Como qualquer outro deus, Alá nunca está lá quando os fiéis se veem em perigo.
"Massacre evitável
José Carlos Alexandre
Como em anos anteriores, com incontável número de mortos e feridos, a
peregrinação de ontem [13/01/2006] na Arábia Saudita, resultou em tragédia.
Num lamentável tributo ao profeta Maomé que fez o mesmo trajeto há 1.400 anos.
Estava assistindo multidões e multidões passando pelo deserto em direção às
cidades sagradas sábado, na TV a cabo que retransmite canais em língua árabe.
Todos de branco, uma mochila azul, rezando, sempre rezando, acompanhados por
aparelhagens móveis de som
Gente fiel a Alah, independentemente de suas posses, status social
Pessoas que parecem trazer no semblante qualquer coisa de satisfação pessoal, de
tranqüilidade de espírito
Mal sabendo, talvez que caminham para a morte.
Se alguém der um espirro mais forte,
Um estampido que for, um balão que estoure e eis o pânico e a inevitável morte.
O governo saudita começa a se mexer, é verdade.
E anuncia a substituição da ponte de Jamarat por outra, moderna, com entradas e
saídas em quatro níveis,
um projeto superior a um bilhão de dólares.
Mas dólares na Arábia Saudita (plena de petróleo) não são problemas.
O que não pode continuar é esse quase massacre anual de fiéis.
PEREGRINAÇÃO - A morte no hajj
Corre-corre resulta na morte de 345 pessoas e 289 ficam feridas
Meca - Um corre-corre durante uma das etapas da peregrinação anual (o hajj) dos
muçulmanos a Meca, na Arábia Saudita, causou ontem a morte de pelo menos 345
pessoas e ferimentos em 289, segundo os primeiros dados do Ministério da Saúde
do país. A grande maioria dos mortos é originária do sul da Ásia, segundo a TV
saudita. Foi a pior tragédia do hajj em mais de uma década. As vítimas foram
esmagadas quando se dirigiam, em meio a milhares de outros fiéis, ao Al-Jamarat,
os três pilares que representam o diabo e ficam na localidade de Mina, a poucos
quilômetros dos locais sagrados de Meca.
O Al-Jamarat é um conhecido gargalo para a multidão de cerca de 2,5 milhões de
pessoas que este ano realiza a peregrinação a Meca, um dos preceitos do
islamismo. De acordo com o ritual, os peregrinos devem lançar pedras contra
essas colunas para livrar-se de seus pecados. Segundo o general Mansour
al-Turki, porta-voz do Ministério do Interior, o tumulto começou quando os
peregrinos iam realizar o último dos três dias de lapidação do diabo, pouco
antes do pôr-do-sol.
MALAS
Nesse momento, algumas malas caíram de ônibus que passavam diante de um dos
acessos para Al-Jamarat. Alguns peregrinos começaram a correr e a se amontoar.
Os pilares se encontram sobre uma grande e comprida ponte de pedestres sobre a
planície deserta de Mina. O corre-corre começou na base de uma das rampas de
acesso à ponte. As TVs árabes mostraram fileiras de cadáveres estendidos sobre
macas no pavimento e cobertos com lençóis. ¨Escutei gritos e ao olhar para trás
vi gente saltando uns sobre os outros. Veio a polícia e cercou o lugar.
Começaram a retirar corpos. Não pude contá-los. Eram muitos¨, relatou a
peregrina egípcia Suad Abu Hamada.
PARA A MORTE
Outro egípcio, Ahmed Mustafá, disse ter visto os corpos sendo levados em
caminhões refrigerados. ¨Era como a estrada para a morte¨, comentou um peregrino
que não quis dar o nome, descrevendo um cenário com mulheres desmaiando e as
pessoas se acotovelando e empurrando. A confusão aumentou porque milhares de
pessoas se dirigiam para os pilares enquanto outras buscavam o lado da saída na
ponte.
Muitos tentavam pegar pertences que haviam caído. Feridos foram levados para os
hospitais de Mina, Meca e Riad. Desde 1990 houve sete tumultos com grande número
de mortes perto dos pilares representando o diabo. No hajj deste ano, o
desmoronamento de um hotel que abrigava peregrinos, no dia 5, em Meca, causou a
morte de 76 pessoas e ferimentos em dezenas. Depois das sucessivas tragédias nos
anos 90, as autoridades melhoraram a circulação nos lugares por onde devem
passar obrigatoriamente os milhões de peregrinos. Ampliaram a ponte e as rampas
de acesso, além de manter uma força de segurança de cerca de 60 mil homens para
controlar a multidão e impedir ataques de extremistas islâmicos.
ATENTADOS
Para evitar as grandes aglomerações, vários clérigos emitiram editos religiosos
(fatwas) autorizando os peregrinos a começar o ritual do apedrejamento pela
manhã. Pela tradição, essa etapa tem de ser cumprida depois das preces do
meio-dia e antes do pôr-do-sol. Além disso, o governo saudita passou nos anos 90
a limitar o número de participantes do hajj, estabelecendo quotas por país,
conforme sua população. Para cada um milhão de habitantes é autorizado o envio
de mil peregrinos.
