A CIÊNCIA DE VIVER BEM
Pequenas mudanças de atitude podem melhorar sua saúde física, mental e
material.
Conheça 7 hábitos comprovados cientificamente que você deve adotar para ganhar
qualidade de vida
-- e uma coisa que você não deve fazer.
Por Texto: Mariana Sgarioni / Reportagem: Ana Paula Chinelli
Use filtro solar. Coma frutas e verduras. Lembre-se do fio dental. Pratique pelo
menos uma hora de exercícios físicos por dia. Passe longe do torresminho de bar.
Aliás, falando em bar, trate de parar de encher a cara. Aproveite também para
largar o cigarro. Beba dois litros de água filtrada por dia. E durma 8 horas por
noite. Leia mais e sempre. Endireite as costas. Aprenda a meditar. Vá ao
dentista regularmente. Se beber, não dirija. Faça um check-up por ano. Verifique
se suas vacinas estão em dia. Não fique com o rosto colado na tela do
computador. Trabalhe menos, divirta-se mais. Encha o prato com verduras, grãos e
brotos. Esvazie-o de doces e gorduras. Limpe os ouvidos, mas cuidado com o
cotonete. Sexo só com camisinha (aliás, este deveria ser seu mantra). Não dê
pipocas aos macacos. Muito menos coma pipocas de desconhecidos.
Seguindo à risca essa lista de cuidados, é bem possível que você tenha uma vida
mais saudável. E nem precisamos encher estas páginas com estudos que comprovem
tudo o que está dito aí em cima - até porque, convenhamos, você já está cansado
de saber. É bem possível, inclusive, que muita coisa daí esteja entre suas
promessas para o início do ano. Então, resolvemos engordar seus planos para
2006. Pinçamos 7 outras coisas importantíssimas (mas bem menos óbvias) que você
pode fazer - e uma que você NÃO deve fazer - para melhorar consideravelmente seu
dia-a-dia. Fora tudo isso que está aí em cima, lógico. O que não der para
cumprir, guarde para janeiro de 2007. Ou de 2008, de 2009...
1 - Ouça música
Não se culpe se você é daqueles que passam o dia todo com um fone de ouvido
cantarolando por aí. A música tem efeitos muito benéficos para a saúde física e
mental. Já não é de hoje que os cientistas vêm estudando o fenômeno. Entre
outras coisas, a música pode acalmar, estimular a criatividade e a concentração,
além de ajudar na cura de uma porção de doenças.
Em 1999, uma pesquisa feita no Instituto de Psicologia da USP mostrou que
crianças hiperativas conseguem atingir um grau de concentração muito maior se
estiverem ouvindo música - e não estamos falando de jazz ou bossa-nova, mas
de rock pesado. A trilha sonora da pesquisa, que acompanhou crianças entre 9 e
10 anos, era composta pelo guitarrista sueco Yngwie Malmsteen. Embora muitos
roqueiros torçam o nariz para seu heavy metal melódico, é inegável que o cara
faz um tanto de barulho.
Pois essa é uma bela resposta aos pais que implicam quando o filho estuda
curtindo um som. Que o digam aqueles que aprenderam música desde pequenos.
Pesquisas canadenses provaram que crianças que estudam música precocemente
têm desenvolvimento intelectual melhor do que as que não tiveram nenhum contato
com ela.
"A música é capaz de mudar a freqüência das ondas cerebrais. Já foi provado, por
exemplo, que clássicos de compositores como Bach, Beethoven e Mozart deixam as
ondas cerebrais com o mesmo comportamento, ou seja, com o mesmo potencial
elétrico, de um indivíduo em repouso", afirma Luiz Celso Vilanova, médico
neurologista, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "Esse
estado é chamado ritmo alfa e ocorre quando a pessoa está muito relaxada ou não
está pensando em nada, como em algumas meditações."
