirada do Egito (Êxodo, 16: 5 e 22 a 30). Foi
instituída como figura do livramento de Israel do cativeiro egípcio e do
repouso na terra prometida, onde não puderam entrar aqueles que foram
desobedientes; pois está escrito: "Assim jurei na minha ira que não
entrarão no meu descanso" (Salmos, 95: 11), isto é, “não entrareis na
terra, pela qual jurei que vos faria habitar nela" (Números, 14: 30),
que não era o dia de descanso, mas a terra em que deviam repousar das
dificuldades vividas antes, assim como do repouso prometido aos cristãos
(Hebreus, 4: 1 e 2). Como Josué não pôde dar ao povo um verdadeiro
repouso, a promessa foi feita novamente, aos cristãos: "Ora, se Josué
lhes houvesse dado descanso, não falaria posteriormente a respeito de
outro dia" (Hebreus 4: 8), o que não é outro dia de repouso em lugar do
sábado como pensam os guardadores do domingo, mas outra promessa de
descanso. Os filhos de Israel, "por causa da desobediência não entraram"
(Hebreus, 4: 6) é na terra prometida. "Não puderam entrar por causa da
incredulidade" (Hebreus, 3: 19). Deus não iria jurar que eles não
guardariam o sábado; pois a guarda do sábado não era uma promessa, e sim um mandamento. Por
isto o quarto mandamento trouxe esta informação: "E tens de lembrar-te
de que te tornaste escravo na terra do Egito e que Jeová, teu Deus,
passou a fazer-te sair de lá com mão forte e braço estendido. É por isso
que Jeová, teu Deus, te mandou observar o dia de sábado".
(Deuteronômio, 5: 15 - Tradução Novo Mundo). Se tal acontecimento foi o
motivo pelo qual se ordenou que guardassem o sábado, então se entende
por que nunca se mencionou o sábado em relação à vida de Abraão, Isaque,
Jacó, etc. A conseqüência não poderia existir antes da causa.
Como, segundo as doutrinas de Paulo, as figuras vigoravam apenas no antigo pacto, Paulo disse: "ninguém
mais vos julgue por causa" de "sábados" (Colossenses, 2: 16). Dizem que
os sábados aqui mencionados são os dias comemorativos em que também
haviam sábados (repousos) conforme Levíticos, 23, o que não fazem ao
citar Isaías, 65: 23. Mas aqueles dias já estão mencionados no texto
como "dias de festa" ("dias de festa, lua nova ou sábados" - três coisas
distintas).
Também afirmam: "O dia de repouso de Deus, o sábado, é chamado o "dia do
Senhor". Comparar Apocalipse l: 10 com Isaías 58: 13 e Marcos 2: 28."
(Página 2). Mas o que é "dia do Senhor" em Apocalipse?
O termo grego kiriake emera (kiriakh emera, Novum Testamentum Graece),
em Apocalipse, 1: 10, em latim é traduzido para dies dominicum, que em
português é dia do Senhor.
A versão católica do Padre Antônio Pereira de Figueiredo traduz a
palavra para "dia de domingo". E, literalmente, este nome, dado ao
primeiro dia da semana, é uma evolução de "dies dominicum". As igrejas
guardadoras do domingo, assim como os sabatistas o aplicam ao sábado,
baseado nesse sentido da palavra, falam do termo usado por João como
sendo o primeiro dia da semana. Quem está certo? O que era "dia do
senhor" para os apóstolos?
Ao se referirem ao sábado, os apóstolos o chamavam pelo seu nome
costumeiro: "sabbaton", forma grega do hebraico "shabath", que foi
latinizada para "sabatum" e evoluiu para o italiano "sabato"
e o português como "sábado"
(Mateus, 12: 10; 24: 20; 28: 1; Marcos, 2: 27; 3: 4; Lucas, 4: 16; 6: 2,
5, 7 e 9; 14: 1; 23: 56; João, 7: 23; Atos, l7:2; Colossenses, 2: 16,
etc.).
