7 coisas que uma garota de programa gostaria que você
soubesse
Conheça alguns fatos sobre as pessoas que estão mercado
do sexo pago, atividade cercada de preconceito e tabus
ainda hoje
Por
iG Delas
02/09/2020 07:00
Atualizada às 01/09/2021 13:41
O universo das trabalhadoras sexuais é vasto e repleto
de tabus. Nadia Gonçalves* tem 25 anos, é formada em
Direito e decidiu se tornar acompanhante de luxo aos 24.
Para isso, largou o emprego no escritório e terminou um
relacionamento longo. A decisão foi tomada com o
objetivo de ter uma vida mais confortável e com mais
liberdade. Nesse contexto, Nadia conversou com o Delas e
contou sete fatos sobre a vida de uma acompanhante de
luxo que você provavelmente não sabia.
Não existe apenas um tipo de homem que busca o serviço
de garotas de programa, geralmente cada profissional
atrai um tipo de perfil
Unsplash/Artem Labunsky
1. Nem todas as prostitutas são vítimas
“Acho importante salientar que dentro do mundo da
prostituição existem diferentes vertentes e caminhos.
Exploração sexual, tráfico de pessoas e prostituição são
coisas completamente distintas”, afirma Nadia. A garota
garante que no próprio caso, por exemplo, foi uma
decisão muito consciente, tomada após muita pesquisa
sobre a profissão e que não tem nenhum arrependimento.
2. O perfil do cliente depende do perfil da
profissional
No caso de acompanhantes de luxo, existe sempre um
filtro feito pela profissional na hora de sair com um
possível cliente. Algumas são mais abertas, não têm
muitas restrições e até contratam um agente para fazer
essa seleção. Nadia prefere ser responsável por essa
função e prioriza qualidade acima de quantidade. “Isso
varia de menina para menina, eu trabalho dessa forma
porque gosto de fidelizar o cliente, é muito raro um
cara só sair uma vez comigo, sabe?”, relata.
3. As acompanhantes não realizam todas as práticas e
fetiches, independente do dinheiro
Nadia trabalha com esse perfil mais exclusivo e sempre
antes de ir para um encontro -- palavra que prefere ao
termo “programa” -- traça um perfil do cliente, assim,
já sabe se as práticas e os interesses do cliente se
encaixarão com os seus. Além disso, ela conta que o que
acontece nos encontros varia muito de acordo com a
química e o momento. Por exemplo: nem sempre faz sexo
anal, mesmo gostando da prática. “Eu não realizo tudo,
não adianta o cara chegar com 10 mil reais, 20 mil e
falar ‘caga em um pratinho’, não vai rolar. Se o cara é
fetichista, eu já pergunto o que ele quer realizar e eu
consigo saber se estou dentro do que ele busca”, conta a
acompanhante.
4. Grande parte dos clientes vão para o programa
preocupados com o prazer da garota
“As minhas transas foram muito melhores depois que eu me
tornei acompanhante”, diz Nadia, que afirma que a
primeira vez que teve um orgasmo com sexo oral foi com
um cliente. Segundo ela, a maioria dos homens acaba se
preocupando mais com o prazer dela do que deles
próprios.
5. Muitas mulheres optam por trabalhar em boates para
não precisarem se expôr
Para conseguir lucrar sendo autônoma nesse meio, é
necessário saber usar redes sociais e pagar anúncios.
Segundo Nadia, isso faz com que muitas mulheres
continuem trabalhando em casas, muitas vezes por terem
medo da família descobrir. Outra coisa que pesa nessa
decisão é a praticidade de não precisar ter um local.
Nadia é autônoma e recebe seus clientes na própria casa.
“Eu prefiro assim, me sinto mais segura e fico 24h por
dia disponível”, diz.
6. Existem garotas de programas mais “passáveis” do
que outras
De acordo com Nadia, as garotas que não estão dentro do
padrão estereotipado de prostituta -- com mega hair,
silicone nos seios e no bumbum, etc -- acabam tendo mais
passabilidade de entrar na vida do cliente como se fosse
uma ficante ou namorada. Com isso, ela já participou de
eventos como festa de família, de confraternização de
empresas, casamentos e até dormiu na casa da mãe de
clientes.
7. O preconceito de achar que garotas de programa não
são para casar vem mais de mulheres
“Muita gente fala ‘ai, você sofre preconceito na hora de
namorar, os caras têm pé atrás por conta da sua
profissão?’ e, gente, não existe isso não. Parece que
quando você é puta os caras querem mais ainda, porque
querem te comer de graça”, confessa Nadia. Ela acredita
que esse tipo de pensamento é muito mais alimentado por
mulheres por uma questão de rivalidade feminina criada
pelo patriarcado.
Nadia também mencionou que com todas as nuances e
possibilidades dentro do trabalho sexual, as opiniões
sobre ele são bem divididas mesmo dentro do movimento
feminista. Para formar uma opinião sobre o assunto é
necessário entender quanto questões como raça, classe
social e identidade de gênero influenciam na realidade
dessas trabalhadoras. Essas complexidades são abordadas
em livros como "Putafeminista", escrito por Monique
Prada, uma trabalhadora sexual e "Direito à
Prostituição", da advogada e pesquisadora Alessandra
Margotti.
*Nomes fictícios para preservar a imagem da fonte.