Entre os clássicos citados, o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart merece um
destaque na sua discografia. O poder do compositor vem sendo alvo de diversas
pesquisas. A Universidade da Califórnia em Los Angeles mostrou, no início da
década de 1990, que a execução da Sonata para Dois Pianos em Ré Maior aumenta
o número de conexões dos neurônios e melhora o raciocínio matemático em
estudantes.
Uma vez que nosso organismo também tem um ritmo interno, ao entrar por nossos
ouvidos, a música faz contato com este ritmo, interagindo com as atividades
biológicas do nosso corpo. É assim que trabalha a musicoterapia, muito
aplicada - e com bons resultados - no tratamento de pacientes com mal de
Alzheimer, epilepsia, esquizofrenia e depressão, entre outras doenças. "Não
existem indicações que comprovem que a música tenha o poder de curar alguém. Mas
podemos dizer que ela está diretamente associada à promoção da saúde", afirma
Luiz Celso. Isso significa que ainda não é possível prescrever um Mozart em
jejum ou duas doses de Beethoven após as refeições. Feita essa ressalva, é certo
que eles podem, sim, trabalhar na prevenção de uma doença que virou epidemia
nos dias de hoje: estresse. Até porque está mais do que provado que música
relaxa - e muito.
2- Prepare-se para envelhecer
Ninguém gosta muito da idéia de vir a ser velho, mas isso é a melhor coisa que
pode acontecer a uma pessoa (pense na outra possibilidade). É bom reservar um
tempo desde já para planejar como você pretende que seja sua velhice. Inclusive
porque é bem possível que essa fase da sua vida dure bastante tempo. Graças aos
avanços no saneamento básico, à descoberta de novas drogas e a fatores
ambientais e de prevenção, estamos vivendo cada vez mais. Em 1900, a expectativa
média de vida no Brasil ao nascer era de 33 anos. Hoje, já estamos na marca dos
67. Estudos demográficos apontam que, em 2025, o brasileiro viverá em média 75,3
anos e, por volta do ano 2050, 2 bilhões de pessoas no mundo terão mais de 60
anos. E, graças a esses mesmos motivos, os velhos estão ficando cada vez mais
velhos.
Sendo assim, duas coisas precisam ser preparadas desde já: saúde e finanças.
Afinal, ninguém quer viver até os 120 anos vegetando numa cama, sem grana e
dando um trabalho danado para o filho de 96 anos.
Para começar, os cuidados para ter um envelhecimento saudável. Valem todos
aqueles que falamos lá no início da reportagem - e que certamente você já ouviu
milhões de vezes. É preciso dar ouvidos à máxima dos médicos, não há muita
saída. "Os sinais de envelhecimento são conseqüência de desgastes físicos e
emocionais que sofremos durante a vida. Os principais são o
estresse, doenças, fumo, bebida em excesso, consumo de
drogas, pouco sono e descuido com o descanso. Os desgastes são
cumulativos, por isso, para envelhecer de forma saudável, é preciso tomar
atitudes ainda jovem", diz a médica geriatra Mariana Jacob, do Rio de Janeiro.
Portanto, arregace as mangas e comece desde já.
Agora, também é importante pensar como estará sua conta bancária. Se você é
daqueles que confiam no INSS, é bom abrir os olhos. O envelhecimento em larga
escala da população preocupa as finanças públicas do mundo todo. No Brasil, o
déficit da Previdência Social ultrapassará R$ 40 bilhões em 2005 e vem sendo um
dos maiores pepinos para os governos. Vá saber como será a aposentadoria daqui a
algumas décadas...