Ao falar do primeiro dia da semana, tratavam-no como tal, não lhe dando
nenhum título (Mateus, 28: 1; Marcos, 16: 1: Lucas: 24: 1; João 20: 1).
O título "dies dominicum", segundo informações históricas, foi dado por
decreto imperial ao primeiro dia da semana, anteriormente "dies solis" =
dia do sol, quando o imperador romano se converteu ao cristianismo e a
igreja criou um sincretismo de princípios judaicos e romanos.
Os apóstolos jamais chamaram qualquer dia da semana de dia do Senhor;
mas essa palavra lhes era muito familiar com outro sentido:
"Ah! que dia! porque o dia do Senhor está perto, e vem como assolação do
Todo-Poderoso" (Joel, 1: 15). "...grande é o dia do Senhor, e mui
terrível" (Joel, 2: 11). "Ai de vós que desejais o dia do Senhor... dia
de trevas e não de luz" (Amós, 5: 18). "Porque o dia do Senhor está
prestes a vir sobre todas as nações" (Obadias, 15). "Pois eis que vem o
dia, e arde como fornalha" (Malaquias, 4: 1) "O sol se converterá em
trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do
Senhor" (Atos 2: 20). "... o dia do Senhor vem como ladrão de noite" (I
Tessalonicenses, 5: 2). "Virá, entretanto, como ladrão, o dia do Senhor,
no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo e os elementos se
desfarão abrasados" (II S. Pedro, 3: 10).
Para mim não ficou nenhuma dúvida, ao lembrar esses textos, de que João
estava se referindo ao que sempre chamavam de "dia do Senhor",
o dia do
julgamento divino deste mundo.
"Em espírito", isto é, em visão, João teria presenciado o julgamento divino
deste mundo, conforme vemos em todo o Apocalipse. Por isto, ele disse:
"Achei-me em espírito, no dia do Senhor" (Apocalipse, 1: 10). Significa:
em minha visão eu me encontrei naquele dia, quando Deus irá julgar e
condenar os maus e dar recompensa aos justos. Pois é o dia do juízo
divino que eles chamaram sempre de "dia do Senhor", conforme as
passagens acima.
O SÁBADO NA NOVA TERRA
"Na nova terra, o sábado será guardado por todos os habitantes como o
grande dia comemorativo do Altíssimo, pois assim diz o Senhor: "...de
sábado em sábado toda carne vir prostrar-se diante de Mim..." Isaías
66:22-23" (Qual Dia Guarda e Por Que?, pág. 8).
O texto citado diz: "de uma lua nova à outra, e de um sábado a outro"
(Isaías, 66: 23).
Curioso é que aqui lua nova e sábado são princípios
morais, para serem guardados na nova terra, mas, em Colossenses, 2: 16,
são princípios cerimoniais, sem mais validade. Aqui aceitam que é o
sétimo dia. Lá, dizem ser outros dias. Se o texto de Isaías justifica a
guarda do sábado, também aprova a da lua nova, o que os sabatistas não
guardam.
Não entendem que na Jerusalém de Isaías, haveria MORTE, PECADO e
MALDIÇÃO (Isaías, 65: 20), o que não deveria haver na nova terra do
Apocalipse.
As profecias de Isaías foram feitas durante o cativeiro de Babilônia.
Eram promessas de restauração de Jerusalém após se livrarem daquele
império, mas não a mesma do Apocalipse.
A COMIDA
Antes do Êxodo, já havia a classificação dos animais limpos e imundos
(Gênesis, 7: 2). Era necessária esta distinção quanto aos holocausto,
que deviam ser de animais considerados limpos - símbolo de justiça - e
não animais imundos - símbolo de pecado - (Gênesis, 8: 20).
Porém, quanto aos alimentos, somente depois do dilúvio encontramos ordem
divina para se comer carne. “Tudo o que se move e vive ser-vos-á por
alimento", parecendo não haver distinção entre limpos e imundos quanto a
comer sua carne (Gênesis, 9: 3). O sangue, porém foi proibido como
alimento (versículo 4). Esta proibição nos reforça a idéia de que não se
tenha proibido carne desse ou daquele animal; pois, se o fosse, a
proibição estaria ao lado da do sangue.
