O UNIVERSO DE YAVÉ, O CRIADOR QUE NÃO CONHECE A PRÓPRIA OBRA - 04/03/2003 -

 

 

O universo de Jeová (ou Yavé), o deus de Israel, era bem diferente do nosso, bem mais novo, com astros bem menores, predominando a Terra como estrado dos seus pés e o céu como o seu trono. E assim ainda é para muita gente. Normalmente, o criador conhece a própria obra. O que dizer desse?


UM UNIVERSO MUITO JOVEM

Em seis dias teria Yavé feito todo o universo, repousando no sétimo dia. O homem teria sido sua última criatura (Gênesis, 1: 1-31; 2: 1-3).  Todavia, o mesmo livro diz que esse deus criou primeiro o homem e depois os vegetais e, mais depois, os animais (Gênesis, 2: 4-9).

Diante dos irrefutáveis dados comprobatórios de que o universo tem bilhões de anos, alguns ramos religiosos do cristianismo afirmam que cada dia da criação não foi um dia, mas uma fase geológica de milhões de anos.

 

Mesmo que se interprete assim, com base em Gênesis, 2: 4-9, o homem deveria existir desde o começo de todas essas supostas eras geológicas, pois lá está escrito que Yavé criou o homem quando não havia nem vegetais, vindo depois da criação do homem criar vegetais e outros animais.

Entretanto, ainda que se exclua a contradição existente no capítulo 2, a interpretação do dia parece bastante forçada, quando lemos que “foi a tarde e a manhã, o dia primeiro”, o “segundo”, até o “sexto”. O que me parece, com bastante clareza, é que os dias da criação teriam sido mesmo de 24 horas, sendo a tarde e a manhã o período noturno e o diurno.


HOMENS ASSAZ LONGEVOS

Os humanos antediluvianos viveram tanto, que alguns chegaram a quase um milênio. “Matusalém” chegou a “novecentos e sessenta e nove anos” (Gênesis, 5: 27).

Ante a comprovação de que os homens do passado viviam menos do que os de hoje, alguns tentam corrigir a incongruência afirmando que a contagem dos tempos naquela época era diferente, podendo um ano ser o equivalente a um mês.

Com essa interpretação Matusalém teria vivido uns oitenta anos; Mas Sarai, a mulher de A.;NB Mbraão, que aos setenta anos era tão linda que encantou o rei do Egito (Gênesis, 12), seria uma menina de menos de seis anos. E, como a longevidade dos pós-diluvianos foi decrescendo gradativamente, conforme se lê da história do dilúvio até a formação da nação israelita, fica difícil argumentar quando se teria mudado a forma de contar o tempo.

Ademais, o relato do dilúvio põe por terra, de forma inquestionável, essa tese de ano equivalente a mês.

Ao dizer que o dilúvio teve início “no ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês" (Gênesis, 7: 11), a Bíblia já deixa claro que o ano era composto de meses, não podendo equivaler a mês, uma vez que os meses eram compostos de dias, denotando serem equivalentes aos nossos. E quando diz que "no décimo mês, no primeiro dia do mês, apareceram os cumes dos montes" (Gênesis, 8: 5), isso já nos mostra um ano que se aproxima dos doze meses. E os versículos 6 a 12 falam de mais “quarenta dias”, mais “sete dias”, mais “sete dias”, somando cinquenta e quatro dias. E o versículo 13 fala que no “ano seiscentos e um, no mês primeiro, no primeiro dia do mês, secaram-se as águas de sobre a terra”. Isso torna irrefutável que o ano era de doze meses, com aproximadamente trinta dias.

E, para acabar com todas as dúvidas, basta observar que o dilúvio teria começado no “décimo sétimo dia do segundo mês” (Gênesis, 7: 11), e “ao fim de cento e cinquenta dias as águas tinha diminuído” (Gênesis, 8: 3), sendo o “décimo sétimo dia do sétimo mês” (Gênesis, 8: 4), exatos cinco meses de trinta dias.


A TERRA ESTAVA SOBRE AS ÁGUAS DO MAR

No relato da criação, afirma-se que no terceiro dia Yavé disse: “Ajuntem-se num só lugar as águas que estão debaixo do céu, e apareça o elemento seco. E assim foi. Chamou Deus ao elemento seco terra, e ao ajuntamento das águas mares” (Gênesis, 1: 9, 10). E no Êxodo está registrado que o próprio Jeová escreveu nas tábuas do testemunho: “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra” (Êxodo, 20: 4). Essa crença foi mais claramente confirmada quando o salmista disse que Yavé "estendeu a terra sobre as águas" (Salmos, 136: 6). E essa visão permaneceu no Cristianismo, tendo Pedro dito sobre “a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste” (II Pedro, 3: 5).

Nós sabemos que a Terra não está em cima de águas, e sim as águas estão em cima da Terra, enchendo parte de suas depressões formando os oceanos. Um deus que pensa que a Terra está em cima das águas não pode ser um onisciente nem ser o criador dessas coisas.


TERRA PLANA, REDONDA, OU QUADRADA

A Terra não era esférica, mas plana, às vezes redonda, às vezes quadrada. E a visão quadrada é que prevaleceu no cristianismo.