Portanto, é melhor tomar outras atitudes, além de, claro, continuar colaborando
para o INSS. "O ideal é a estratégia da formiga: guardar uma quantia todo mês
e, quando parar de trabalhar, viver desse valor acumulado", afirma o
administrador Ricardo Humberto Rocha. Pegue o lápis e anote a lição que ele
ensina: se você começar a guardar dinheiro aos 30 anos, deve pensar em se
aposentar 40 anos depois, ou seja, aos 70. Durante esse tempo, deve separar 300
reais todo mês. Aos 70, terá acumulado 300 mil reais (valores de hoje, sem
projetar a correção monetária). Na pior das hipóteses, isso renderá 0,5% ao mês,
ou seja, 1,5 mil reais. Juntando isso a uma aposentadoria do INSS de 3,6 mil
reais (o casal), dará uma renda mensal de 5,1 mil reais. "Com 5 mil reais por
mês, um casal de idosos deve viver bem: vai gastar 1,5 mil reais entre plano de
saúde e remédios e o resto paga o condomínio, a alimentação e o lazer."
3 - Tenha fé
Costuma ser mais feliz quem consegue encontrar um significado para a vida. Esse
significado pode estar em qualquer coisa - da filatelia à filantropia. Mas é na
religiosidade que a maior parte da população vai buscar essa razão de viver. E
encontra. Pesquisas mostram que as pessoas religiosas consideram-se, em média,
mais felizes do que as não religiosas. Elas também têm menos depressão, menos
ansiedade e índices menores de suicídio.
"A fé nos conecta com outras pessoas, dá sentido e propósito para nossa
existência, ajuda também na auto-aceitação e sustenta a esperança de que, no
final, tudo ficará bem", diz o relatório de um estudo sobre o assunto do Centro
Nacional de Pesquisas de Opinião dos EUA.
O poder da crença pode ir além do conforto espiritual, ajudando a curar doenças
e aumentando a longevidade. Uma das razões para tanto passa longe do
sobrenatural: a fé traz a reboque uma rotina mais regrada e vínculos mais
sólidos com a família e a comunidade. Quem professa uma crença raramente faz
bobagens como se embebedar e sair dirigindo a 160 quilômetros por hora.
"Existem evidências de que pessoas com atitude positiva e fé têm saúde melhor",
afirma o psiquiatra Frederico Camelo Leão, que defendeu tese de mestrado sobre o
assunto no Hospital das Clínicas de São Paulo. "Isso vale tanto para a
espiritualidade intrínseca, quando a pessoa é voltada a seus valores internos,
quanto a extrínseca, quando a pessoa se associa a grupos e cerimônias. Nos dois
casos, há trabalhos que mostram que essas pessoas tendem a pontuar mais em
qualidade de vida e na evolução do tratamento de doenças."
A fé propriamente dita pode ter efeitos benéficos no corpo humano. Já foi
comprovado, por exemplo, por meio de uma pesquisa da Universidade Duke, na
Carolina do Norte (EUA), que pessoas com fé religiosa conseguem melhorar o
funcionamento de seu sistema imunológico. "Ter uma fé ativa é tão
fortemente associado à longevidade quanto ao hábito de não fumar", afirma
David Myers, professor de psicologia da Faculdade Hope, em Michigan (EUA).
Mas se você não se sente preparado para ligar-se a algum grupo religioso, não
tem problema. A religião não é exatamente a única forma
de explorar a fé, muito menos de dar significado à vida. Quem não se identifica
com nenhum grupo religioso pode procurar outras crenças. E crer em algo não
significa necessariamente ser em Deus. Um ateu
convicto pode ter fé em seu próprio papel na história da humanidade, na justiça
social, no desenvolvimento sustentável do planeta, na democracia. Ou
ainda buscar o significado da vida em algum desafio diferente, como aprender a
escalar uma montanha, cozinhar, tocar bateria, fazer mountain bike. Acreditar
faz bem. Outro caminho é a prática do altruísmo. Isso, inclusive, já
foi testado em laboratório: está comprovado que aumenta os índices de felicidade
e bem-estar. Vale visitar uma creche, colaborar com uma ong, inscrever-se em um
trabalho voluntário - enfim, fazer qualquer coisa que ajude alguém.