Ao separar o povo de Israel dos demais povos, ter-se-ia criado na alimentação o
princípio típico da separação dos alimentos, assim como do povo. Uma
separação compreendida pelos apóstolos cristãos, quando, segundo eles,
já passado o tempo
das figuras (Atos, 10: 14, 15, 28 e 34; 11: 3 a 18).
"Eu, o Senhor vosso Deus, vos separei dos povos. Fareis, pois distinção
entre os animais limpos e imundos, e entre as aves imundas e as limpas
... as quais cousas apartei de vós, para tê-las por imundas... e
separei-vos dos povos, para serdes meus" (Levíticos, 20: 24 a 26).
Do texto acima, é fácil se deduzir que a interpretação cristão é de que a separação entre esses e aqueles
animais era típica da separação entre o povo de Israel e os demais
povos; pelo que, quando chegou o tempo em que não mais se faria
distinção entre israelitas e gentios, o princípio típico não mais teria
razão de ser. As palavras "as quais coisas apartei de vós para tê-las
por imundas" significam que aquelas coisas foram separadas do povo
separado, isto enquanto tivessem de estar separados. Isso fica bem claro
na visão de Pedro. Para lhe mostrar que não havia mais essas separação
dos povos, lhe foi ordenado matar e comer todos os tipos de animais
(Atos, 10: 10 a 13). Pedro recusou-se, dizendo que jamais havia comido
"coisa alguma comum ou imunda" (versículo 14). Por três vezes lhe foi
dito: "Ao que Deus purificou não consideres comum" (Versículos 15 e 16).
E ele entrou na casa de gentios e comeu com eles (Atos, 11: 3). Ele
entendeu bem a mensagem, sabendo que não mais vigorava a distinção,
tanto da coisa figurada como da figura, isto é, tanto a separação entre
os povos quanto entre os alimentos. Isto também foi acentuado por Paulo
escrevendo aos colossenses: "Ninguém, pois, vos julgue por causa de
comida e bebida... porque tudo isso tem sido sombras das cousas que
haviam de vir; porém o corpo é de Cristo ... Se morrestes com Cristo
para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos
sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não
toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens?" (Colossenses,
2: 16, 17 e 20).
Quando houve controvérsia doutrinária, ensinando alguns que os conversos
ao cristianismo se deveriam circuncidar e observar a lei (Atos, 15: 5),
"pareceu bem aos apóstolos" enviar algumas instruções sobre do que
deveriam os cristãos se abster. Entre as abstenções, estavam a
abstinência das "coisas sacrificadas aos ídolos, bem como do sangue, da
carne de animais sufocados" (que normalmente fica impregnada de sangue),
não havendo nenhuma referência a animais imundos (Atos, 15: 22 a 29).
Mais uma prova está aí de que a distinção entre limpos e imundos, como
típica, no entender dos cristãos primitivos, não mais vigoraria para
eles.
Escrevendo aos romanos, Paulo afirmou: "Eu sei e disso estou persuadido
no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para
aquele que assim a considera; para esse é impura" (Romanos, 14: 14).
Aquele que crê de modo diverso e não come essa ou aquela coisa, segundo
ele, não está pecando, mas estará se julgar o que assim o faz (Romanos,
14: 2 a 6). "Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o
homem o comer com escândalo. É bom não comer carne, nem beber vinho, nem
fazer qualquer outra cousa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se
ofender, ou se enfraquecer]", disse ele (Romanos, 14: 20 e 2l). Não
queria dizer, como algum dizem, que, se é bom não comer carne em beber
vinho, comer carne e beber vinho é ruim; pois ele mandou um dos
presbíteros tomar um pouco de vinho (I Timóteo 5: 23). Seu raciocínio
era o de que, quando há alguém se escandalizando por causa de certa
práticas por não compreendê-las, melhor é não fazê-las diante deles.