As autoridades também temem que o evento seja usado para atentados ou protestos
de radicais islâmicos. Em 1987, 402 pessoas, incluindo 275 iranianos partidários
do aiatolá Ruhollah Khomeini, morreram durante uma manifestação de protesto em
Meca contra a política americana no Oriente Médio. (AE/AP)
OS DRAMAS DA PEREGRINAÇÃO
1975 - Dezembro: um incêndio num acampamento de peregrinos perto de Meca deixou
200 mortos. Um bujão de gás explodiu e o fogo se propagou rapidamente pelas
barracas.
1979 - 20 de novembro: várias centenas de homens armados hostis ao regime
saudita se instalaram durante duas semanas na Grande Mesquita de Meca
e tomaram
dezenas de peregrinos como reféns. A invasão da Mesquita ocorreu no dia 4 de
dezembro, sob a orientação de três militares franceses do GIGN (Grupo de
Intervenção da Gendarmeria Nacional) enviados por Paris a pedido de Riad.
Balanço oficial: 153 mortos, 560 feridos.
1987 - 31 de julho: as forças da ordem sauditas reprimem uma manifestação
proibida de peregrinos iranianos (402 mortos, entre eles 275 iranianos, segundo
um balanço oficial saudita). As relações diplomáticas irano-sauditas foram
rompidas no dia 24 de abril de 1988. Os iranianos estarão ausentes da
peregrinação até 1991.
1989 - 10 de julho: um duplo atentado nas proximidades da Grande Mesquita de
Meca deixou um morto e 16 feridos. Dezesseis xiitas kuwaitianos acusados de
serem os autores do atentado são executados no dia 21 de setembro.
15 de julho: cinco paquistaneses foram mortos e outros 34 ficaram feridos num
incêndio num acampamento perto de Meca.
1990 - 2 de julho: um tumulto ocorreu num túnel de Mina, ao sul de Meca, depois
de um defeito no sistema de ventilação. 1.426 peregrinos, asiáticos em sua maior
parte, morreram asfixiados.
1994 - 24 de maio: 270 peregrinos morrem num tumulto durante o ritual de
apedrejamento de Satã em Mina, por causa de um ¨fluxo recorde¨ de peregrinos,
segundo as autoridades.
1995 - 7 de maio: três pessoas foram mortas e 99 outras ficaram feridas num
incêndio num acampamento de peregrinos perto de Mina.
1997 - 15 de abril: um incêndio provocado por um aquecedor a gás devasta os
acampamentos de barracas de peregrinos no vale de Mina, deixando 343 mortos e
mais de 1.500 feridos.
1998 - 9 de abril: mais de 118 peregrinos foram mortos e mais de 180 ficaram
feridos num tumulto em Mina, durante o rito de apedrejamento de estelas.
2001 - 5 de março: 35 peregrinos, 23 mulheres e 12 homens foram mortos e vários
outros ficaram ligeiramente feridos durante um rito de apedrejamento.
2003 - 11 de fevereiro: 14 fiéis, entre eles seis mulheres, morreram no primeiro
dia de apedrejamento de estelas em Mina.
2004 - 1º de fevereiro: 251 pessoas morreram num tumulto em Mina, no primeiro
dia de apedrejamento de estelas.
2005 - 23 de janeiro: 29 peregrinos morreram nas enchentes provocadas pelas
chuvas mais intensas dos últimos 20 anos no país, que atingiram a região de
Medina (oeste). Na véspera, três peregrinos morreram durante tumultos ocorridos
durante o ¨apedrejamento de Sat㨠em Mina.
2006 - 6 de janeiro: 76 pessoas morreram no desabamento de um hotel na cidade de
Meca. 12 de janeiro: 345 peregrinos morreram num tumulto durante o ritual de
apedrejamento de estelas."
(Diário da Tarde, 13/01/2006)
Observa-se que a freqüência com que ocorrem esses desastres é cada vez maior.
Muitos cristãos dizem que essas tragédias acontecem porque eles não adoram a
Deus segundo a vontade desse deus. A vontade divina é o que fazem os cristãos
que tiverem interpretando esses fatos. Os judeus também devem ter suas versões.
Nós, entanto, observamos o seguinte:
1 - o serem eles um grande número favorece o desastre, razão por que nos últimos
anos a situação tem agravado.
2 – ao mesmo tempo que demonstram uma grande devoção ao seu deus,
sabem que Alá nada faz por eles frente aos inimigos. Se acreditassem
realmente na proteção de seu deus, não iriam se desesperar diante de qualquer
ameaça.
Assim como Yavé não deu o controle do mundo aos hebreus, e eles caíram
sucessivamente sob o domínio dos povos adoradores de outros deuses, os fiéis de
Alá, inconscientemente, entendem que não podem contar com nenhuma proteção
divina, ainda que digam o contrário.
3 - O fato de perderem a fé na ajuda divina quando veem o perigo os torna ainda
mais vulneráveis aos desastres, uma vez que cada um quer passar por cima dos
outros.
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