4 - Ande mais a pé
Gastar sola de sapato é um dos melhores exercícios que existem, seja para a
saúde física, mental, do meio ambiente ou do seu bolso mesmo. Sim, porque para
fazer caminhadas você não precisa gastar rios de dinheiro com academias
elaboradas, muito menos com personal trainer. Um par de tênis basta. E quando
falamos de caminhada, não estamos nos referindo a nada profissional, que exija
pista adequada e treinamento. Pode ser no seu bairro, no quarteirão da sua casa,
ou até mesmo na escadaria do prédio, na pior das hipóteses.
Os benefícios físicos vão desde a melhora do sistema imunológico, a perda de
peso e a oxigenação do corpo a até mesmo o aumento da nossa inteligência,
acredite. Segundo artigo publicado na revista científica americana Trends in
Neurosciences ("Tendências em Neurociências"), a caminhada aumenta a resistência
cerebral e melhora o desempenho de leitura e aprendizado. E mais: beneficia a
plasticidade do cérebro - a capacidade que ele tem de se adaptar a novas
situações e realizar funções diferentes. Sem contar o efeito no humor. "Andar
diminui o estresse e ajuda muito no combate à depressão", afirma o médico
ortopedista Victor Matsudo, consultor da OMS (Organização Mundial da Saúde).
No corpo, a caminhada ajuda a diminuir a gordura intra-abdominal, aquela que se
acumula entre as vísceras. É a famosa barriguinha de chope. Ela é considerada a
forma mais perigosa de depósito de gordura. Estudos associam diretamente esses
tecidos adiposos a vários problemas de saúde - desde ataques cardíacos,
problemas coronarianos e hipertensão até a formação de pedras na vesícula
biliar.
Mas ainda está dando preguiça? Bem, não é só da forma física que estamos falando
- andar a pé pode ser algo muito mais divertido que fazer uns abdominais e uns
supinos na academia, por exemplo. Se você resolver tirar apenas uma hora do seu
dia para caminhar no seu bairro, vai perceber uma enorme diferença na sua
socialização. "Caminhar permite que você observe muito mais as coisas ao seu
redor, aproveite a natureza, reflita sobre a vida, pense em histórias, lembre
fatos e acontecimentos, faça cálculos, tenha idéias, faça reflexões", diz
Victor. Você vai entrar em lojinhas que nunca percebeu, pedir e dar informações,
falar com gente desconhecida (nessas, você pode acabar até conhecendo o amor da
sua vida). Às vezes também vai tomar um pouco de chuva e pisar em cocô de
cachorro, mas isso faz parte do jogo.
Deixar o carro em casa de vez em quando já pode ser um bom começo para começar a
se exercitar. O trajeto pode ser pequeno - uma caminhada de sua casa até a
padaria ou à banca de revistas -, mas a diferença já aparece. De quebra, você
ainda estará contribuindo para a diminuição da poluição, do trânsito, do consumo
de combustível, entre outras coisas. Outra boa idéia é evitar o elevador e as
escadas rolantes. São atitudes mínimas, mas que vão começar a colocar seu corpo
- e, por tabela, a sua mente - para funcionar.
5 - Tenha (pelo menos) um amigo
Todo mundo quer ser feliz, isso é tão verdadeiro quanto óbvio. O psicólogo
Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia (EUA), passou anos pesquisando o
assunto e concluiu que, para chegar à tal felicidade, precisamos ter amigos. Os
amigos, segundo ele, resumem a soma das 3 coisas que resultam na alegria:
prazer, engajamento e significado. Explicando: conversar com
um amigo, por exemplo, nos dá prazer. Ao mesmo tempo, nos sentimos engajados,
porque doamos muito de nós mesmos a ele. E ainda esse bom bate-papo faz com que
nossa vida adquira um significado mesmo que seja momentâneo.
