DEFESA DO DEUS QUANTO AOS ERROS DA BÍBLIA

A verdade não é a verdade?  A Bíblia transmite o pensamento equivocado do homem, e não a informação divina?  Parece que é isso que o estudo a seguir está sugerindo para defender o deus dito onisciente.

“Dentro de seus objetivos, a Bíblia, como plano de Deus, não contém, nem pode conter erros. Qual o objetivo fundamental da Bíblia? Revelar o propósito de Deus e sua presença atuante no Universo, na História, na Vida de todos os povos. Também o povo de Israel foi percebendo gradativamente a revelação do projeto de vida na sua história, de acordo com sua cultura e a sua cosmovisão, isto é, sua visão do universo.

A compreensão de mundo que eles tinham naquele tempo era muito diferente da nossa hoje, como pode ser conferido na figura abaixo. Portanto não faz sentido comparar a visão de mundo que transparece na Bíblia com a visão que temos hoje com o progresso da ciência.

Representação gráfica da concepção hebraica do mundo. A morada Celeste de Deus fica acima das águas superiores. Abaixo dessas águas estão o firmamento ou céu, que se assemelha a uma tigela emborcada, sustentada por colunas. Através das aberturas na abóboda as águas superiores caem sobre a terra, como chuva ou neve, A terra é uma plataforma sustentada por colunas e rodeada de água, ou mares. Por baixo e ao redor das colunas, estão as águas inferiores. Nas profundezas da terra está o Xéol (hebraico), ou Hades (grego), a morada dos mortos. Esta mesma concepção pré-científica do universo também era a dos povos vizinhos do povo hebreu.

A Bíblia não é um livro de ciências e nem de história

A Bíblia é interpretação da história. Nem tudo o que está narrado nos livros históricos (de Josué até 2º Macabeus) aconteceu do jeito que está escrito. As Escrituras interpretam a história, a vida, por isso é historiografia. Descrevem a experiência de Deus que as pessoas e o povo fazem. Por isso, é correto dizer que, ao estudarmos um texto bíblico, estamos na verdade interpretando uma interpretação. A historiografia é o fato contado ou escrito.

A Bíblia é um livro que nasceu aos poucos. Nasceu da vida de um povo que tentou ser fiel a Deus presente no cotidiano.

Antes do texto escrito vêm experiências vividas pelas mais diferentes pessoas e em lugares variados. Todas essas experiências foram sendo contadas, recontadas de forma oral, durante muito tempo. Só então a memória virou texto.

Sobre os mesmos fatos foram surgindo diferentes tradições de acordo com o meio onde eram narradas, recontadas e escritas. Na cidade, nos palácios e no templo a reelaboração era de um jeito. No campo era outro. Cada qual de acordo com seus condicionamentos, interesses, limites e horizontes.

Aos poucos, as tradições foram agrupadas dentro de narrativas ou conjuntos maiores, adquirindo um novo colorido, fornecendo respostas novas a novas necessidades, até o texto chegar à sua redação final como temos hoje.

A Bíblia não descreve uma história “factual”, mas “intencional”. O mais importante não é o “fato” em si, mas a “intenção” que o autor quer transmitir. Consequência disso é que a pergunta certa a ser feita ao texto bíblico não pode ser: “o fato foi ou não foi assim?” mas a pergunta correta é: “qual a intenção de quem escreveu o texto?” ou: “o que o texto quer dizer?” ou ainda e melhor: “qual é a mensagem que se quer transmitir?”.

Para exemplificar: vamos ler Gn 4, quando se lê como fato histórico não se consegue explicar de onde veio a mulher de Caim, quando naquele momento, se lermos ao pé da letra, apenas existiam Adão, Eva e Caim. Se, no entanto, vamos ao texto em busca da intenção do autor, do sentido do texto, certamente encontraremos uma resposta.

Outro exemplo: comparar Gn 1,1.2-4a com Gn 2,4b-25. São dois quadros bem diferentes para revelar o sentido profundo da vida. A primeira reflete a situação do povo no exílio da Babilônia ao redor do ano 550 A.E.C. A segunda, ao relatar o plano de Deus para a criação e a humanidade, retrata como o povo alimentava sua esperança na época da opressão do rei Salomão ao redor do ano 950 A.E.C.

<https://areopago.teo.br/biblia/introducao-a-biblia-pt-3/>

Nota-se aí que a intenção do autor no grupo de estudo da Bíblia é, como popularmente se diz, livrar a cara do deus em relação aos grosseiros erros de quem quem seria onisciente.    É realidade que ao longo da história os contos mudam de acordo com o pensamento vigente em cada época.  Mas, atribuir esses erros simplesmente ao povo e livrar o deus não é tão simples como pretendem.   Mesmo que se admitam equívocos dos povos após o Pentateuco (os cinco livros atribuídos a Moisés), e por cima disso se queira justificar erros de tradução para não admitir que seu deus era geocentrista e terraplanista, vale lembrar que até a primeira destruição do templo, os judeus tinham as duas tábuas do testemunho que teriam recebido palavras escritas pelo dedo de Yavé, e, assim, nelas não poderia haver equívoco.  E exatamente o primeiro mandamento confirma o pensamento geocêntrico e terraplanista de que ele “estendeu a terra sobre as águas” (Salmos, 136: 6); pois teria sido o próprio deus a confirmar isso, ao emitir a proibição de fazer imagem do que há “nas águas debaixo da terra” (Êxodo, 20:  4 e Deuteronômio, 5: 8).

Diante das tábuas do testemunho, não há como negar que o suposto deus onisciente teria estendido aquele disco de terra e rochas sobre as águas daquele oceano que já existia antes de Yavé iniciar a criação dos céus e da Terra.  

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