Vendo assim essas coisas, mostrei para minha família e para um dos irmão
de fé‚ que sempre considerei muito sincero. Eles todos concordaram
plenamente comigo. Chegando o fato ao conhecimento da Igreja, foi um
pastor tentar desfazer o que eu havia explicado. Aqueles que estavam de
mente aberta para entender o sentido das coisas não ficaram convencidos
com o que ele disse; mas os mais firmes na fé, como é normal em
religião, permaneceram crendo naquilo que a igreja ensinava. E, como eu
não queria abalar a fé das pessoas, passei a evitar a propagação dessas
informações. Dias depois, um membro da Igreja encontrou-se comigo e me
disse: "Vou fugir de você; pois você está com o demônio!"; e ele saiu
correndo.
Examinei o que pregavam muitas outras igrejas; porém em cada
uma delas achava doutrinas que não conseguia harmonizar com os textos
bíblicos.
Até esse tempo, eu continuava acreditando que havia a "A VERDADE" na Bíblia. Continuando a
indagar comigo mesmo sobre quem estaria com a verdade, estudei e
interpretei até me cansar e nunca mais consegui encontrar qualquer
ensinamento que pudesse imaginar ser A VERDADE, o caminho ensinado
divinamente.
Em tudo que analisava, via produtos das falhas idéias humanas e não algo
superior como dizem ser a verdade de Deus. O mais marcante foi que,
tentando encontrar uma doutrina perfeita, comecei a encontrar
contradições insolucionáveis na própria Bíblia.
AUMENTO DA DÚVIDA E A CONCLUSÃO CONTRÁRIA
Diante das contradições, não só das religiões, mas também da própria
Bíblia, sofri mais um abalo na fé: já não tinha mais segurança nem da
existência do próprio Deus.
Por mais que buscasse evidência de algo sobrenatural, nenhum indício
conseguia encontrar. Meditando sobre os fatos e coisas existentes ao meu
redor, nada conseguia ver que não fosse coisa natural.
A afirmação de que uma natureza tão perfeita tinha que ter um criador
não poderia ser suficiente para me convencer da existência deste; porque
este também teria que ter sido criado por outro e assim sucessivamente.
Se existisse um criador não criado por outro, por que não ser a própria
natureza desenvolvida ao acaso? Isso, por si só, não pode provar a
existência ou inexistência de algo sobrenatural.
Se os escritores bíblicos se contradisseram e desconheceram realidades
naturais como qualquer outra pessoa da época, como poderiam suas
declarações advirem de um Deus onisciente?
Não tendo sofrido influência de qualquer obra ateísta, jamais tendo
adquirido um livro do gênero antes de escrever o meu, porém ateizando-me
ante a impossibilidade de aceitar as afirmações consideradas palavras de
Deus, achei não haver melhor maneira de definir minha posição
filosófica, como disse Luis Buñuel, como ATEU GRAÇAS A DEUS.
Só muito tempo depois, eu fui perceber que, o
cristianismo se formou em cima da doutrina de Paulo, mas outros autores
do Novo testamento tentavam manter toda a doutrina dos livros sagrados
que hoje chamam de Velho testamento. Dois testamentos é criação
cristã. Nenhuma previsão existiu de que um dia os sacrifícios de
animais seriam substituído pelo de um deus filho. Aquele argumento
de que os ritos mosaicos eram figuras do que estava para vir foi também
invenção paulina.
Eu passei quinze anos calado, tentando não
divulgar minha conclusão de que não existe nenhum deus, porque imaginava
que muitas pessoas iriam se desesperar ao saber que não havia nenhum ser
sobrenatural onipotente protegendo-as e que não haveria essa vida eterna
e sem sofrimento que eles esperam. Todavia, chegou um dia em que não
consegui mais ocultar a minha conclusão, e escrevi o livro "Ateu Graças
a Deus".
Como disse Isaac Asimov, a melhor prova da
inexistência deu deus é a chamada palavra de Deus. Por isso, só me
tornei ateus graças ao deus que me pregaram.
Ver mais sobre o ATEÍSMO
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