O cientista social americano Ronald Inglehart analisou diversas pesquisas sobre
qualidade de vida e chegou à conclusão que os ingredientes para uma vida feliz
incluem relações próximas. "Os homens têm o que os psicólogos apelidaram de uma
profunda necessidade de se sentirem incluídos. Os que são apoiados por amizades
íntimas se declararam muito felizes", afirma.
Outro benefício decorrente de ter amigos é manter a saúde em ordem. De acordo
com o psicólogo social David Myers, professor da Faculdade Hope, nos EUA, as
pessoas que têm amizades próximas ou são ligadas à sua comunidade (seja de
colegas de trabalho, de religião ou de organizações por causas comuns) têm menos
possibilidade de morrer prematuramente, se comparadas àquelas pessoas que têm
poucos laços sociais. E perder esses laços aumenta o risco de ficar doente. "A
amizade libera substâncias hormonais no cérebro que favorecem a alegria de viver
e o bem-estar", diz Roque Theophilo, presidente da Academia Brasileira de
Psicologia.
Mas será que todo mundo tem amigos? A resposta não é tão óbvia. Uma das queixas
mais freqüentes no divã de analistas é a solidão. Gente que não encontra ninguém
para dividir com sinceridade suas angústias. Ou que se sente só mesmo quando
rodeada de pessoas - aquela impressão de ter mil amigos, mas na realidade não
ter nenhum. É a chamada superficialidade das relações, tão discutida nos dias de
hoje.
Segundo o psicanalista Contardo Calligaris, o único jeito de ultrapassar a
barreira da solidão é justamente tendo pelo menos um amigo e um amor. Um só de
cada, não precisam ser muitos. Mas isso dá um trabalhão dos diabos, não pense
você que é fácil.
Contardo propõe uma situação hipotética: "Você é meu amigo e me telefona para
jantar. Você passa o tempo todo falando de si mesmo. Quando eu começo a falar de
mim, lá pelas tantas, você diz que precisa ir embora, pois acorda cedo no dia
seguinte. Tudo bem, na próxima vez não vou aceitar o convite e você se sentirá
sozinho." Isso não é amizade verdadeira. "Não se consegue uma amizade sem
generosidade", afirma o psiquiatra. Para termos pelo menos um amigo, diz ele,
precisamos nos livrar daquilo que ele chama de "avareza de si mesmo". Trocando
em miúdos: doar-se, estar disponível, saber trocar. E, principalmente, olhar
além do próprio umbigo.
6 - Coma devagar
Parece até falatório de mãe, mas os benefícios de diminuir o ritmo das garfadas
são incríveis. Para começar, ninguém ganha tempo comendo um sanduíche na frente
do computador - o máximo que você ganha são quilos a mais, uma vez que,
quanto mais rápido come, mais fome sente. "Existem dois centros que
regulam a alimentação no cérebro: o centro da fome e o centro da saciedade",
afirma Arthur Kaufman, coordenador do Prato (Projeto de Atendimento ao Obeso),
do Hospital das Clínicas da USP. "O centro da saciedade demora até 20 minutos
para mandar uma mensagem ao outro de que você está comendo e está satisfeito. Se
você comer muito rápido, vai passar da conta, sentir o estômago estufado antes
que seu centro de saciedade tenha tempo de informar seu corpo de que já está bom
e você deve parar de comer." É isso que acontece numa churrascaria rodízio com
aqueles que comem na mesma velocidade em que os garçons trazem os espetos.
Isso quer dizer que, se você comer mais devagar, provavelmente vai comer
menos sem ter que fazer nenhuma dieta. O que será um ganho danado à sua
saúde. Fora a redução do peso e do risco de doenças aliadas à obesidade, há
diversas pesquisas que apontam que devemos diminuir a quantidade de comida se
quisermos viver mais. Por exemplo, uma experiência conduzida na Universidade de
Wisconsin em Madison, nos EUA, mostrou que a redução do consumo calórico entre
30% e 40% fez aumentar a sobrevida de ratos até os 38 anos - isso corresponderia
a aproximadamente 114 anos em humanos.
