CINCO HÁBITOS QUE PROMOVEM A CRIAÇÃO DE NEURÔNIOS
É possível regenerar os
neurônios: cinco hábitos que podem ajudar
A neurogênese não é um mito: como e em que idades acontece
Alejandro Tovar
04 Dec 2017 - 14:39BRST
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Durante décadas, foi uma verdade assumida por todos: o ser humano nasce com um
número finito de neurônios que vão se degradando e jamais são substituídos. Fim.
A vida ofertava a cada indivíduo um pacote fechado dessas células, que deviam
ser cuidadas com responsabilidade. Mas nenhuma verdade é absoluta: a ciência se
encarregou de comprovar que a geração de neurônios também é uma realidade em
outras idades e momentos do ciclo vital, não só durante a fase embrionária. É o
processo conhecido como neurogênese adulta; o cérebro fabrica novos neurônios
que completam os que cada um desenvolveu pela fusão do espermatozoide e do óvulo
dos pais. E as põe para funcionar.
Mas a mudança de paradigma não se restringe ao fato de que esta nova verdade já
esteja comprovada. Alguns estudos apontam que esses processos de neurogênese
adulta podem criar, podendo precipitar e reforçar os neurônios, que assumem uma
série de práticas relacionadas aos hábitos e às rotinas. Por mais que haja
opiniões concordantes sobre quando, por que e com que intensidade esses
processos de produção são deflagrados, dezenas de pesquisadores comprovaram que
a dieta, os exercícios físicos e até a prática de sexo permitem fomentar a neurogênese e dar uma mão para o sacrificado cérebro. Sempre diligente. Sempre
funcionando. E crucial para viver mais e melhor.
1.400 novos por dia
Este é o número quantificado por uma equipe de especialistas no Instituto Médico
Karolisnka, na Suécia, que analisou a concentração de carbono 14 no DNA dos
neurônios presentes no hipocampo de pessoas mortas. Com seu estudo, publicado
pela revista Cell, constatou-se que “os neurônios se regeneram também durante a
idade adulta e isso pode contribuir para o bom funcionamento do cérebro”.
Mas eles vão além. Os autores adiantam que esses novos neurônios podem ter um
valor fundamental para futuras pesquisas relacionadas ao tratamento de doenças
neurodegenerativas. “Conhecer essa realidade cria uma expectativa. Abre-se a
porta para desenvolver tratamentos diversos que promovam essa geração”, afirma
Pablo Irimia, neurologista da Clínica Universidade de Navarra, na Espanha.
Afirma, porém, que esses processos de neurogênese adulta têm um papel limitado,
incapaz de corrigir lesões cerebrais sérias, e que vão esgotando seu efeito com
a idade, mas que “nos dão pistas de que existe a possibilidade de induzir a
aparição de neurônios por meio de fármacos e tratamentos concretos”.
Outros especialistas restringem, porém, esses pontos intensos de neurogênese
adulta aos primeiros anos de vida, até os sete anos. Durante essa primeira
etapa, o padrão genético herdado dos pais é somado a outros neurônios que
estabelecem novas redes e circuitos simpáticos, responsáveis pela aquisição de
novas habilidades. Mas a aprendizagem permite trabalhar a plasticidade
sináptica, a conexão neuronal. E também é importante cuidar deles. O álcool e as
drogas matam os neurônios e alteram a plasticidade sináptica. E o
tabaco, a
poluição e qualquer elemento que afete negativamente o sistema nervoso. E também
a falta de exercício mental e a solidão. Por que os neurônios também morrem por
inatividade.
Mas vários estudos se encarregaram de estabelecer pautas e mecanismos para
promover a neurogênese adulta. Muitos pesquisadores tentaram determinar quais
são os processos para estimular a criação de novos neurônios. E os transformaram
em conselhos, em boas práticas para ajudar o cérebro em sua tarefa silenciosa.
Como? Aparentemente, é mais fácil do que se imagina.
5 hábitos que promovem a criação de neurônios
Sandrine Thuret, neurocientista do King’s College de Londres, é
uma das principais pesquisadores da neurogênese no mundo. Ela afirma com
contundência que o hipocampo continua gerando neurônios fundamentais para os
processos de aprendizagem e memória durante toda a vida. Thuret também aponta,
em seus estudos, que esses processos podem ser reforçados adotando-se hábitos de
vida saudáveis. E suas conclusões batem com as de outras muitas análises que
aprofundam esses temas:
1. Exercício aeróbico. Cientistas da Universidade de Jyväskylä, na
Finlândia, descobriram que é uma das técnicas mais adequadas para aumentar a
neurogênese. A corrida ou os exercícios de resistência se revelam uma prática
adequada, mas é suficiente “caminhar a bom ritmo cinco vezes por semana”,
segundo Pablo Irimia.
2. Alimentação. Apostar na dieta mediterrânea e em planos hipocalóricos
parece ser, de novo, a decisão mais acertada. Outros estudos, porém, dão um
passo além, falando dos flavonoides como alimentos que propiciam a neurogênese
adulta. Chá verde, uvas roxas e, sem dúvida,
alimentos ricos em antioxidantes devem ser incluídos na dieta habitual por seus
efeitos positivos para evitar a degeneração celular.
3. Sexo. O estudo publicado pela US National Library of Medicine
comprovou que o hipocampo produz neurônios novos quando o corpo fica exposto à
prática do sexo de forma continuada, melhorando assim a função cognitiva. Mas
avisam: “A experiência sexual repetida pode estimular a neurogênese adulta
desde que esta persista no tempo”. Cabe a cada um estabelecer os
horários.
4. Estresse e ansiedade sob controle. É também fator determinante para o
correto funcionamento do cérebro, para a manutenção da plasticidade neuronal e
para o fomento de processos de neurogênese mais relevantes. Assim, cientistas da
Universidade de Oregon apontam que a meditação, entendida como um exercício que
controla e elimina a tensão, é uma prática que desencadeia a geração de novos
neurônios em idade adulta. Em conclusão: alguns minutos
por dia para deixar a mente em branco ajudarão o cérebro tanto em curto
como em médio e longo prazos.
5. Mente sempre ativa. Trata-se, talvez, do conselho mais relevante: “A
aprendizagem gera conexões entre as diferentes regiões do cérebro e por isso é
fundamental para que este possa evitar sua deterioração”, explica o neurologista
Irimia, que acrescenta: “Não se trata unicamente de ler muito, mas também de
manter uma interação social habitual e estimular constantemente o cérebro”.
O cérebro é a cada dia um pouco menos insondável. Centenas de cientistas se
ocupam dele, lutando para desentranhar seus segredos e tentar entendê-lo para
cuidar melhor dele. Qual será o próximo mistério a desvendar, o próximo mito a
derrubar? Quem sabe? Mas o que é certo é que ainda resta muito a conhecer. E que
nossos cérebros precisam estar preparados para compreender tudo aquilo que ainda
hoje eles mesmos escondem.
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