Eu tenho meu próprio texto sobre a chamada reencarnação.
Entretanto, achei por bem publicar aqui a palavra do famoso Padre Quevedo sobre
o assunto:
Padre Quevedo e a Reencarnação
Morrer e voltar à vida num corpo e
época diferentes. Esta é a linha de pensamento dos espíritas. Vale lembrar que
reencarnação e ressurreição são conceitos absolutamente distintos. Uma leitura
equivocada da Bíblia pode criar falsas expectativas sobre a morte.
A reencarnação não foi revelada do “além-túmulo”. Em primeiro lugar, porque não
há comunicação dos mortos com os vivos. Trata-se, isto sim, de manifestações do
inconsciente e, como tais, deixam-se até influir pelo ambiente. Assim, as
“revelações” aos espíritos latinos, ou aos teósofos, falam em reencarnação. Mas,
se os “espíritos dos mortos” (na realidade, o inconsciente) se manifestam aos
espíritas anglo-saxões, é freqüente que ataquem ou ridicularizem a reencarnação.
Os espíritas não-reencarnacionistas são chamados davianos, por ser o
anti-reencarnacionista Davis, o principal teórico do espiritismo não-latino,
seguido por milhões de espíritas. Daniel Douglas Home, o mais famoso médium
espírita de todos os tempos, recebeu comunicações do “além-túmulo” (?)
ridicularizando ao máximo a teoria da reencarnação. Se "os espíritos dos mortos
aparecem a uma freira, falam do purgatório, do céu, pedem missa, comunhão...”
E quando se manifestam aos ocultistas, falam-lhes do mundo astral, e assim por
diante.
Não é do além que veio a doutrina da reencarnação. Muito menos foi revelada por
Cristo ou na Bíblia – como se apregoa nos livros dos reencarnacionistas. Eles
citam, por exemplo, o evangelho de São João, quando Cristo disse a Nicodemos:
“Em verdade, te digo, ninguém, se não nascer de novo, pode ver o reino de Deus”.
Quando, porém, Nicodemos perguntou como alguém poderia voltar ao seio de sua
mãe, Cristo explicou que as suas palavras não deveriam ser entendidas num
sentido reencarnacionista, mas, sim na ordem sobrenatural, no renascer à vida da
graça pelo batismo. Cita-se ainda São João Batista como sendo a reencarnação de
Elias. Na realidade, Elias, no conceito dos judeus, ainda não morrera. Por isso,
não poderia se reencarnar, claro. As frases bíblicas em que se anuncia São João
como precursor de Cristo no Espiritismo e no poder de Elias (Ls. 1, 17) não têm
nenhum sentido reencarnacionista. O próprio Batista, perguntado se ele era Elias
que teria voltado, respondeu: “Não sou Elias” (Jô. 1, 21).
Toda a doutrina de Cristo sobre a transferência eterna desta vida, sobre os
sacramentos, a graça e redenção contradiz a teoria reencarnacionista. Ao ladrão
crucificado com Cristo (quantas reencarnações esperariam a um ladrão, segundo a
teoria reencarnacionista), ele disse: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo
no paraíso” (Lc. 23,43). A doutrina de Cristo é resumida claramente por seu
apóstolo quando escreve: “Está estabelecido que os homens morram uma só vez,
depois disto se fará o julgamento" (Br nove, 27). Quanto ao "argumento”, das
desigualdades humanas, a própria médium espírita Anatólia Bari o refuta: “É para
resolver as desigualdades que os espíritos (para os latinos) ensinam a
reencarnação? Não sabem que não há dois seres, duas coisas completamente iguais
na natureza e que não se pode encontrá-los nem no espaço imenso e nem ao longo
do tempo?”...
Pessoas nascem com deficiência física ou mental. Acaso não há falhas na natureza
também nos animais, nas plantas? Aquela árvore retorcida, com ramos secos, a
ovelha que nasceu com duas cabeças morrendo poucos dias depois, tudo isso é
devido à reencarnação? E o que dizer do problema da dor? Seria castigo da
imoralidade em vidas anteriores? Que absurdo! Os heróis, as vítimas inocentes da
crueldade humana, os apóstolos, a Santíssima Virgem ao pé da cruz, o próprio
Cristo seriam então até dignos de desprezo? Teriam tido as piores e mais imorais
existências anteriores?
Apresentar “lembranças” de vidas anteriores como prova de reencarnação supõe
muito pouca lógica. Nem sequer poderiam demonstrar que estão se referindo a
acontecimentos passados (quanto menos terem vivido por essa mesma pessoa).
Porque de duas uma: ou daqueles acontecimentos passados ficam alguns vestígios
ou não ficam. Em caso positivo, antes de pensar em lembranças reencarnacionistas,
reconhecimentos traduzidos de vidas anteriores, haveria que excluir as
explicações normais e parapsicológicas. E, se não fica vestígio nenhum, qualquer
caso que se cite de “lembrança” de vidas anteriores não vale absolutamente nada
em ciência, pelo simples fato de não poder ser comprovado.
Enfm, acumular casos de prosopopéia ou dramatização tipo reencarnacionista, de
que vale, a não ser para provar a absoluta falta de metodologia científica dos
autores de tais antologias? Que volumosas coleções de casos poderiam se fazer
com prosopopéias tipo inspiração de musas, pitões, fadas ou demoníaca? E
cientista deve explicar essas prosopopéias e não só aceitá-las. A parapsicologia
teórica já comprovou que são anticientíficos e absurdos os “argumentos”
apresentados em defesa da efetiva reencarnação. Anais – janeiro - 2001.