Mas e o prazer de comer? Tem razão, é um dos principais prazeres da vida. Mais
um motivo para você comer devagar: vai saborear melhor a comida, apreciar o
prato e o momento, e, de quebra, não vai ficar empanturrado. "Não há nenhum
problema em comer um hambúrguer e uma porção de batatas fritas, desde que você
saboreie o sanduíche, sinta o gosto do que está comendo e comer seja sua
atividade principal naquele momento", afirma Heloísa Mader, representante do
Movimento Slow Food em São Paulo.
Em oposição à moda do fast food, o slow food prega que incrementar a qualidade
da comida e desfrutá-la com calma é uma maneira simples de fazer o nosso
cotidiano mais feliz - conceito, aliás aprovadíssimo pela Associação Dietética
Americana. O movimento quer que as pessoas voltem a curtir a refeição, e não
comer por compulsão ou como uma forma de compensar a ansiedade. Lembre-se disso
quando for buscar um sanduba correndo na padaria para comer entre um trabalho e
outro na frente do computador. "Isso é pior ainda. Quando está distraído,
você não percebe o sinal do centro de saciedade e passa da conta. E o pior:
como não registra a saciedade, dali a 30 minutos vai ter fome de novo", diz
Arthur. E já que o convencemos a comer mais devagar, aproveite para compartilhar
as refeições com quem mais gosta - isso não inclui o computador nem a televisão,
que fique bem claro.
7 - Desligue o TV
Ninguém está dizendo aqui para você nunca mais assistir à televisão. Mas que
você poderia diminuir o tempo em frente ao aparelho, isso você poderia. Até
porque televisão em excesso não faz bem. Telespectadores inveterados podem
ter suas funções cognitivas alteradas, problemas de postura e articulações, além
de tornar-se dependentes da telinha: essa é a conclusão de um amplo estudo
realizado em 2003 nos EUA pelos pesquisadores Robert Kubey, diretor do Centro de
Estudos de Mídia da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, e Mihaly
Csikszentmihalyi, professor de psicologia da Universidade de Claremont, na
Califórnia.
Sim, o hábito de se largar no sofá e assistir a qualquer porcaria que esteja no
ar pode deixar as pessoas viciadas no relaxamento que a TV produz. O problema é
que essa sensação gostosa vai embora assim que o aparelho é desligado - é
igualzinho ao vício em substâncias químicas. O estado de passividade e a
diminuição no grau de atenção, no entanto, continuam. Quando vista por mais de
20 horas por semana, a televisão pode danificar as funções do lado esquerdo do
cérebro, reduzindo o desenvolvimento lógico-verbal.
Faça uma continha rápida: se você assistir à televisão por cerca de 3 horas por
dia, quando chegar aos 75 anos, terá passado 9 anos inteiros da sua vida vendo
TV. É tempo para chuchu sem exercitar a mente nem o corpo, o que pode acarretar
sérios problemas, desde obesidade a até mesmo doenças degenerativas cerebrais,
como demência e mal de Alzheimer.
O cérebro, assim como o corpo, também precisa ser exercitado. Só que ninguém se
lembra dele nas academias de ginástica, por exemplo. A diminuição da capacidade
mental associada à idade ocorre por causa de alterações nas ligações entre as
células cerebrais. Há indícios de que manter o cérebro em atividade ajuda a
aumentar as reservas de células e conexões cerebrais. "O que é bom para seu
coração é bom para seu cérebro. Tudo aquilo que você fizer para prevenir doenças
coronárias também vai ajudar sua cabeça e assim diminuir o risco de desenvolver
mal de Alzheimer", indica a Associação Alzheimer, órgão americano de ajuda e
informação aos portadores da doença.
