A CONFUSÃO ECONÔMICA E O DRAMA DO TRABALHADOR
PÚBLICO
- 04/01/2003 -
Eu não estudei economia, não consigo entender os problemas
econômicos do nosso país. Mas parece que os economistas também não têm como
resolvê-los. Explica-se que é necessário aumentar juros e diminuir o dinheiro
circulante para conter a inflação, e isso traz queda do comércio e da indústria,
aumenta o desemprego e diminui a arrecadação tributária. É como agravar uma
doença com o tratamento de outra.
Um artigo da revista Superinteressante (dez/2002, págs. 38 e 39) abordou a
matéria informando que, se o governo baixasse os juros, provocaria a fuga dos
capitais estrangeiros e das aplicações de poupança, e não teria dinheiro para
pagar seus débitos; além disso, as pessoas empregariam dinheiro em negócios ou
consumo acelerando o crescimento econômico e resultaria inflação, porque
“qualquer vendedor sabe que quando a procura é grande está na hora de aumentar
os preços.” Até o Lula, que tanto maldizia o capital expeculativo, logo após
vencer as eleições já afirmou que manterá os juros altos o quanto for necessário
para evitar a inflação.
Mas o que corrói tudo de quem está com pouco não me parece ser a tal taxa Selic,
que está sempre próxima dos 20% ao ano, ora mais ou menos. Se preciso de um
empréstimo, nem se fala na tal Selic. Tenho que pagar juros de três, quatro,
cinco, dez ou mais por cento, mas é ao mês. Se entrar no cheque especial,
raramente o prejuízo fica menor que dez por cento ao mês. Se minha conta fica
devedora, o banco me cobra taxa de excesso cumulada com taxa de acatamento de
cheque, podendo chegar a mais uns vinte e poucos reais, mesmo que eu tenha
ultrapassado o limite em alguns centavos por algumas horas. Se eu emprestar
dinheiro para alguém e cobrar três ou quatro por cento, já poderei ser
enquadrado no crime de agiotagem; mas se um banco me cobrar doze por cento ou
mais não estará fazendo nada de errado, não obstante a Constituição proíba juro
acima de um por cento ao mês.
Não temos como negar os efeitos apontados na revista acima. Mas por que será que
nos Estados Unidos os juros são baixos e não resultam em inflação? Parece que
aqui só o aumento da miséria é solução para o nosso País! Os salários ficam
cada vez mais baixos para o consumo não aumentar e causar inflação. As
alíquotas tributárias são cada vez mais altas para compensar as perdas de
arrecadação. Há anos, alguém disse que a indexação salarial é como “o cachorro
correr atrás do rabo”. Mas os arrochos salariais que se seguiram equivalem a ir
cortando aos poucos o rabo do cachorro.
Parece que agora o Lula já está passando a entender que o trabalhador não pode
ganhar bem, sob pena de haver inflação. Pretende reduzir o direito de
aposentadoria dos servidores públicos, esquecendo-se de que os servidores pagam
muito pelos direitos que têm (enquanto um trabalhador de empresa privada tem
desconto previdenciário sobre valor máximo que pode receber na aposentadoria, o
servidor público tem o desconto sobre a integralidade do seu vencimento,
fazendo, assim, jus à aposentadoria integral). Seria justo alguém ter desconto
sobre todo o seu salário e na hora da aposentadoria receber apenas uma parte
dele tal qual uma pessoa que só tem desconto sobre aquela parte? Ou ele
determinará a devolução do que temos pagado a mais? Não deve estar pensando
nisso, mas é nosso direito. Como, por justiça, temos que pagar somente até o
limite do nosso direito de aposentadoria, aí sim, não haverá arrecadação
previdenciária para custear as aposentadorias dos que estão hoje recebendo
proventos integrais.
Prece que já se pode vislumbrar o Lula “lá” do outro lado, e tudo devendo
permanecer como antes. Gostaria de acreditar que não; mas parece que
continuaremos a ser os acusados como culpados dos males do País. Espero estar
enganado. Depois de oito anos de corrosão dos vencimentos, será que perderemos
mais em proventos? Não está parecendo nem um pouco haver intenção de repor
nossas perdas brutais da tenebrosa era FHC. Após os OITO ANOS de aviltamento sem
reposição, fala-se que teremos quatro por cento de reajuste, enquanto os
parlamentares, que não acumularam essas perdas, se deram cinqüenta e quatro por
cento. Mas vou pensar que isso seja um sonho, aliás, um pesadelo.