O profeta Isaías falou do “círculo da Terra” (Isaías, 40:22). Mas Ezequiel falou de “quatro cantos da Terra” (Ezequiel, 7: 2). Um a via redonda, outro a via quadrada. E Mateus disse que o diabo levou Jesus “a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo” (Mateus, 4: 8). Aí ficou confirmado que achavam que a Terra fosse plana; pois não poderiam ver todos os reinos do alto de um monte em uma terra esférica. E, se João viu coisas nos “quatro cantos da Terra” (Apocalipse, 7: 1; 20: 8), ela continuou quadrada no Cristianismo. No final da Idade Média, Fernão de Magalhães ainda zombou dessa visão cristã: “A igreja diz que a terra é quadrada, mas eu sei que ela é redonda, porque vi sua sombra na lua. Tenho mais fé em uma sombra do que na igreja.”


AS NUVENS, FORTES DEPÓSITOS DE ÁGUA

As nuvens não eram aquele vapor de água dos nossos dias, mas uma espécie de recipiente, como um lençol, e as águas ficavam sobre elas.

Ele “Prende as águas em suas densas nuvens, e a nuvem não se rasga debaixo delas”, teria dito Jó (Jó, 26: 8).

As nuvens eram como lençóis sobre os quais Yavé prendia as águas. As gotas da chuva deviam ser as águas que vazavam pelos furinhos das nuvens. E o homem de Yavé ficava admirado por as nuvens não se rasgarem debaixo das águas.   Hilário!


O ESTRADO DOS PÉS DE JEOVÁ

Jeová ficava sentado lá em cima no céu, com os pés apoiados na Terra.

Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra o estrado dos meus pés” (Isaías, 66: 1; Apocalipse, 22: 1).

O universo era aquele céu azul que vemos, com um grande número de pequenos astros, com a grande Terra embaixo.

 

O céu que vemos seria um firmamento sólido:

 

"Porventura podes, como Deus, estender o firmamento, que é sólido como um enorme espelho de bronze?" (Jó 37:18).


OS ASTROS ERAM BEM PEQUENINOS

Todos os astros que brilham no céus eram bem pequeninos, minúsculos em relação à Terra, podendo até caírem todos sobre ela.

Só depois de fazer a Terra e toda a vegetação (Gênesis, 1: 11, 12), teria Yavé criado os outros astros:
E disse Deus: haja luminares no firmamento do céu, para fazerem separação entre o dia e a noite; sejam eles para sinais e para estações, e para dias e anos; e sirvam de luminares no firmamento do céu, para alumiar a terra. E assim foi. Deus, pois, fez os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; fez também as estrelas” (Gênesis, 1: 14-16).

Vejam que o maior dos astros era o Sol, chamado de “luminar maior”, que junto com a Lua, o “luminar menor”, eram os “dois grandes luminares”. Ele “fez também as estrelas”, mas essas eram pequeninhas! As estrelas eram tão pequenas, que, quando Jesus prometia retornar após a dispersão dos judeus, disse que “as estrelas cairão do céu” (Mateus, 24: 29), e João, em sua visão do fim dos tempos, viu as estrelas caírem “sobre a terra, como quando a figueira, sacudida por um vento forte, deixa cair os seus figos verdes.” (Apocalipse, 6: 13). Eram bem minúsculas mesmo.  rs

 

E a visão divina era a geocêntrica, com o Sol percorrendo o céu de uma a outra extremidade.  "A sua saída é desde uma extremidade dos céus, e o seu curso até à outra extremidade, e nada se esconde ao seu calor" (Salmos 19:6).  Se esse salmista divinamente inspirado soubesse o quanto os polos são gelados, nem teria dito que nada se esconde ao calor do sol.
 

 

O CONTROLE TOTAL DOS SERES E DOS FATOS. OU NÃO?

Yavé, de lá do seu trono, era o controlador absoluto de tudo. Nada podia acontecer contra a sua vontade. Até as coisas ruins procediam dele. Por outro lado, parece que ele não tinha esse controle total, saindo alguma coisa errada que ele não teria previsto.

"...eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade” (Isaías, 46: 9, 10). “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas. (Isaías, 45: 7). “E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Daniel, 4: 35).

Aí vemos um deus realmente todo-poderoso, de onde provêm o bem e o mal. Mas, em outro lugar, há indício de que isso não fosse assim tão controlado por ele. É que, no Gênesis, está escrito: “arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem na terra” (Gênesis, 6: 6); e também “se arrependeu de haver posto a Saul rei sobre Israel” (I Samuel, 15: 35).

Parece que quem sabe tudo que vai acontecer e comanda tudo não teria motivos para se arrepender. Se ele sabia “o fim desde o princípio”, por que teria que se arrepender de “haver feito o homem na Terra” e de ter “posto a Saul rei sobre Israel”? Isso não parece muito incongruente?

É esse o deus em que grande parte da humanidade acredita, apesar de as coisas hoje serem muito diferentes daquele universo que dizem que ele criou.  Sua onisciência não vai além do que sabiam os homens de três mil anos atrás. Mas, como creem que ele é que fez e comanda tudo, e ele é que irá dizer quem irá para seu reino no céu e também mandará para o inferno os que não acreditarem nele, assim como os que não fizerem as coisas como ele mandou, eles não têm coragem de questionar nada. Dizem que “quem não crer será condenado” (Marcos, 16: 16). A dúvida que deve pairar sobre a mente de quem crer é: o criador conhece bem a própria obra. Por que esse parece desconhecer?  Mas devem tentar desviar o pensamento, com medo e ir para o tal inferno.

 

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