Segundo um estudo publicado na revista científica Nature, ratos e outros
roedores estimulados com brinquedos e aparelhos para exercícios desenvolveram
células novinhas em folha na região do cérebro envolvida com aprendizado e com a
memória. Portanto, mande ver nas atividades físicas. Agora, é lógico,
lembre-se de botar a cabeça para funcionar também. Ler, escrever, jogar jogos
de tabuleiro, aprender coisas novas, fazer palavras cruzadas, resolver
passatempos de lógica: todas essas atividades mantêm seu cérebro ativo e,
quem sabe, criam reservas de células e conexões. Estudar sempre algo diferente
pode ser um bom jeito de obrigar sua cabeça a pensar mais. Outra idéia que
também contribui para romper a inércia cerebral é praticar atividades ao ar
livre - no mínimo, elas vão arrancar você do sofá e da frente da televisão.
Não leve nada disso tão a sério
Se você leu esta reportagem até aqui - e levou tudo o que está escrito em
consideração - deve estar cheio de tarefas a cumprir. De fato, são dicas que
podem ajudá-lo a melhorar consideravelmente seu dia-a-dia. Mas, sinceramente,
não precisa tanta rigidez. Se der para fazer tudo, ótimo. Se não der, tudo bem
também. E não precisa levar tão a ferro e fogo as milhares de pesquisas que
mandam comer isso e fazer aquilo, caindo em depressão profunda se "fracassar" em
um ou dois itens. Afinal, são as escapulidas que tornam a vida da gente
divertida - ou você acredita mesmo que todas as nutricionistas esguias e
saudáveis só comem refeições balanceadas e todos os médicos fazem ginástica todo
santo dia? Essas pessoas também capitulam à preguiça, comem demais e xingam a
mãe dos outros no trânsito.
Radicalismos e rigidez com regras são um perigo. Podem se tornar uma obsessão e
isso não é bom - mesmo que seja por uma vida saudável. O melhor mesmo para a
saúde é o equilíbrio, a flexibilidade. "Todos os meus pacientes que mudaram o
comportamento e se tornaram mais flexíveis tiveram uma melhora no estado de
saúde. Pessoas muito rígidas, controladoras e perfeccionistas tendem a ter mais
doenças do coração", afirma o cardiologista Alan Rozanski, do Departamento de
Medicina da Universidade Colúmbia, Nova York. Os oncologistas também vêm
avançando em estudos que comprovam ligação entre esse tipo de comportamento
humano e o desenvolvimento de câncer - chama-se "padrão biopsicossocial de risco
de câncer". Ele é caracterizado principalmente por pessoas que negam ou suprimem
as emoções, são muito racionais e têm um controle muito rígido que as impede de
se expressar. Esse perfil diminuiria a competência do sistema imunológico, seja
para prevenir o câncer, seja para combatê-lo durante o tratamento, ou para
impedir que ele reincida.
Edward Creagan, médico oncologista da Clínica Mayo, em Rochester, EUA, é um
ardoroso defensor da flexibilidade para a manutenção da saúde. Mas como chegar
até ela? "Ser resiliente não é seguir os clichês de 'se a vida te deu um limão,
faça uma limonada'. Ser resiliente é não ignorar seus sentimentos, suas dores",
diz. "É também perceber que nem sempre você tem que ser forte, você pode pedir
ajuda. Esses são fatores fundamentais para lidar bem com o estresse e com as
situações ruins da vida. Essa capacidade protege você e seus familiares de
doenças como depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, doenças cardíacas e
diabetes". Está vendo? Até o corpo agradece. E aí? Vai uma picanha no capricho?
Com polenta frita?
Para saber mais
Geriatria em Comprimidos: Para Todas as Idades
Mariana Jacob, José Olympio, 2004
The Pursuit of Happiness
David Myers, Avon Books, 1992
Instituto Médico Mente/Corpo
www.mbmi.org/home
Associação americana contra o mal de Alzheimer
www.alz.org
OMS (Organização Mundial da Saúde)
www.who.org
SUPERINTERESSANTE,
edição, 222, jan/2006
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SAÚDE